segunda-feira, dezembro 29

Voltem para a água


Muita gente está deixando de lado o consumo de água mineral para tomar as “águas saborizadas” - famosas “H2-alguma coisa” - por acharem que elas são uma ótima pedida entre o refrigerante e a água.
Mas é um engano, pois a composição delas são muito semelhante a dos refrigerantes, mas como elas são dispostas nas prateleiras junto as águas minerais, o consumidor é levado a esse engano.
Muita gente, após os exercícios físicos, ingerem esses produtos pensando que irão se hidratar, mas isso não acontece, pois esses produtos, alem de terem sua composição parecida com os refrigerantes, só diferem por não terem açúcar e sim adoçantes, porém contém sódio assim como uma guaraná, uma Coca...
Apesar de serem doces, elas possuem aquela sabor “salgadinho” que é resultante da quantidade de sódio presente em sua composição e, como o sódio nada mais é que sal, não matam a sede e nem hidratam
Portanto podem irem parando com essa frescura e voltem para e velha, boa e menos charmosa água mineral.

terça-feira, dezembro 9

LEI 3.359/02


Recebi um e-mail com esta Lei, e achei interessante divulgar.

Lei de n° 3.359 de 07/01/02 - Depósitos Antecipados


Foi publicado no DIÁRIO OFICIAL em 09/01/02, A Lei de n° 3.359 de 07/01/02, que dispõe: Art.1° - Fica proibida a exigência de depósito de qualquer natureza, para possibilitar internação de doentes em situação de urgência e emergência, em hospitais da rede privada.'
Art 2° - Comprovada a exigência do depósito, o hospital será obrigado a devolver em dobro o valor depositado ao responsável pela internação. '

Art 3° - Ficam os hospitais da rede privada obrigados a dar possibilidade de acesso aos usuários e a afixarem em local visível a presente lei. '

Art 4° - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

segunda-feira, novembro 3

Obama


A todo momento tem alguém falando que finalmente os EUA poderão eleger um presidente negro. É verdade, mas quantos negros já foram presidente do Brasil? Nenhum!
E mesmo se já o tivesse tido não seriamos mais, ou menos racistas.
É positiva a eleição de um presidente negro? Lógico... Mas o que importa mesmo é o que ele irá fazer como mandatário de seu país. Não acredito que Obama agiria da mesma forma que Bush em relação à Carolina quando ocorreu o Katrina. Mas a maioria das pessoas também não agiriam como Bush, afinal de contas o cara tem de ser muito canalha para se igualar a esse sujeito, não que ele seja unanimidade.
Mas também não me passa pela cabeça que ele irá mudar muita coisa. Para nós brasileiros tanto faz...
Aqui no RS já tivemos um governador Negro, mas se formos ver a quantidade de eleitores negros, somente um governador é pouco. Mas também é verdade que o que importa não é a raça, o sexo, a religião etc... e sim a forma como ele irá governar, e além do mais não se deve escolher um candidato pela raça, o sexo, a religião etc..., e muito menos o eleitor negro tem a obrigação de votar em um candidato negro, ou um branco num branco, ou uma mulher em uma mulher, ou um moto-boy num moto boy e por aí vai. .
Não é pelo fato de Alceu Collares ter sido governador que o RS é mais racista ou menos racista que os demais estados, assim como não é mais machista ou menos machista por ter elegido uma mulher como governadora.
Resumindo: Podemos ser mais racistas ou não, mas isso não vai depender de quem está no comando de um governo e sim da cultura e do sentimento do povo.

segunda-feira, setembro 29

Eleições POA


Em março de 2008, postei aqui - http://blogdostanis.blogspot.com/2008/03/capital-2008.html#links - que na disputa de POA as três candidatas, pois na época não sabia que haveria uma quarta, ficariam brigando enquanto o atual prefeito correria por fora.

Muitos discordaram de minha opinião, outros concordaram e teve até gente dizendo que era uma opinião machista.

Bom... A menos que as pesquisas estejam apontando no rumo errado - e tomara que estejam - eu estava certo. Infelizmente.

quinta-feira, setembro 25

Érica


Vinte e doze. Estou adiantado. Melhor assim.
Nunca tinha estado neste lado da cidade. Pensei que seria bem tranqüilo, mas que nada. Só para achar uma vaga para estacionar levei mais de dez minutos – imagina se não venho adiantado! -. Não queria estar ali!
Abro a carteira e releio o pequeno pedaço de papel com a miúda e redonda letra de Érica – Porque será que a letra de mulher é sempre redondinha? Ou será que não é? -. Ah! Porque fui inventar esse encontro?
Depois de ler, olho para o outro lado da rua e vejo um letreiro quase que totalmente apagado. O nome do estabelecimento bate com o do papel: Bastilha. O número também confere.
Aquele medo que o nome do restaurante me provocou quando o li pela primeira vez, aumentou ao ver a fachada. Deve haver um engano! Érica é a última pessoa que combinaria com aquela espelunca. Não que ela fosse algo espetacular. A bem da verdade ela é bem insossa e eu sinto que a odeio, mesmo sem ela ter dado motivo para isso, mas mesmo assim a convidei para sair quando estávamos no jantar na casa de Jorge, apenas para puxar papo. Não sabia o que falar para aquela sonsa e depois, tinha certeza que ela não concordaria. Como poderia imaginar que uma mulher calada e recatada como ela aceitaria sair com alguém que ela mal conhecia. Trabalhamos no mesmo escritório, mas nunca havíamos trocado uma olá qualquer.
Resolvo encarar. Atravesso a rua como quem vai para uma zona que me era proibida.
Olho novamente a placa. Não adianta é aqui mesmo! Dou uma olhada em torno. Mesas e cadeiras de plástico com logomarcas de cervejas e baners com mulheres gostosas a oferecer cerveja é o luxo da casa.
Desvio de um cão sarnento que ronda por baixo das mesas em busca de alguma migalha caída dos lanches servidos por um neurótico garçom e abro a porta de vidro escuro.
Tirando o insalubre bafo de álcool e cigarro que me recebe logo ao entrar, o interior tem uma melhor apresentação. Nenhum luxo é verdade, mas pelo menos as mesas não são de plástico e são guarnecidas com toalhas de um liláz que em nada combina com o azul das paredes.
O local está lotado. Vejo dois bancos altos e vazios em frente a um balcão de fórmica amarela que combina menos ainda com o resto do ambiente. Sento em um deles e puxo o outro para perto para guardar para a chegada de Érica. Fico torcendo para que ela não venha.
Novamente fico basbaque: Isso aqui não combina com Érica em nada. Nem comigo combina. Vou esperar um pouco e me vou, depois invento uma desculpa. Isso se ela não tiver desistido.
Érica é a secretária lá do escritório. Deve ter uns 32 ou 33. Veste-se sempre com uns terninhos de cor sóbria – o que dificulta e muito para se ter uma idéia de como será seu corpo sem eles - e sapatos pretos de salto alto. Às vezes usa brincos discretos e uma maquilagem mais ainda. O cabelo negro está sempre preso no alto da cabeça.
Peço uma cerveja para a menina que está do outro lado do balcão. Não estava muito a fim de beber, mas não iria ficar segurando os dois únicos bancos vazios e não gastar nada. Tomo um longo gole. Finalmente encontro algo de positivo naquela casa: Eles sabem como gelar uma cerveja. Mudo de idéia: estou a fim de beber.
Dou mais uns goles e fico de costas para o balcão. Olho no display do celular: 20:28h. Marcamos para as 20:30, ela já deve estar chegando meu Deus!
Fiquei observando a movimentação no salão. A impressão que tive é que aquelas pessoas todas deviam estar ali o tempo todo. Elas combinavam com as paredes, as toalhas e com o balcão que a impressão era que com nada deste mundo combinava. Minha investigação saiu do salão para a rua. Apesar do vidro ser escuro dava para ver tudo o que ocorria lá fora.
Naquele exato momento parou uma moto entre dois carros que ali estavam estacionados e desceu uma beldade de capacete rosa, camiseta da mesma cor e um short de brim azul. O que me chamou a atenção era as botas pretas que não combinavam com o restante da roupa. Aliás, um pequenino short também não combina com uma moto. Eu estava mais acostumado com calças e jaquetas de couro preto. Será que a regra sobre combinação aqui por essas bandas é não combinar nada mesmo?
Tirou o capacete e só então percebi que ela tinha uma mochila – e essa sim combinava com o short – atravessada às costas. Com um movimento rápido tirou a mochila e colocou-a sobre o banco da moto. Guardou o capacete na mochila e tirou de lá um par de sandálias pretas que as colocou ao lado da mochila.
Acionou o alarme e soltou os negros cabelos que caíram sobre os ombros.
Como se estivesse em casa, tirou as botas e trocou pelas sandálias ali mesmo na calçada em meio às mesas de plástico. Guardou as botas junto com o capacete na mochila e a repôs às costas.
Antes de entrar no bar, apertou mãos, deu abraços e beijos em quase todo mundo. Percebi que um rapaz com pinta de surfista fora de forma recebeu um rápido beijo nos lábios. Empurrou a porta e tão logo ela entrou vi que era muito bonita e do tipo que se chama: gostosa.
Caminhou decidida por entre as mesas. Ela sem dúvida pertencia àquele ambiente. Vez por outra parava para distribuir beijos e abraços. Além do surfista fora de forma, um rapaz sardento e uma garota com óculos fundo de garrafão também receberam os seus selinhos.
Veio em direção ao balcão...
_Oi Marcelo... Estou atrasada? Perguntou no mesmo momento em que passava o braço por cima de meus ombros e me deu um beijo na bochecha. Com a mesma agilidade de antes, atirou a mochila para a menina atrás do balcão e ao mesmo tempo, pulou para o banco em minha frente e pediu: Vodca e limão.
_Ah?... Não... Chegou bem na hora. Fiquei quase sem voz, aquela gostosa de short e sandálias pretas era Érica. Não aquela Érica secretária lá do escritório, que deve ter uns 32 ou 33 e veste-se sempre com uns terninhos de cor sóbria que dificulta e muito a percepção de como é seu corpo. Não a Érica de sapatos pretos de salto alto com seus brincos discretos e uma maquilagem mais ainda. Não a de cabelo negro preso no alto da cabeça, mas uma nova, fascinante e desconhecida Érica de camiseta rosa e short de brim azul. Uma gostosa Érica que aparentava 22 ou 23 e que tirava as botas e calçava sandálias no meio do passeio como se estivesse na intimidade de seu lar.
_O que foi Marcelo? Ela me perguntou como se eu a visse todos os dias naqueles trajes. Falei que não era nada, mas ela logo notou. Ah! Já sei... Tu esperavas que eu viesse com as mesmas roupas que uso no trabalho né? - Protestei. Não...Não... Mas não adiantava, do jeito que eu estava vestido... Apenas não estava de gravata, mas de resto minhas roupas em nada diferenciava com as que uso no trabalho.
_É verdade Érica! Desculpa-me, não me leve a mal! Falei que não havia imaginado que ela viesse com uma roupa muito diferente da usada no dia a dia. “Veja eu mesmo vim social, pensei que se eu viesse com uma roupa mais informal, como costumo me vestir no dia a dia, tu poderias ficar meio sem graça”- menti.
_De jeito nenhum! Mas se tu preferes eu moro aqui perto, vou lá e coloco algo mais social! Não! Respondi prontamente. Prefiro você assim – falei a verdade -. Ela soltou uma gostosa risada e eu senti todo o sangue de meu corpo subir para meu rosto. Virei para a menina atrás do balcão e pedi mais uma cerveja a guisa de não deixar Érica perceber o meu rubor. A menina protestou dizendo que minha garrafa estava pela metade. Sem jeito menti que estava quente. Sem entender nada ela retirou a cerveja gelada e trouxe outra também gelada. Enchi o copo e dei um longo gole.
_Agora sim está gelada! Érica propôs um brinde. Brindamos “à noite”. Tirei o terno e abri dois botões da camisa. Não era o suficiente, ainda parecia o mesmo colega de trabalho. Desabotoei os punhos das mangas e as puxei até a altura do antebraço.
_Legal o lugar! - menti - Não conhecia, mas... Comecei um papo qualquer para quebrar o gelo. Na verdade esse gelo só fazia efeito a mim, Érica estava completamente à vontade. “Espera um pouquinho!” Ela me pediu enquanto dava a volta no balcão. Ergueu a mão e bateu com um carinhoso tapa na palma da mão da menina atrás do balcão. Abriu a torneira de uma pia que ficava por baixo do tampo do balcão e voltou. Parou em minha frente e com ambas mãos molhadas desfez meu comportado penteado e me deixou com aparência de personagem de desenho animado japonês. “Agora sim tu ta legal!” Me falou enquanto voltava ao banco.
A partir dali a noite mudou completamente. Tomamos todas e estouramos em furiosas risadas. Em pouco tempo gastei meu repertório de piadas que eu julgava serem muito sujas, mas que transformaram-se em piadinhas engraçadinhas diante das piadas que Érica contava.
A cerveja me obrigava ir ao banheiro vez que outra. Sempre que eu voltava, alguém estava conversando com ela. “Fulano esse é Marcelo. Marcelo esse é fulano”, ela nos apresentava e o fulano da vez ia de volta para sua mesa e nos deixava sozinhos com nossas piadas, gargalhadas e cervejas. Ela agora tomava cerveja, não sei se para acompanhar-me ou era como ela mesma disse: “Começo com algo mais forte, se não a tonturinha demora a bater”.
Uma mesa vagou. Fomos para ela. Cansada de piadas Érica perguntou sobre mim. Falei pouco, pois não tinha muito que falar. Estudei em escola particular, fui para o exército onde fiquei um ano, fiz administração, casei e me separei. “E tu?” Perguntei.
_Nada demais... Quase a mesma coisa! Estudei, fiz umas poucas viagens a Europa, fiz língua estrangeira, especializei-me em inglês e francês e me casei e me separei três vezes.
_Ah! Para! Três vezes? Pensei na Érica do escritório, aquela poderia ter casado e se separado três vezes, mas essa garotinha a minha frente... “Fico lisonjeada” ela disse, “mas tenho 27!” Falou vinte e sete como se fosse óbvio que alguém com essa idade já tivesse passado por três casamentos.
Bebemos mais algumas até o momento em que ela me calou com um longo e lascivo beijo. O chão fugiu-me dos pés. Esqueci minha timidez e saboreei aquele beijo que deve ter durado horas – em minha cabeça é claro, pois foi de poucos segundos -.
Quando nossos lábios se desgrudaram ela me olhou com aquela cara que queria dizer: “Tá e aí?”. A princípio fiquei meio sem jeito. Olhei para os lados e vi que ninguém estava se importando se nós havíamos se beijado ou não. A lembrança de seus lábios me queimavam, a puxei-a de encontro a mim e a beijei-a - ou fui beijado, não sei -.
Ela pediu a conta e dividiu o valor em dois, mesmo com meus protestos. Pegou a mochila dizendo para a menina que estava atrás do balcão que eu era Marcelo, "gente dela". Fiquei feliz em ser, mesmo não sabendo o que isso significava.
Não queria que ela fosse embora, mas estava meio confuso. A segui até a rua. Chegamos em frente à moto dela e ela me perguntou: “Vai me seguindo no seu carro ou vai na garupa?”. Vi que era observado pelo pessoal que estavam nas mesas da rua, não poderia deixar eles pensarem que eu estava dispensando tal mulherão. Puxei o ar com força para meus pulmões e dei coragem as minhas palavras que estavam tentando dizer que eu tinha um medo incrível de moto.
_Vou contigo!. Ela repetiu o movimento inverso que eu havia visto antes, tirou a sandália e colocou as botas e recolocou o capacete. Se a gente cair tu ta ferrado, não tenho capacete pra ti, falou-me enquanto subia naquela maquina de morrer.
Deu ignição e eu subi na carona. Só então me senti ridículo. Em minha cabeça masculina estava acostumado a ver mulheres irem na garupa e não ao contrário, mas no momento que meu peito colou nas costas dela- mesmo havendo entre nós uma mochila com as sandálias- me senti recompensado.
Ela acelerou umas duas ou três vezes como todo motoqueiro faz antes de arrancar, não sei se isso é ensinado em moto-escola ou vem por osmose e virou para trás perguntando: “Quer ir a um motel ou vamos lá para casa?” Não sei o que respondi só sei que acordei num quarto de motel.
A noite maravilhosa me veio à mente no primeiro momento que abri os olhos. Meu braço a buscou. Não tinha ninguém. Pensei em ligar para Érica, mas não tinha o seu número. Tomei um banho e dirigi-me a portaria para pagar o pernoite.
_ A senhora já deixou pago! Respondeu-me uma pessoa que mesmo não vendo, eu podia ver um sorriso na cara que não via.
Caminhei até o local onde havia deixado meu carro e não fiquei nenhum pouco surpreso ao perceber que o haviam roubado. Não fiquei brabo como normalmente ficaria pois, a única cisa que ocupava minha cabeça era a lembrança de Érica e nossa primeira noite! Fui para casa de taxi planejando milhões de outras noites loucas com Érica..
Segunda-feira, cheguei no escritório cedo e fiquei com o coração na mão esperando ver Érica. Não demorou muito e ela chegou com os seus 32 ou 33 anos, de terninho de cor sóbria e sapatos pretos de salto alto, sem brincos e sem maquilagem com o cabelo preso no alto da cabeça e uma prancheta na mão dizendo: “O Senhor Jorge está esperando o senhor para uma reunião na Sala da Diretoria.” Virou-se e voltou a sua mesa de secretária.
Naquele momento passei novamente a achá-la insossa e a odiá-la cada vez mais.

sexta-feira, agosto 29

Sonho de Guri


Pode parecer bobagem para a gurizada de hoje, mas quando eu era guri, o meu sonho era ter uma TV. Com o tempo tive outro sonho: Era ter um escafandro.
Quando eu era guri a minha visinha tinha uma TV. Luxo na época. Só pessoas muito ricas tinham TV’s – ou melhor TV, duas era uma afronta -. Por sorte, D.Evita era muito legal, e por não ter tido filhos, convidava toda a gurizada da rua para ver Rin-Tin-Tin, Perdidos no Espaço e outras maravilhas da época.
Eu logo percebi, que não existindo nada melhor que TV, deveria subornar D.Evita e ficava sempre de prontidão para todos os pequenos trabalhos que ela precisava. Ia fazer compras para ela, cuidava do jardim que era seu “xodó” e outras “coisitas” mais.
Em pouco tempo fui permitido e assistir TV três dias por semana na casa de D.Evita. Terça, quarta e quinta. Mas quarta era o melhor de tudo. Passava “Viagem ao fundo do mar” e eu sonhava em viajar no Sea-View que na época nós garotos chamávamos de civil.
Um dia, um personagem evadiu-se do submarino e andou de pé no fundo do mar com uma roupa estranha. Um macacão, botas de solas enormes, um cinturão cheio de barras de chumbo para mantê-lo no fundo e um capacete em forma de bolha de metal com três escotilhas, duas laterais e uma à frente do rosto. Todas com uma gradezinha de ferro.
Naquele exato momento soube: Meu sonho é caminhar no fundo do mar com um escafandro.
Quis fazer parte do clube de regata da cidade, nada tinha nada haver com escafrandro, mas tinha o contato com a água. Meu pai achou perigoso. Não fui!
Quando comecei a trabalhar quis fazer natação, meu pai morreu e meu salário ficou direcionado ao sustento dos estudo de meus irmãos menores.
Cresci! Venci! Mas nunca caminhei no fundo do mar com um escafandro. Nunca fiz sequer hidroginástica ou uma apnéia.
Montei uma loja de materiais esportivos, mas nada que pude-se lembrar um passeio no fundo do mar.
Casei. Tive três filhos. Sou avô prematuro e não fiz nada do que sonhei em minha juventude.
Agora, depois de ser avô e meus três filhos casarem-se, minha mulher sumiu. Não reclamo por isso. Se tivesse coragem eu mesmo faria isso.
Depois de muitas viagens pelo google, comprei um escafandro e o coloquei no porta-malas.
Tomado de uma coragem não sei de onde, avisei meus filhos: Fiquem com a loja, vou viajar e viver tudo o que não vivi em toda a minha vida!
Protestaram. Não dei ouvidos.
Acham que fui errado? Dias antes, providenciei a passagem de minhas lojas para meus filhos. Eles não sabiam. Eu apenas queria caminhar no fundo do mar com um escafandro, depois disso...
Peguei meu carro e meu escafandro e parti. Não sabia nem para onde, apenas sabia que queria ir para onde havia mar. O meu objetivo era mergulhar com um escafandro, aquilo era o meu sonho.
Quando meus olhos começaram a cansar, parei em um hotel a beira mar para dormir, mas a alegria contagiante do barzinho em frete ao hotel seduziram-me.
Se você teve saco de ler até aqui, sabe que sou um cara muito careta, daqueles que só assistem TV e acham tudo chato. Sei! Eu era assim! Mas agora queria mudar.
Tomei todas e me fiz de garotão. Dei em cima das menininhas e algumas até responderam ao meu chamado – Claro que não por minha aparência, mas sim pela quantidade de dinheiro que minha aparência aparentava -. Fiquei bêbado logo! Não estava acostumado a beber.
Levei duas para o quarto.
Não lembro o que aconteceu, só sei que agora estou dentro do porta-malas do meu carro com as mãos amarradas e não sei o que vai acontecer!
Mas se jogarem o carro na água, aqui ao meu lado esta o meu escafandro.
Sonho de guri é batata!...

quinta-feira, agosto 14


Não vi a abertura dos jogos de Pequim.
Aliás...Não lembro de ter visto a abertura dos outros jogos também.
Sei!... Sou um chato! Mas prefiro ser um chato, que fazer coisas que vão me chatear. Não que não seja bonito, mas não me importo muito com isso – claro, sou chato! -.
Pelo que me disseram Pequim matou a pau. Homem voando e coisa e tal- se a curiosidade apertar, sempre tem o youtube.
Mas vi com curiosidade e um pouco de irritação algumas matérias feitas sobre a china durante os jogos.
Por exemplo: o Túlio Millmamm na globo dizendo que os artistas plásticos chineses não podiam se expressar contra o sistema e ao mesmo tempo mostrando obras dos mesmos criticando o sistema em uma mostra feita pelo governo chinês.
Ou um outro cara no SBT mostrando o absurdo de haver desemprego em uma aldeia próxima ao Himalaia, como se o desemprego fosse um fenômeno que só ocorre na China.
Ou o “careca” ex-cultura agora Band dizer que os policiais não deixavam eles filmar nada ao mesmo tempo em que estavam filmando tudo e havia um policial chinês no fundo olhando para tudo, menos para sua careca e sua equipe.
Alguém precisa falar para a imprensa brasileira que a guerra fria acabou.

quarta-feira, agosto 13

O VISITANTE

Ninguém mais sabe o que é um cântaro, mas era assim que estava chovendo. O ônibus parou como sempre parava e Lucia apeou. Não com a mesma desenvoltura com que costumava descer na época em que as pessoas sabiam o que era “chover a cântaros”, desceu com um certo cuidado, agora havia um pouco o peso da idade e não era mais a mesma mocinha e além do mais havia a chuva. Calçada molhada é um convite a fraturas no cóccix.
Droga... Deveria ter pegado a sombrinha antes de descer pensou Lucia. Correu para baixo de uma marquise. Puxou a gola do casaco ao encontro das orelhas para melhor se proteger.
Poderia abrir a porta de metal envidraçada que estava a sua frente, mas não o fez. Olhou o outro lado da rua pela imagem embaçada no vidro da porta e viu que o “Sérgius” estava aberto. Pensou em dar uma rápida passadinha lá para tomar algo para esquentar o corpo, afinal havia molhado-se ao descer do ônibus.
Virou-se decidida e rumou para o bar. Não olhou para os lados, não queria ser vista entrando num bar as 23:30h pelos vizinhos. Sabia que o fato de olhar para frente não impediria de ser vista, mas aquilo lhe dava alguma segurança.
Pensou em parar em frente à porta do “Sérgius” e ponderar se deveria entrar ou não, mas não o fez.
Tão logo entrou, sentiu um calor familiar vir ao seu encontro, só então percebeu o quanto estava frio lá fora.
Tentou tirar o peso da água que escorria e tornava pesado seu leve casaco. Viu ao fundo uma mão acenar, fez de conta que não viu, não queria conversar com ninguém e além do mais detestava essas pessoas que freqüentam bares. São pessoas fúteis, pessoas de vida sofrida e que aborrecem os outros com suas histórias e, aquela mania que elas tem de achar que só elas tem uma história triste a aborrecia.
Sentou-se num familiar banco alto e desconfortável em frente ao balcão. Não vou demorar muito – resolveu.
_Oi D. Lucia. Como vai? Vai querer o que?- O sujeito não era idiota, ele falava aquilo sempre só para começar a conversa, idiota era a pergunta, pois ele sabia o que ela queria.
_Acho que fiquei sem cigarro... Dê-me um maço, por favor.- Sérgio fez como sempre fazia havia dois anos e alguns meses. Entregou o cigarro e ficou esperando o próximo pedido. Pedido que ele já sabia qual seria, mas não ousava sugerir sem antes esperar uma deixa.
Lucia olhou de soslaio para a prateleira um pouco acima a sua direita. Viu o que realmente queria e falou que havia molhado-se e poderia ficar resfriada.
_Quem sabe à senhora não toma alguma coisa para esquentar-se antes de recolher-se?
_É... Acho que seria bom... Dê-me um gim com tônica.- falou aquela frase como se fosse a primeira vez em dois anos e alguns meses.
_Tó!- Idiota, porque falar “tó” em vez de “aqui está”?
_ Obrigado Sérgio, vou tomar este e cair na cama que amanhã tenho muito o que fazer na repartição.- pegou o copo com uma certa aflição. Sabia que deveria tão logo terminar aquele drinck ir direto para casa e dormir.

* * *

Sérgio deu as costas para Lucia e foi cuidar de seus afazeres, um dono de bar não pode dar dedicação exclusiva a um só cliente, ele aprendera com seu falecido pai que ser dono de boteco é algo mais. “Um dono de bar é como um pastor para as suas ovelhas” vaticinava o falecido pai. É verdade que o pai falava em pastor no sentido religioso, ele não, o casamento com Belmira o ensinou a não brincar com coisas de religião, ele preferia usar o termo como o de um pastor cuidando no campo de animais. Sim! Muitos daqueles pobres animais precisavam de amparo e, ele não se furtava a essa obrigação e só por isso não se sentia culpado em fornecer bebidas aqueles pobres e carentes animais.
Lucia bebeu vagarosamente seu gim tônica. O primeiro era sempre mais demorado. Conferiu no display do celular – 00:02h -, já era muito tarde, teria de ir embora.
_ A conta, por favor. – Sérgio abandonou os conselhos que dava a um cliente de sempre e foi ter com ela. Deu o valor da despesa e como de praxe ofereceu: _Mais um?
_É... Acho que mais um não seria demais! – E assim ficaram como sempre ficavam até o momento em que as pálpebras de Lucia começaram a pesar e a visão ia acompanhando o peso do sono.
Pagou e saiu tesa para não dar na vista que as pernas já não eram dominadas somente por ela. Abriu a porta e novamente percebeu que lá na rua estava frio.
Parou perto ao meio-fio. Já não chovia. Divisou a porta de seu prédio no outro lado da rua e foi em passos firmes – ao menos assim ela imaginava.
Parou em frente à porta e procurou na bolsa as chaves. – Porque as mulheres são tão idiotas e sempre carregam tantas coisas na bolsa – praguejou em meio à vã tentativa de achar as chaves. Passaram alguns segundos e nada de as encontrar. Não havia jeito, teria de emborcar o conteúdo da bolsa na soleira da porta para poder encontra-las.
Fez! Nada! Nem sinal das chaves. Tornou a recolocar aquele infindável conteúdo na bolsa. Pendurou-a no ombro e escondeu as mãos do frio nos bolsos do casaco. Os interiores dos bolsos eram confortavelmente aquecidos, mas o da direita havia algo duro e frio. Eram as chaves, só então lembrou que havia separado-as ainda no ônibus para não ter o trabalho de procura-las ao chegar em casa.
Não foi muito penoso encontrar o buraco da fechadura. Girou as chaves no sentido horário, enquanto olhava pelo espelho embaçado do vidro da porta se alguém a observava. Ninguém! Ainda bem, ela sabia que havia bebido mais da conta como normalmente fazia há dois anos e alguns meses.
Não pegou o elevador e foi pelas escadas. Pela manhã ela sempre usava o elevador, mas a noite sentia um certo enjôo. Sabia que era o efeito do gim, mas não aceitava o que sabia. Era só dois andares, mas era terrível. – Esses malditos arquitetos fazem escadas fora de padrão. – cada degrau tinha uma altura diferente e o pior é que amanhã essas alturas mudam novamente.
Abriu a porta de seu apartamento. Entrou na ponta dos pés para não fazer barulho. Tateou a parede e encontrou o interruptor. CLIC!...
Não adiantou o cuidado para não fazer barulho, lá estava Osvaldo sentado no sofá de sempre olhando ela chegar.
Procurou não olha-lo ou pelo menos não olhar em seus olhos baços. Ela não suportava aquilo. Fechou a porta e largou a bolsa sobre o outro sofá. Com a ponta do sapato esquerdo descalçou o direito e após fez o mesmo com o outro pé. As chaves caíram com um ruído metálico sobre a mesa de centro, mas Osvaldo continuou ali a fitá-la como sempre fazia quando ela retornava da repartição altas horas da noite sob o efeito do álcool.
Não falou nada e foi para o dormitório apagando a luz da sala. Bateu a porta e acendeu a luz. Estava cansada, não sabia se mais pelo dia de trabalho ou pelo gim.
A cama já estava pronta. Deixava a cama sempre pronta antes de sair para o trabalho, pois sabia o quanto era penoso arruma-la à noite naquele estado.
Às vezes ela antes de deitar fazia aquelas promessas de no outro dia voltar cedo para casa e não beber, mas fazia tempo que havia desistido, pois sabia que era em vão. Ela não teria coragem de voltar para casa cedo e “de cara” enfrentar o olhar triste de Osvaldo.
Abriu o guarda-roupas e tirou o pijama. Olhou-se no espelho interno da porta do móvel e viu uma mulher que chegava aos cinqüenta e ainda guardava um pouco da beleza de tempos atrás. O cabelo estava um pouco molhado e dava um tom um pouco sensual ao seu rosto. Resolveu não seca-lo. Tirou o casaco e o vestido, ficou de lingerie. Olhou-se. Tirou o resto da roupa e ficou a olhar-se no espelho.
_Posso não ser uma menina, mas aposto que muito homem ainda me deseja. – Fez uma pose que ela lembrou de ter visto em uma revista masculina. Achou-se sexy. Virou-se um pouco de lado para fazer outra pose e viu Osvaldo a olha-la parado em frente à porta do dormitório.
_Sai! – gritou ao mesmo tempo em que colocava rapidamente o pijama. Osvaldo continuava impassível.
Vestiu-se e pulou na cama. Apagou a luz e cobriu-se até a cabeça. Ficou imóvel por um longo tempo. Aos poucos foi frouxando a musculatura e virou-se de bruços. – como ela gostava de dormir.
Tentou pegar no sono, mas logo sentiu, não um toque, mas uma sensação que seus cabelos estavam sendo acariciados. Um frio correu-lhe pela espinha e fez ela pular de sua posição para a posição sentada. Deu um grito que na certa acordou alguns visinhos que nem sequer deram atenção, já acostumados que estavam com ela. Acendeu a luz...
_Osvaldo – falou para um pálido e triste Osvaldo que estava estaqueado em sua frente com a mão suspensa – eu já lhe falei um monte de vezes, você não pode mais vir aqui. – Osvaldo a ouvia petrificado assim como os seus olhos também estavam.
_Isso não é certo! Vá embora! Me deixe! Você não vê que isso não é normal? – e virou-se de bruços novamente.
Lucia espichou o braço, mesmo sem olhar - pois seus olhos estavam fechados de uma forma que até causavam dor – e apagou a luz.
Vá embora pelo amor de Deus! – e apertou os olhos mais ainda e começou a contar lentamente...
_Um...dois...três... – e foi até o dez, cada vez mais lento até adormecer.

* * *

07:00h.
Lucia acorda. Sente um amargo na língua e no céu da boca. Está desperta, mas parece que o corpo nada dormiu.
Lembra de Osvaldo e pula para fora da cama. Não precisa acender a luz, pois a claridade já invade seu apartamento – sempre depois da chuva vem um dia de sol – e olha para todos os lados a procura do falecido marido.
Nada! Mais um dia que Lucia ficará na dúvida se as visitas de Osvaldo é fruto do álcool ou realmente ele sempre a espera chegar em casa desde o trágico dia em que ele foi fatalmente atropelado.
Stanis Fialho, 10.06.2007

domingo, junho 22

ESPIRAL


Santiago dá um pulo. Não tão alto como o grito que seus trêmulos lábios regurgitam, mas é um pulo suficiente para assustar alguém, se houvesse alguém em seu quarto àquela hora, o que seria improvável, pois desde que Celeste o abandonou há três anos, mais ninguém a não ser o próprio Santiago, transpôs a porta principal daquele apartamento.
A cabeça lateja, dói muito. Onde estou? , é a primeira pergunta que vem a cabeça dolorida do assustado e confuso Santiago. Um abajur com motivos japoneses e a cortina improvisada com uma velha manta azul marinho o reconduz a realidade. Está em seu quarto, em sua cama. Tudo fica familiar, menos o suor no corpo e nos lençóis.
O suor escorre pelo rosto assustado de Santiago. O colarinho do surrado pijama está colado ao pescoço. Gotas de suor percorrem suas costas como se fossem pequeninos insetos fugindo em direção ao encharcado lençol.
É julho. O inverno este ano está rigoroso. Ele não deveria estar suando daquela maneira. Mas também com um sonho tão real como aquele... Santiago sentia ainda um pouco de sono, o dia fora cansativo, mas não tinha coragem de voltar a dormir – vai que o pesadelo volte! Pensou Santiago - . Dali a pouco começará a amanhecer. O melhor que pode fazer é tomar uma ducha e um bom café preto com torradas.
Jogou as pesadas cobertas no chão. Ele parecia uma criança mijada com as calças do pijama ensopadas. Um banho...Preciso de um banho!
Entrou no banheiro e foi logo abrindo o chuveiro. Jogou o pijama molhado em um canto e ficou por um longo e reconfortante tempo recebendo a água quente na nuca. Aos poucos a dor de cabeça o deixou.
Está de olhos fechados, mas mesmo no negror das pálpebras cerradas, ele percebe – ou imagina perceber – uma sombra passar pelos peixinhos azuis estampados na cortina plástica do box.
Sem pensar em nada, apenas agindo com o mais primitivo dos instintos humanos, ele abre a cortina e prepara-se para o embate.
Não fosse pelo vapor produzido pela água quente e de seu próprio reflexo no embaçado espelho sobre a pia, ele estava só. Bobagem... Não foi nada, apenas manifestações dos nervos que ainda estavam chocados com o sonho que o acordara no meio da noite.
Sons estranhos vindos do interior de seu abdômen o lembram daquele café preto com torradas. Enxuga-se com a áspera e fedorenta toalha floreada. Enrola-se com a mesma e sai pelo corredor a tempo de ver um vulto movimentar-se do corredor para a sala. Estaca. Quem será?
Procura ao seu redor algo com que possa se armar. Nada! Afinal está no corredor! Volta para o banheiro. Olha em torno e... nada. Em um banheiro não há nada que possa meter medo em um intruso no meio da noite.
Arma-se com o que lhe resta: a coragem – talvez apenas a necessidade – e vai em frente. Avança com o corpo colado a fria parede. Nem de calças está. Se cair a toalha... Aquela não era hora para pudores, mas também não era o pudor que o afligia. É que sem dúvida, seria bastante vexatório se engalfinhar com quem quer que seja estando nu.
Tentou dar um nó na toalha na linha da cintura. Sem jeito. A gordura estava bem localizada justamente na cintura. Pela primeira vez deu importância a um regime.
Sem pensar em mais nada pulou como um cão raivoso no meio da sala pronto para o embate. Ele – o intruso - por certo sairia correndo ao ser surpreendido e não haveria a necessidade de uma luta. O que seria muito bem, ainda mais agora que ele finalmente dera-se conta que estava completamente fora de forma.
Ao perceber que estava só não conteve uma gargalhada. Sentiu-se bobo ao ver-se refletido no vidro da porta de correr que dava para a sacada. Parecia um obeso havaiano com aquela floreada toalha amarrada a enorme cintura.
Já tinha idade suficiente para saber que a mente costumava pregar peças quando assustada ou confusa. O que ele viu, ou pensou ter visto não era nada. Talvez o efeito do farol de algum automóvel que tenha passado lá embaixo. Ele estava no segundo andar, bem que poderia ser, ou talvez a confusa imaginação.
Já estava solucionado o problema, quando ouviu o barulho que veio lá da despensa. Um baque surdo. Algo havia caído no chão, ele soube não só pelo barulho mas também pelo pequeno tremor provocado no piso.
Veio-lhe então novamente a cabeça o tal vulto que ele agora começava a acreditar realmente não ter visto. Terá alguém na despensa. Só há uma forma de saber. Mas desta vez não iria assim tão desprotegido. Correu até a cozinha a abriu a gaveta do balcão da pia. Havia inúmeras facas ali. A de serrinha não pareceu ser a adequada. A espátula nem pensar. Sim! Essa... A faca de churrasco é ideal. Afinal para que serve uma faca de churrasco? Cortar carne! E se estiver acontecendo o que ele temia que estivesse acontecendo...
Voltou na ponta dos pés para não fazer barulho. Bobagem! Pensou: Depois do pulo do obeso havaiano não tenho mais a vantagem da surpresa. Ao pensar no havaiano, lembrou da toalha. – Desta vez enfrentaria o perigo com mais dignidade – Correu ao closet e colocou a primeira calça que encontrou. Pronto, agora sim não era mais um havaiano obeso. Sentia-se mais como um samurai com aquela enorme faca nas mãos. Um samurai gordo, mas um samurai!
Voltou a postar-se frente à porta da despensa. Foi uma mão trêmula que tocou na maçaneta.
No exato momento em que ia abrir a porta, ouviu aquele barulho. Deu um grito junto a um pulo e o coração saltou fora do peito, assim como a faca saltou-lhe da mão, deu dois giros no ar e caiu no chão fazendo grande estardalhaço, mas não sem antes deslizar o afiado metal nas costas da mão de Santiago.
Novamente o barulho. Era a campainha. Quem poderia ser àquela hora?
Finalmente Santiago percebeu que havia cortado a mão. A faca estava no chão com um filete de sangue na lâmina. Um quente pingo vermelho e redondo caiu sobre a unha do dedão. Outro... Agora no piso. E lá vieram outros. Santiago ficou espantado com a quantidade de sangue que saia de tão pequeno ferimento. A campainha insistia. Santiago correu novamente para a cozinha e enrolou o pano da louça a mão ferida – será que a gordura centenária depositada no pano não prejudicaria o ferimento? – perguntou-se. A campainha insistia.
Mas era para sorte de Santiago alguém tocar sua campainha àquela hora, afinal, até que provem o contrário tem alguém que não foi convidado, dentro de sua despensa. Com mais alguém, poderia ser mais seguro enfrentar a situação. Santiago não era de flertar com o perigo.
Abriu a porta. Do outro lado estavam dois homens de ternos. Disseram o nome de Santiago e foram logo entrando e anunciando-se como sendo da polícia.
Santiago ficou aliviado. Era tudo o que precisava. Dois policiais para lhe ajudar com o intruso. Só um deles usava gravata e isto deu a Santiago a certeza que era aquele que mandava. As gravatas servem para isso. Para dar distinção as pessoas, pelo menos era isso que ele pensava. Os olhos profissionais do homem de gravata localizaram em um instante a faca no chão. O pano enrolado a mão que rapidamente ficava vermelho, até o outro homem que não portava sinais de sagacidade já havia notado.
_Machucou-se, Sr Santiago? Perguntou o primeiro, colocando-se bem próximo a Santiago, como se quisesse certificar-se que ele não faria nenhum movimento indesejado.
Santiago respondeu prontamente que sim, a faca de churrasco havia caído de sua mão e ferira a outra, mas era providencial a chegada deles...
_Por que Sr. Santiago?Seria algo sobre sua esposa?- Santiago não entendeu, o homem que ele julgava ser o chefe, falava coisas sobre o desaparecimento de Celeste, sua cabeça voltou a doer. Mas como assim desaparecimento? Celeste havia desaparecido? Quando? Faziam mais de três anos que não a via...A dor aumentava.
_Deixe de tolices homem, se ela foi vista com o senhor há três dias...
– Não!. Aquele policial devia estar maluco, pensou Santiago mais confuso ainda. E aquela faca? O policial quis saber o que Santiago fazia com a faca. O intruso na área de serviço veio à memória de Santiago em meio aquela loucura toda, ele até havia esquecido. Foi em meio a gaguejadas que ele relatou sobre o intruso. Mas agora – afirmava – que vocês estão aqui, podemos pegá-lo.
Santiago abaixou para pegar à faca. Mesmo com os policiais ali, não iria abrir a porta de despensa sem uma arma. Foi seguro por duas mãos fortes e advertido para não tocar na faca. Sem entender e lutando contra a dor de cabeça quis explicar que era para revistarem a despensa. Já havia perdido muito tempo, o intruso poderia muito bem ter pulado pela janela, afinal quando se quer fugir de alguém o pulo de um segundo andar não é algo assim tão espetacular.
Seu braço foi torcido para as costas. O homem sem gravata estava com uma pistola na mão. Sentiu que seus pulsos foram presos com algemas. Foi jogado, sentado a um sofá que ficava de frente para a despensa. Tentou protestar, mas as palavras e o tom de voz do homem da gravata o intimidaram.
_Fique quieto senhor Santiago – disse o homem com um dedo apontado para o nariz de Santiago como se fosse uma arma pronta para o disparo -, vamos ver o que temos aqui! – Com um lenço o policial pegou a faca tinta de sangue e colocou em um saco plástico. Santiago lembrou dos filmes de TV, aquilo era para preservar as digitais dele na faca, mas era absurdo tudo aquilo. Era lógico que as digitais seriam dele, ele que estava com a faca e além do mais a única pessoa que talvez tenha tocado nela era Celeste, e isso a uns três anos.
A porta da despensa foi aberta pelo policial que falou com um misto de asco e triunfo na voz... “Mas o que temos aqui!”. E Santiago mergulhou em um abismo confuso. O que era aquilo? Como seria possível? Celeste estava jogada no chão em meio a uma enorme poça vermelho escuro de sangue coagulado. Reconheceu-a mais pelas roupas que pelo rosto. Ele- o rosto – antes belo estava irreconhecível diante de tão hedionda violência que havia sofrido.
_Senhor Santiago, o senhor está preso pelo assassinato de Dona Celeste, sua esposa...
Santiago dá um pulo. Não tão alto como o grito que seus trêmulos lábios regurgitam, mas é um pulo suficiente para assustar alguém, se houvesse alguém em seu quarto àquela hora, o que seria improvável, pois desde que Celeste o abandonou há três anos, mais ninguém a não ser o próprio Santiago, transpôs a porta principal daquele apartamento.
A cabeça lateja, dói muito. Onde estou? , é a primeira pergunta que vem a cabeça dolorida do assustado e confuso Santiago. Um abajur com motivos japoneses e a cortina improvisada com uma velha manta azul marinho o reconduz a realidade. Está em seu quarto, em sua cama. Tudo fica familiar, menos o suor no corpo e nos lençóis...

Gravataí, 06 de Janeiro de 2008.

quinta-feira, maio 8

It's all about money



Não existe problema em se ganhar dinheiro trabalhando e legitimamente. Em se tratando de mudanças climáticas, o problema está em se acreditar na idéia repetida ad nauseam de que aquecimento global é ruim para a economia. O aquecimento global, ao contrário, se transformou em um grande negócio. Al Gore, por exemplo, terminou o ano 2000 como vice-presidente norte-americano e um milhão de dólares em sua conta bancária. Hoje, como consultor privado, possui um patrimônio estimado em cem milhões de dólares que está prestes a aumentar e consideravelmente. O homem de Uma Verdade Incoveniente já é consultor da Google, membro do conselho de administração da Apple e o mais novo sócio da Kleiner Perkins Caufield & Byers, uma empresa de capital do Vale do Silício na Califórnia que fez uma fortuna de bilhões de dólares investindo em empresas como Netscape, Amazon e a Google.

Al Gore prometeu entregar seu "salário" para a organização que preside chamada Alliance for Climate Protection, mas o anúncio é mera dissimulação. O sistema de remuneração de "management fee" levará Gore a embolsar dezenas de milhões de dólares nesta nova atividade, sendo impossível estimar que valor receberá devido ao segredo que cerca as finanças da KP. "Uma jogada brilhante de Al Gore", descreveu Jack Tankersley do Meritage Private Equity Fund. Segundo Tankersley, a personalidade que o ex-vice-presidente norte-americano hoje possui ajudará a driblar entraves regulatórios e legais para os negócios financiados pela Kleiner Perkins Caufield & Byers. "Se alguém quiser abrir uma planta de biocombustíveis no Brasil, Gore tem toodos os contatos políticos para fazer acontecer", comentou. A maioria das pessoas que conhece Gore descreve ele como uma pessoa sincera quanto ao aquecimento global, mas o fato é que o auto-denominado ex-presidente eleito dos Estados Unidos não abriu mão de andar de avião nem tampouco de consumir uma enorme quantidade de energia em sua casa, apesar da frase final do seu filme questionar o público se não era hora de mudar o estilo de vida. Como o meteorologista Luiz Fernando Nachtigall me descreveu, Gore incendiou o circo e agora abriu a loja de extintores de incêndio.
Engana-se quem acredita também que o aquecimento global é hoje um grande negócio apenas para o mercado de energia limpa, apesar de todos desejarem uma mudança da matriz energética global em favor de tecnologias mais amigáveis ao meio-ambiente. Quem torceria pela abertura de poluidoras plantas de carvão na China exceto os próprios donos das usinas ? Prova de que aquecimento global tornou-se uma oportunidade de fazer dinheiro é que as maiores empresas de finanças de Wall Street (acima) se debruçaram sobre o tema para orientar os seus clientes sobre como faturar neste novo ambiente de negócios. Edward Kerschner, do Citigroup, passou nove meses pesquisanso para elaborar um relatório de 120 páginas inttulado "Climatic Consequences" que descreve 74 companhias e 18 países bem posicionados para lucrar. Já a UBS liberou um documento de 97 páginas chamado de "Climate Change: Beyond Whether." A Lehman Bros, a partir do trabalho dos seus analistas em Londres e Tóquio, publicou um documento de 143 páginas chamado de "The Business of Climate Change" destinado aos investidores. Outro potencial beneficiário da especulação financeira acerca das mudanças climáticas é a Chicago Mercantile Exchange (CME), a bolsa de mercados futuros que já trabalha com produtos relacionados ao clima. Somente no ano passado, a CME negociou 800 mil contratos estimados em 21 bilhões de dólares relacionados ao tempo. Dois anos antes a movimentação era de apenas 2 bilhões. As opções e futuros permitem a empresas de energia, infra-estrutura e seguradoras a garantirem hedge em potenciais perdas relacionadas às condições atmosféricas. A Bolsa Mercantil de Chicago, inclusive, lançou "contratos de furacão" a fim de permitir que o mercado possa estimar o risco destas tempestades. Também o setor imobiliário tem profundo interesse econômico nos temores do aquecimento global. David Lereah, economista-chefe da National Association of Realtors dos Estados Unidos, comenta em seu livro "All Real Estate Is Local" que é uma forte tendência a aversão a locais próximos do mar e sujeitos a tempo muito severo. "Tem muita gente deixando a Flórida e buscando a segurança de áreas montanhosas.
Se as corretoras estão orientando os seus clientes, as corporações estão lucrando. Quarenta e seis das maiores corporações do planeta divulgaram na semana passada o seu "mapa do caminho" para reduzir o impacto do aquecimento global. A iniciativa chama-se Combat Climate Change (3C), iniciativa que reúne empresas da América do Norte, Euorpa, Ásia e África. Estas grandes empresas têm demonstrado interesse especial pelo chamado mercado de créditos de carbono. Nomes respeitados do mercado financeiro como o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga se envolveram no negócio. Algumas instituições financeiras também já começaram a trabalhar com créditos de carbono. O mercado é movimentado essencialmente por empresas com passado poluidor e fundos de investimento. É o que prevê o defendido Protocolo de Kyoto. Estas empresas precisam comprar créditos de carbono para compensar as emissões de poluentes que elas já fizeram, ainda fazem e estão por fazer. Em outras palavras, pago para poluir. Grandes bancos brasileiros já lançaram fundos de investimento sob a bandeira verde e inesvtiram pesado em publicidade sobre mudanças do clima. Finalmente, imprensa e mercado publicitário têm muito ainda a ganhar com os temores em torno do aquecimento global devido ao interesse que desperta no público e a causa inegavelmente simpática de que é possível frear o aquecimento global e salvar o planeta. A mais nova campanha global, aliás com filmes belíssimos e um texto extraordinário bem escrito, é da petrolífera Chevron. Em sua peça Untapped Energy , a empresa afirma que o tema é o principal desta geração e que o grupo está buscando oferecer novas alternativas no mercado porque 'todos vivemos no mesmo planeta'. O novo emprego de Gore, assim, é apenas a ponta de um grande iceberg de dinheiro que não derrete. It's all about money.
Fonte: http://www.metsul.com/ Eugenio Hackbart

segunda-feira, abril 28

UM CAMUNDONGO


O táxi parou. Perguntei naquele dialeto arrastado e pastoso que só os taxistas que trabalham a noite ou porteiros de boites entendem, o quanto devia. Paguei. Se fui logrado? Vá saber?!
Não levei muito tempo a achar a chave certa. Abri a porta e acendi a luz.
Joguei as chaves que produziram um estridente som ao bater no tampo de metal da mesa de centro. Olhei para o pé do balcão da pia.
Correu de lá – o que eu já sabia – um camundongo. Meus olhos correram assim como o camundongo para a geladeira. O camundongo passou como uma flecha.
Ele agora iria passar da geladeira para baixo do fogão. Eu já sabia o trajeto havia dias – seriam semanas? Meses? -. Podia pular e com o pé acabar com o infeliz.
Passou. Agora - isso eu também já sabia, sairia do fogão e passaria em uma distância um tanto perigosa frente ao inimigo: Eu, e correria para o banheiro.
No banheiro, por mais que eu procura-se não o encontraria. Havia um local secreto que aquele ser habitava durante o tempo que eu não estava presente – ou não estava acordado -, que eu não conseguia achar.
Teve um dia que me esmerei em procura-lo, mas foi em vão. O danado tinha um local só dele. Desisti. O mais fácil é ir a uma agropecuária e comprar um veneno.
Há pessoas habilitadas para tudo. Talvez as coisas não sejam tão simples na vida como a gente pensa ser. Em vez de procurarmos um eletricista, nós mesmos fazemos, e por isso mesmo nem sempre fica da forma que queríamos. Em vez de um encanador nós mesmos metemos a mão na massa e depois ficamos com aquele cano sempre a pingar.
Procurei quem sabia. O cara com cara de profissional falou que aquele determinado produto era tiro e queda. O bichinho morreria na hora, mas tinha outro que tinha um efeito retardado. Tinha um cheiro sedutor ao meu “amiguinho” e que depois de ele ingerir aquela “maravilha”. iria dar uma necessidade enorme a ele de beber água. “Quando a água entrar em contato com o produto no interior do organismo dele, vai petrifica-lo!”. Ele morreria e o próprio produto ia ressecá-lo e não produziria nenhum odor. Mesmo que eu não achasse o pequeno cadáver, não teria nenhum incomodo, ao contrário do outro que eu enfrentaria o odor da putrefação. Era esse mesmo que eu queria. Comprei.
Essa compra foi há muito tempo atrás.
O produto, eu o guardei em uma gaveta em sua embalagem. Nunca fora aberta. Algo me impedia de abri-la.
Fazia quase dois anos que eu estava morando sozinho. Não tinha filhos e minha mulher havia ido embora sabe lá Deus para onde.
Foi assim:
No começo, foi uma maravilha. Nunca havia sentido uma liberdade tão grande. Nunca havia podido viver desta maneira, sair e voltar a hora que bem entendesse sem dar satisfações a ninguém – havia meu chefe é claro, mas isso para o relato não conta -. Estava me sentindo finalmente livre.
Passei os primeiros dias a tomar cerveja e indo as boites que meus amigos falavam e eu nunca havia ido.
Mas havia dias que voltava para casa tão logo terminasse o expediente. Fazia minha caipira, um jantarzinho, tomava um banho, um chimarrão e via TV e dormia esperando o dia de amanhã.
Com o tempo o vazio da casa começou a me encher. Ouvia barulhos que não haviam e ficava preocupado. Vezes que outras, vultos passavam por trás de mim enquanto lavava a louça. Sabia que era a solidão. Não eram fantasmas. Fantasmas são lembranças que esquecemos de esquecer.
Com o tempo meus afazeres ficaram entediantes e comecei a voltar para casa cada vez mais tarde.
Quando percebi, minha fruteira era um cemitério de frutas gestantes, um ventre fértil de seres nojentos e um mundo convidativo a insetos indesejados.
Fiz uma grande limpeza em um sábado. Pronto: Só porcaria chama porcaria!
Com um fogão inativo e uma geladeira com água e cerveja, adotei os bares como locais de minha alimentação. Quando o último amigo abandonava o bar lembrava que também tinha uma casa.
Foi numa dessas noites em que eu voltava para casa com mais umas duas ou mais garrafas em uma sacola plástica que eu o vi pela primeira vez. Era pequenino. Cinza. Até bonitinho era.
Ao abrir a porta ele correu e fez o trajeto que nós já sabemos. Era metódico o bichinho.
Enquanto eu ficava na rua ele reinava naquela casa vazia.
No começo não dei muita importância a ele. Ia trabalhar e nem lembrava de sua existência, mas com o tempo e com tantas vezes vendo ele fazer o mesmo trajeto, resolvi: Tenho de me livrar deste ser abjeto, e como já falei, comprei o veneno...
Pela manhã não colocava o veneno – nos cantinhos como falou o cara que vendeu-me -, nem lembrava sequer dele ou do veneno. À noite ao ver ele correr, ficava com pena do bichinho. Ele era como eu! Quando eu ia ao trabalho ele fazia o seu mundo. Quando voltava, altas horas, ele se recolhia e deixava eu reinar sobre aquele silencioso mundo.
Assim ficamos por muito tempo. Ele rei de dia eu rei à noite. Se ele se aventurava enquanto eu dormia? ...Eu não sei, mas acho que não! Ele era o meu único amigo fiel.
Sim! Fugia quando eu chegava. Mas imaginem, quem não fugiria tendo aquele “tamanhinho” em frente a um gigante? E um gigante mau que compra veneno para matar seres pequeninos?
Assim ficamos meses. Vendo-nos como se não nos víssemos. E para dizer a verdade, muitas vezes fiz olhos de cego para suas investidas fortuitas. Ele achando que eu não o via passava despreocupadamente próximo ao meu pé.
Não fosse a solidão...
Ele também me via quando eu não o via. Eu sabia. Quantas vezes ouvi um frenético bater de pés no piso do banheiro quando me desfazia do excesso de álcool na privada, ou quando bradava impropérios sozinhos na sala.
É!...Nunca tive coragem de matar meu amiguinho!
Talvez um dia quem sabe?... Após dias sem eu não aparecer ao trabalho, a polícia venha e arrombe minha porta e encontre a embalagem do veneno aberta, caída ao chão, ao lado de meu corpo sem vida, e ao lado o cadáver de um camundongo.

quarta-feira, abril 23

INDIGNAÇÃO

É lógico que qualquer pessoa que tenha um pouco de humanidade fica chocado e indignado com casos como o da menina Isabella Nardoni, mas o que também me indigna e muito, é a festa feita pela mídia sensacionalista e vampira que explora até a última gota de sangue e lágrima, não só das pessoas atingidas pela desgraça mas também dos seus leitores, ouvintes e tele-espectadores.
A desgraça dá audiência, e eles não têm pejo nenhum em aproveitar para lucrar um “pouquinho” mais.
Mas não é só isso que me indigna nesses casos, há também o fato de débeis mentais que não podem ver uma câmara de TV que já vão fazer parte do circo. É lamentável e indignante ver um bando de desocupados pulando e gritando em frente ao prédio onde ocorreu o crime, como se fosse uma comemoração de gol.
E não me venham dizer que eles não estavam lá para fazer aquela palhaçada toda só para aparecerem na TV, porque quando esta mesma mídia apresenta a noticia de uma criança pobre espancada, abusada ou assassinada em uma favela ou em um bairro da periferia, não se vê essa gritaria toda.– quando apresentam, porque desgraça de pobre dá pouca audiência.
E pra completar a festança, ainda houve um “show-missa” com artistas famosos e direito a populares tirarem fotos com a mãe da menina.
É tipo um pequeno souvenir para depois mostrar para os amigos: _Olha eu em uma foto com a mãe da menina Isabella.
É... parece que o diabo ganhou a guerra mesmo e não tem volta.
Uns perdem a humanidade, enquanto outros perdem a noção do ridículo.

sexta-feira, abril 11

Coisas que acontecem


Não tem um aviso. Não é como o corte do fornecimento de energia elétrica, que chega com um comunicado alertando que se não houver o pagamento da fatura ficarei no escuro. Não é como a carta de uma amante ressentida ou entediada que diz: acabou, ou a bravata de um inimigo que alerta que serei atacado. Apenas fico sabendo.
Chego em casa para dormir, como todos os outros dias. Mas em determinados dias percebo: é hoje.
Tento de todas as formas postergar a hora de dormir. Pois será exatamente na hora do sono que irá acontecer. Penso em virar a noite acordado. Em vão tento passar toda à noite lendo um livro, mas o sono vem. Se ligo a TV logo meus olhos começam a pesar como se de chumbo fossem. Inutilmente jogo água fria ao rosto. À vontade – necessidade ou ordem – me levam de novo a cama.
Uma força que vem não sei de onde, sempre me encaminha para a cama. Não sinto medo. Apenas sei que devo deitar.
Um sentimento idiossincrático, me obriga a dormir, vencendo um paradoxo sentimento muito primitivo que tenta um duelo. Mas não há razão, a lógica perde o sentido, o sentimento de preservação é obscurecido como o de um viciado em frente à droga, É o néctar da adrenalina de um pára-quedista, que mesmo sabendo que pode se estatelar ao chão; arrisca-se. Sou como o Gnú que sabe que o rio está infestado de crocodilos e mesmo assim tento a travessia. Assim sou eu, atiro-me aos braços de Morpheu.
Em uma última tentativa de fuga, deito de bruços.
Há a proteção do lençol, do colchão, do lastro da cama, da forração do piso e o piso. Estou no quarto andar. Abaixo de mim, há concreto, aço, mobílias e um monte de coisas que sei que não irão impedir de meu peito ser tocado, mas mesmos assim como uma última tentativa, eu tento.
Disseram-me que contar carneirinhos ajuda a dormir. Já fiz isso em noites de insônia. Perdi as contas de quantos carneirinhos contei e junto com eles, perdi a chance de dormir. Com o passar dos dias – ou melhor, as noites -, aprendi que tentar relembrar o último livro lido ou filme que havia assistido, me trariam o sono perdido. Isso é para mim muito precioso, pois sofro de uma interminável insônia. Parece que só durmo normalmente – se é que pode ser chamado de normal -, quando sinto que será “naquela noite”.
Já falei que meus olhos pesam como chumbo! Nunca fiz yoga! Mas deve ser assim que ficam os grandes mestres ao atingir a plenitude da concentração. O tempo some. Meu corpo fica leve. O coração – órgão que nunca sinto, em outros momentos – começa a retumbar calmamente como ao de um cortejo fúnebre. E vai diminuindo, diminuindo, diminuindo até eu não o perceber mais.
Não tenho mais senso de equilíbrio e de espaço, não sei mais se estou de bruços ou não. Ouço coisas que não sei dizer o que são, apenas sei que são aprazíveis. É como um gozo! Não um gozo normal. Não é carnal...
Mesmo não sabendo nada, sei que sentirei algo entrando em meu peito. É como um braço com uma mão não humana percutindo todo o interior de meu interior. A sensação não é ruim, mas também não causa nenhum prazer.
Essa mesma “mão” sobe pela garganta e detém-se em meu cérebro, e é nesse momento que tudo some. Não lembro de mais nada, e no outro dia acordo sem lembrar de nada, nem sequer do que estou revelando agora. No outro dia é como se nada houvesse acontecido.
Sei que hoje ira acontecer de novo, por isso estou escrevendo, pois logo não conseguirei mais concatenar nenhum pensamento e terei de ir dorm.........

sexta-feira, abril 4

O azar de Baltazar


Baltazar tinha certeza que era azarado. Não adiantava as negativas de sua mãe. Ele sempre afirmava que o próprio nome já indicava a maldição: Baltazar.
Estudou em escola pública. Não foi medíocre. Rodou só um ano no primeiro grau, e ele tinha certeza, que fora por azar. Era só marcar a resposta certa. E ele sabia qual era. Mas na hora de marcar, marcou a opção errada.
Bom... Isso foi no primeiro grau, do segundo não podemos falar, pois ele nunca foi para o segundo. Vagabundo? Não... Baltazar, sempre foi dedicado e sonhou com um grande futuro. Mas havia o azar... Quando iria fazer o segundo grau na Escola Técnica Agricola, o azar – que nunca o deixava – levou seu pai desta para uma melhor. Se era melhor ele não sabia realmente, mas era isso que falavam. Teve de largar os estudos para manter a mãe paraplégica e os quatro irmãos. Dois deles já em final de carreira pelo crack.
Teve vários empregos, todos sem muita importância, e nesse ínterim os irmãos que estavam pela bola sete, o crack os levou. Um sem dúvida a droga matou, o outro dizem, foi uma divida com um traficante que o despachou.
Tentou recomeçar os estudos, mas veio a morte da mãe e comeu os poucos reais que tinha guardado. Soube que era o azar que veio para ferrar com ele. Ficou ele e os dois irmãos. E ele como era mais velho, ficou a obrigação de ser o mantenedor.
Um dos irmãos parecia ir muito bem, até que a policia o pegou vendendo petecas na faculdade. Faculdade esta muita cara que Baltazar pagava com muito esforço. O coitado, não agüentou muito tempo e se enforcou. Era dos quatro irmãos o mais bonito. Tinha olhos verdes, como um convite em uma cela de homens brutos e sedentos...
Sobrou o caçula. Este sim, Baltazar botou fé. Era muito expansivo e fotogênico. E de tão fotogênico, acabou em um cartaz daqueles de pessoas desaparecidas. Baltazar nunca mais soube do menor.
Continuava Baltazar em vários empregos. Foi garçom sem muita habilidade, pedreiro de meia colher, homem-baner e um monte de coisas que não renderam nada.
Baltazar sabia que estava no caminho certo. O problema era o azar. Se algo fosse sair errado, ele sabia que seria com ele. O azar tinha escolhido ele.
Quando surgiu a chance de gerenciar um bar em Torres, bem quando começava a temporada de praia, teve hepatite, ficou fora. Quando um amigo lhe ofereceu a sociedade para um bar na Padre Chagas, o amigo acabou embaixo de um caminhão. Quando decidiu enlouquecer e entrar para o teatro, surgiu uma gagueira do nada que não permitiu ele fazer papel algum. Quando surgiu a chance de fazer a campanha de um candidato a deputado federal, teve o azar de traçar a menina que era do próprio. E por aí foi...
Até que um dia tomou uma decisão. Não esperaria mais nada da vida. Ele iria buscar a sua sorte, já que a sorte só o sacaneava. Pensou...Pensou, e ficou resolvido: Iria para o crime. Se fazendo tudo direitinho não dava, iria então pelo outro caminho.
Nesta época, Sirlei, sua namorada, trabalhava como caixa em uma lotérica fazia uns oito meses, e sua dedicação havia conquistado a confiança de Seu Agenor, o proprietário. Sirlei começou a fazer uma minuciosa pesquisa e, descobriu que o dinheiro que entrava após o fechamento do banco, Seu Agenor escondia embaixo de um velho sofá que ficava em uma sala que servia como “sala do cafezinho”.
Um dia no horário do almoço, Sirlei surrupiou a chave da mesa de Seu Agenor e fez uma cópia. Esperaram com paciência o dia ideal. Finalmente, houve o grande dia. Mega Sena acumulada. Não haveria oportunidade melhor. Baltazar sabia que a chance de botar a mão naquele prêmio, faria o sofá de Seu Agenor estufar de tantas apostas que seriam feitas.
Baltazar saiu de casa a meia noite e encaminhou-se para a lotérica. Não sentia medo, sabia que agora seria diferente. Não estava mais contando com a sorte – no caso dele com o azar, é bem verdade -. Agora era ele que estava no comando. Chegou em frente da lotérica, estava tudo calmo, sabia que a Sirlei havia dado um jeito no alarme. Abriu a porta e entrou acendendo uma lanterna que havia carregado consigo.
Conforme as instruções de Sirlei, correu para os fundos. Levantou o velho sofá. O coração quis saltar-lhe pela boca. Calou um grito de surpresa e raiva. Nada! Não havia nada embaixo do sofá. Resolveu que não podia perder o controle. O dinheiro tinha que estar ali. Era só encontra-lo. Sem perder tempo começou a erguer todos os móveis, abrir todas gavetas e enfiar a mão em todos os orifícios em que podia caber algo.
Depois de revistar todo o banheiro, só sobravam os caixas. Mas Seu Agenor não faria uma loucura dessas. Mesmo assim revistou-os. Nada, nem um tostão, somente bilhetes e volantes preenchidos e que não foram vendidos. Tomado de uma fúria tremenda, Baltazar começou a quebrar tudo. Quando não sobrava mais nada para quebrar ele ouviu a sirene da polícia. Como um louco abriu a porta e saiu correndo rua afora. Não foi muito longe, foi pego na primeira esquina.
Quando chegou algemado na delegacia, Seu Agenor já estava atônito registrando o sumiço do dinheiro. Baltazar protestou que não havia dinheiro algum, mas não adiantou, foi para o presídio.
Mas o que tirou o tino de Baltazar e fez ele terminar de cumprir sua pena em um manicômio, foi o fato de haver na lotérica, em um dos caixas que ele havia quebrado, um volante da mega sena preenchido com os números que seriam sorteados. Bastava Baltazar ter pego aquele volante e esquecer o dinheiro das apostas e hoje seria milionário.
Mas não! O azar jogara a sorte grande nas mãos de Seu Agenor. Seu dinheiro nunca foi encontrado. Mas para que, se agora Seu Agenor era milionário? De tantos remédios receitados para tentar trazer de volta a lucidez, Baltazar morreu. Sirlei acabou casando com o Seu Agenor. Um dia revelou a um jornal local que sempre fora apaixonada pelo Seu Agenor – Que agora era chamado de Senhor Agenor -, só não revelou ao jornal que no dia do roubo, antes que Baltazar lá chegasse, ela com outra cópia da chave havia roubado o dinheiro, mas ao saber da sorte do patrão...


Gravataí, 29 de dezembro de 2007

quarta-feira, abril 2

Fernando "Cegueira"



Fernando Gabeira(PV) falou no egocêntrico programa do Jô, que um dos motivos que o levaram a querer ser prefeito de Rio de Janeiro é pelo fato de ele ter acompanhado uma amiga que sofreu um acidente a um hospital da cidade maravilhosa e aí se espantou com o mau atendimento e a falta de macas. Ficou horrorizado com as poucas macas que haviam e que estavam enferrujadas e sem colchões.
Não voto no Rio, mas se votasse não votaria num cara que mora em uma cidade e não conhece nem a realidade do sistema de saúde da cidade em questão.
Se o cara não enxerga a realidade dos hospitais públicos – que ficamos sabendo como estão todos os dias pelos jornais, rádios e TV’s – o que dirá do resto.
É muito ar condicionado e pouco pé no chão.

segunda-feira, março 31

CAPITAL 2008


A capital gaúcha terá três mulheres disputando a prefeitura este ano. E as três no campo da esquerda.
Uma coisa é praticamente certa: Haverá pelo menos uma mulher no segundo turno!
Sei que é muito precipitado, mas vou arriscar um palpite:
No primeiro turno, para capitanear o voto da esquerda e o voto feminino, as três entrarão em confronto. Como sabemos que ambas são boas de briga, a coisa tenderá a esquentar, para deleite do “bom menino” que ficará de fora da briga e disputará a eleição com uma das três.
Claro que para isso tem o segundo turno, onde as três poderão vir com toda a garra e fazer o “bom menino” largar o brinquedinho, mas isso pode correr o risco de não acontecer, se os “chute nas canelas” não se restringirem somente as canelas.
Se valer o “abaixo do pescoço é canela”, poderemos ver o bom menino dar um passeio nas mocinhas.
Tem coisas que depois de quebradas...

segunda-feira, março 24

Tiraram a pinga da pelada


Foi aprovada uma Lei do meu amigo Deputado Estadual Miki Breier, Lei essa que proíbe o consumo de bebidas alcoólicas nos estádios.
Eu não tenho time e nem curto futebol, mas acho que meu amigo mirou mal e a Assembléia atirou pior ainda.
O que gera aquelas batalhas campais e outras atrocidades não é o álcool e sim a dimensão que certas pessoas dão a disputa futebolística.
O público pagante em um GreNal fica em torno de 12 e 18mil, o que é inferior ao público de um Planeta Atlândida que é de 30mil pessoas aproximadamente. No Rock in Rio 3 estavam presentes 250mil pessoas. O Carnaval de Salvador chega a reunir 2milhões foliões.
Nestes eventos é óbvio que as pessoas consomem álcool além de outras coisas mais.
Mas não lembro de uma batalha campal no Rock in Rio ou nos Trios Elétricos. Já no futebol é uma constante: Logo, o que gera essas batalhas não é o álcool e sim o espírito de disputa e de revanchismo que normalmente está presente no futebol.
No “Planeta” e no “Rock in Rio” não estão só pessoas de um mesmo time de futebol . No carnaval bahiano não estão sambando pessoas do mesmo time, e nem por isso eles saem na porrada.
Mas nestes eventos, quase todas as pessoas usam drogas. Principalmente a mais popular e legalizada: O álcool.
Não vemos partidos políticos saindo na porrada no Brasil. Nem religiões fazendo guerras – ( falo em Brasil ).
O que o futebol tem de resolver é o fato de não ter uma existência pacifica.
O problema é uma torcida fundamentalista que vê o torcedor do time adversário como um inimigo que deve ser abatido. Como é feito em alguns paises em nome da religião ou da política.
Se eu gostasse de ir a estádio e beber - ( e beber eu gosto, só não gosto do estádio ) e agora fosse proibido, das duas uma: não iria mais a estádio ou então tomaria todas antes de entrar do estádio.
Ah! Me falaram alguns: Mas tu passa por uma revista e não vai poder levar bebida escondida!
_Olha! Essa revista é uma balela, pois os caras entram com drogas ilícitas que são consumidas livremente e até entram com bombas caseiras...( e antes que alguém queira encher o saco, isso é opinião minha, como tudo o que escrevo, se o blog se chama do stanis é porque a opinião é minha ).
Acompanho desde 2000 o Bar do Argeu ( Gremista ) e o Bar do Gringo ( Colorado ) que são vizinhos, ( e lá não é estádio onde não podem vender bebidas, é um bar onde os caras vão ver o jogo e beber ) e não vejo brigas por causa de times.
Já deu alguma briga? Sim! Mas nunca uma briga da torcida de um bar Gremista com um bar de Colorados. Mas brigas pessoais que muitas vezes não tinha nem haver com o time, mas com coisas pessoais do cotidiano. E mesmo assim são raras, tanto é que quando um bar entra em férias o que está na ativa recebe com todo o prazer e respeito os do bar/time adversário.
Ou seja: ( com todo o respeito ) Tirar o sofá da sala não vai resolver nada...

quarta-feira, março 19

Serraram o Paulo Henrique Amorim


Que o blog é a forma mais livre e independente possível de informação e opinião, não resta dúvida.

O problema é quando o hospedeiro de um determinado blog não concorda com a opinião do blogueiro e defenestra o mesmo.

Para mim isso não acontecia, até Paulo Henrique Amorim ser chutado do IG.

Quem acompanhava o PHA no ig sabe muito bem o porque isso aconteceu.

Passaram a "Serra" no pescoço do cara...

domingo, março 16

ALEGRES JANTARES DE CASAIS



Quando terminar de fazer a caipirinha, tu podias me ajudar a descascar as batatas! Pediu Júlia para Antônio que olhava com um olhar esquecido o fogo no interior da churrasqueira. O fogo sempre exerceu um certo fascínio no homem desde tempos mais imemoriais. Antônio não sabia onde havia escutado aquela frase sobre o fogo, mas filosofava para si como se sua frase fosse. Protestou. Não podia se ocupar com as batatas, pois tinha de espetar a carne. Estava um pouco aborrecido, naquela sexta-feira, a janta seria no apartamento deles. Amanhã terá aquele monte de coisas para limpar e colocar no lugar.
Bem que o pessoal podia chegar! Comentou Júlia com uma lágrima produzida pela cebola que ela cortava. Júlia sabia que quando era churrasco sempre sobrava para ela. Churrasco é comida machista. Os homens ficam em volta do fogo como se eles fossem sacerdotes a cuidar de um poder divino e as mulheres que se ferram na cozinha.
Bateram a porta. Antônio foi abrir. Era Silvio e Cláudia. Antônio não deu muita atenção à chegada do casal, primeiro ele queria ver se Nara, a irmã de Cláudia vinha junto para o churrasco. Sim! O sorriso maroto surgiu por baixo do bigode espesso de Antônio. Entrem...Entrem! Convidava em meio a abraços, beijos, apertos de mãos e olhadas furtivas para Nara que nada parecia perceber.
Não chegou a fechar a porta, pois Zeca e Sandra já entravam com um fardo de latas de cerveja e aquele olhar falso de Sandra que Antônio odiava. Depois dos abraços e beijos, Sandra reparou contrariada que teriam a presença de Nara àquela noite. Devia manter-se em prontidão.
Quando Otávio e Carla chegaram, os homens já estavam na sacada em frente à churrasqueira, cada um com a sua cerveja, somente Antônio continuava na caipira, o que desagradava Júlia. Só faltava ele encher a cara e começar a brigar com Sandra- preocupava-se a esposa-. As mulheres estavam na cozinha. Tomavam com parcimônia suas cervejas. Somente Nara parecia ter uma sede um pouco maior. Falavam de novelas, do trabalho e de alguma fofoca qualquer.
Zeca, olhando para a cozinha cortou Silvio que falava da traição acontecida entre um casal conhecido do grupo para falar: Olhem lá! As mulheres já estão fazendo fofoca! Silvio baixou os olhos para o braseiro e ficou em dúvida: teria Zeca falado aquilo para debochar dele ou ele não havia percebido que eles estavam fazendo o mesmo que elas? Aquele palhaço! Claro que era uma provocação, mas não iria estragar a noite por causa daquele idiota. Com desculpa de ir ao banheiro, foi para a sala escolher um CD. Música! Era isso que estava faltando. Todas as sextas à noite eles ouviam música.
Na cozinha estourou uma rizada geral. Era Nara que contava piadas. Somente Sandra continuava séria – as piadas eram engraçadas, mas como era vulgar ver Nara dizer aquelas coisas e fazer aqueles gestos lascivos-. Antônio com seu avental de churrasqueiro segredou a Cláudio que a cunhada deste estava uma “coisinha”. Cláudio concordou com uma careta que o amigo entendeu que queria dizer “Nem me fala!”. Há coisas entre as pessoas de um mesmo sexo que não é preciso ser pronunciadas, um leve erguer de olhos, uma torção de lábios ou algo que o valha é o suficiente para os iguais se entenderem. Pena que com os do outro sexo as coisas não funcionavam assim. Mesmo com toda a argumentação possível, nunca se chega a um lugar comum.
Zeca estava desistindo de escolher o CD, pois não agüentava mais as mesmas músicas todas as sexta, quando percebeu Nara chegando com um copo vazio. Era a deixa. Encheu o copo dela e começou a conversar sobre amenidades. Os olhos provocantes de Nara o hipnotizavam. Só não ficava os fitando o tempo todo, porque aquelas longas e morenas pernas com pelos dourados raptavam seus olhos a todo o momento. A conversa ficou animada e Zeca não percebia os dois amigos os olharem e fazerem comentários entre rizinhos, fingindo não estarem com inveja. Olha o Zeca - dizia Antônio -. Não vai defender a honra de tua cunhadinha? Ao que Silvio rebatia: O quê? Aquele ali não pega nem dengue! E davam gargalhadas altas como para atrair a atenção de Nara. Ela que viesse ali para a sacada onde havia homem de verdade - concordavam sem saberem o que se passava na cabeça um do outro.
Finalmente escolheram um Zeca Pagodinho. Mal começou os primeiros acordes, Nara largou o copo sobre a mesa de centro e puxou Silvio para dançarem. Silvio não era o que se podia chamar de pé-de-valsa, mas não podia perder aquela chance. Ao sentir o volume dos seios de Nara contra seu peito, decidiu-se: Convenceria a esposa a ir na mesma clínica e pagaria para colocar os mesmos “eme-éles” que sentia contra si. Zeca em seu devaneio não percebia o olhar perigoso que vinha da cozinha - Essa vagabunda agora vai se esfregar no meu marido - reprovava Sandra- . O que queria “essazinha” metendo-se em jantares de casais, se não tinha um marido que fosse caçar onde houvesse solteiros.
Júlia que acabara de aprontar as saladas cochichou no ouvido de Cláudia “que gostava de Nara, mas ela não precisava vir com roupas tão curtas aos jantares de sexta”. Mas a probidade da irmã foi defendida com a afirmação que Júlia quando solteira vestia-se da mesma forma.
Cláudia foi ter com o marido que a chamava. Júlia então voltou à carga dizendo a Sandra que aquilo era falta de respeito, onde já se viu se atirar assim daquele jeito, mas Sandra tentando mostrar despreocupação disse que não era nada, que o marido inclusive não suportava Nara, só estava dançando para não ser mal educado.
Como a dança se prolongava, Sandra convenceu a todos que já era hora de sentarem-se à mesa. Com um olhar de facas, Sandra desencorajou o marido de sentar ao lado de Nara, mas ficou em dúvida o que era pior, ficarem de lado ou frente a frente? Bom! Como já estava decidida não podia baixar a guarda e ficou o tempo todo a procurar um olhar da parte de um deles que fosse correspondido. Zeca deu-se por satisfeito com a dança, não iria provocar a fúria da esposa. A carne chegou em uma fumegante bandeja e puseram-se a jantar.
Como se fosse um protocolo a ser seguido, os homens falavam de futebol, da qualidade da costela e lembravam outros churrascos fantásticos que haviam comparecido. As mulheres falavam da novela, de algo acontecido na casa de alguém ou com o filho de alguém na escola. E assim, aquelas histórias e estórias já há muito conhecidas eram repetidas como se da primeira vez fosse.
Antônio foi buscar mais carne. Desta vez decidiu ir servindo um a um em seus próprios lugares, se ficasse ali na mesa à carne esfriaria, o que era um pecado com uma costela tão maravilhosa. Todos acharam acertada a decisão dele. Júlia seria contra se soubesse que aquilo era apenas uma desculpa para ele chegar por cima dos ombros de Nara e ter uma visão privilegiada do bondoso decote. Mas aquilo não durou muito tempo, pois Antônio percebeu um olhar que o fuzilava vindo de Cláudia em socorro da irmã. Um rubor subiu-lhe a face. Antônio terminou o jantar sem falar muito.
Após o jantar, foram para a sala ouvir música e fumar. Júlia não tirava o olhar repreendedor sobre aquela mocinha que sentava ao chão com as longas pernas cruzadas e a cabeça repousada no joelho da irmã. Júlia achou que era chegada a hora de rivalizar com aquela exibição. Falou que estava muito quente e foi ao dormitório trocar de roupa. Voltou com a mesma camisa, porem amarrada em vez de abotoada e com um pequeno calção de jeans. Antônio ficou contrafeito, aquela não era a melhor maneira dela se vestir na frente de seus amigos.
Com exceção de Nara que estava completamente absorta, brincando com os dedos do pé da irmã, todos perceberam as intenções de Júlia. Se era guerra que queria ela estava pronta. Sentou-se no espaldar do sofá ao lado de Antônio. Sentiu olhares não muito interessados passarem por suas pernas. A conversa continuava normalmente. Disfarçadamente Júlia corria os olhos de suas pernas para as pernas de Nara, viu que a idade tinha lhe tirado um pouco da beleza, não que tivesse as pernas feias, mas as de Nara eram perfeitas. Sentiu-se envergonhada em achar as pernas da outra bonitas. A pretexto de uma dor de cabeça, desculpou-se e disse que iria deitar um pouco. As visitas disseram que iriam embora que não queriam incomodar, mas ela dizia que não era nada, podiam ficar, ainda havia muita cerveja e nem tinham provado o sagú com mousse de maracujá que estava na geladeira.
Júlia foi deitar-se e abafou o choro com o travesseiro. Ficou combinado que provariam a sobremesa e iriam embora. Todos estavam cansados - desculpavam-se -. Zeca que já estava bem embalado fez questão de que a próxima janta de sexta fosse em sua casa. Sandra, fingindo concordar, reafirmou o convite, e para parecer segura de si em relação ao seu casamento pediu que Cláudia não esquecesse de levar Nara junto. Zeca ficou mais contente com o convite que a própria convidada. Terminaram a sobremesa e iam saindo quando Nara protestou. “Não iria embora enquanto estivesse um garfo que fosse sujo ou fora do lugar”. Cláudia concordou mesmo diante aos protestos do dono da casa. Nara como se dona da casa fosse, distribuiu as funções para desgosto de Sandra: Ela lavaria a louça, este recolheria os pratos, copos e talheres, esta varreria o piso, aquela outra secaria e Antônio trataria de organizar as coisas do churrasco.
Finalizada a limpeza de tudo, tomaram uma saideira e despediram-se todos. Antônio fechou a porta e abriu mais uma cerveja, não queria deitar-se tão cedo, ele sabia que a dor de cabeça de Júlia era para acobertar algum descontentamento sobre alguma coisa que a pesada consciência dele não sabia o que era. Bem pelo menos a limpeza estava feita, isso talvez amenizasse a zanga que iria ter de ouvir.
Lá embaixo Zeca viu o carro de Silvio partir com as duas mulheres a ressonarem no banco traseiro. Bem! Na próxima sexta ele e Sandra seriam os anfitriões e ele se esforçaria para impressionar a cunhada de Silvio.
Ao perceber que Sandra o olhava com um olhar muito sério perguntou: “E aí, gostou da noite?”
_Cala a boca! – Ordenou-lhe a esposa entre dentes. Zeca foi todo o caminho para casa quieto pensando no que Antônio havia dito-lhe certa vez:
_Essas nossas jantas são um saco. Nos só as fizemos para não termos de ficar a noite de sexta sozinhos com nossas esposas, “E elas conosco” completou mentalmente a frase do amigo.



Stanis Fialho, 19.11.2007

quinta-feira, março 13

MANHÃ PERFEITA


Originalmente publicado em Revista Evidência de 12/07 com o título "Despertar"

Alfredo despertou lentamente. Abriu os olhos bem devagarzinho. Uma tênue claridade entrava pelas frestas da janela. Com um movimento brusco, livrou-se dos lençóis. Não estava frio, não que estivesse quente também. Era uma temperatura ideal. Assim deveriam ser os dias pensou Alfredo. Nem quente e nem frio. A pessoa podia escolher o que vestir sem ter de exagerar na escolha. O exagero nunca foi uma das extravagâncias dele. Mas e quais seriam suas extravagâncias? Alfredo procurou no fundo da memória e não encontrou nada. Ele sempre fora uma pessoa comedida. Em tudo.
Pensou em tomar banho, mas não tomou. Ficou como estava. Assim de cuecas mesmo, nem chinelos colocou. A forração era suficiente, não precisava de chinelos.
Passou pela sala quase esbarrando no pinheirinho que piscava a um canto e foi para cozinha. Viu sobre a mesa restos de sanduíche de presunto e queijo. Só então lembrou de Cíntia. Ela não estava na cama e havia aquele resto de sanduíche sobre a mesa. Ela devia ter saído muito cedo. Estranho não tê-lo acordado. Também era estranho não ter limpado a mesa. Cíntia era neurótica com limpeza. Às vezes aquilo quase enlouquecia Alfredo. Tudo bem que se queira uma casa organizada e limpa. Mas, tudo tinha limites.
Pegou os restos do sanduíche. Ficou sem saber o que fazer. Não tinha fome. Por fim jogou na lixeira, mas não sem antes lamentar: Quantas pessoas não teriam sequer restos de um sanduíche...
Sobre a geladeira estava a carteira de cigarros e o isqueiro. Era quase que maquinal o hábito de chegar pela manhã na cozinha e ascender um cigarro. Mas não. Hoje não sentiu aquela vontade - seria vontade ou mania? -. Tanto faz! Não fumou e viu que estava bem assim.
Um pingo d’água na torneira da pia o lembrou que não havia lavado nem o rosto. Encaminhou-se para o lavabo. Olhou-se no espelho sobre o lavatório. É! Estava com uma cara boa. Talvez um pouco pálido. Também: Inimigo do sol como ele só vendo. Pôs a língua para fora, esticou umas pequenas rugas que já se pronunciavam nos cantos externos dos olhos. É! Não estava mal.
Abriu a torneira. Com as mãos em forma de conchas levou a água ao rosto. Assim como a temperatura do ambiente a da água também estava nem quente e nem fria. Pensou novamente que assim é que deveria de ser.
Voltou para a sala. Jogou-se no sofá e ficou lá parado contemplando o pinheirinho . Era uma calma como nunca havia sentido. De repente percebeu que o silêncio era um bom companheiro. O silêncio não lhe dizia nada, mas também nada perguntava. Bom amigo o silêncio!
Ele buscou na memória uma outra ocasião em que havia ficado somente ele e o silêncio. Não lembrou. Também de que maneira? Cíntia era uma fábrica de ruídos. Falava o dia inteiro, não deixava um só detalhe de seu dia sem um relatório preciso. E ele – Alfredo – ouvia fingindo interesse. Se não era a fala era o aspirador, ou a maquina de lavar, ou a batedeira, ou a novela ou qualquer outra coisa, contanto que houvesse ruídos. Só hoje Alfredo percebeu: Ela devia amar os ruídos.
Passou-se muito tempo e Alfredo percebeu que não havia aberto as janelas e nem ascendido às luzes, as únicas luzes existentes eram as que piscavam a espera da noite de natal . Mas para que luz? Ele não tava fazendo nada. Se não havia necessidade de luz, para que ascender a luz? Manias estranhas nós temos pensou Alfredo.
Olhou para a TV. Ela estava muda. A última vez que ele havia visto aquela TV assim quietinha foi naquela sexta-feira em que faltou energia por uma noite toda. Ah! Que noite... Cíntia até hoje falava que nunca havia feito daquela maneira. Nem quando eram apenas namorados.
Cíntia? Onde andará Cíntia? Bom!... Deve estar no trabalho! Mas e ele? Não deveria estar no trabalho também?
De repente ouve ruídos no lado externo da porta. É uma chave. Só pode ser Cíntia. Somente os dois têm as chaves da casa. E além do mais os ruídos...
Cíntia entra.
Alfredo sorri e levanta para ir abraçar a esposa, mas ela passa por ele e vai para a cozinha. Alfredo sem entender nada vai atrás. Pede atenção, pergunta o que houve, mas ela nada responde. Ele então percebe que a esposa está chorando. Olha diretamente no rosto de Cíntia e percebe pelo inchaço dos olhos que ela estava chorando há muito tempo.
Alfredo implora para que ela pare e diga-lhe alguma coisa. O que houve? Porque ela chorava daquele jeito? O que ele tinha feito? Ele não entendia, estava tudo tão perfeito. Não sentia frio, nem calor, adorou o silêncio, não foi ao trabalho e não se sentia culpado por isso, e o que era melhor, não havia fumado um cigarro sequer.
Lembrou que nem fome tinha sentido quando viu Cíntia pegar os restos do sanduíche de cima da mesa e ir até a lixeira para jogá-lo fora.
Mas... Ele já havia feito aquilo...
Não fosse a falta de frio, Alfredo sentiria um frio correr pela sua espinha.
Ele agora começava a entender: Ele havia morrido.

domingo, março 9

BOA AÇÃO OU HUMILHAÇÃO?


Estou em casa, - depois de debater com alguns amigos a solução para os problemas de Gravataí, do Estado, do Brasil e do planeta - tomando uma “Original” quando escuto um barulho estranho na rua.
Pensava que era estranho, mas era o barulho feito por um catador na lixeira do prédio que passa por ali todas as noites! Buscava ele ganhar o pão (vida) nos restos da sociedade. Normal! Já ficamos acostumados com isso e, achamos isso normal.
Lembrei de uma biografia que fizeram de Trotsky em que ao chegar em NY foi perguntado o que ele sentia, estando ali: E ele falou que ficou apavorado em ver “em meio a tanta riqueza, alguém procurando na lata de lixo o que comer”. Normal. Isso é o capitalismo. O regime da “democracia”.
Esquecendo Trotsky, vi um brasileiro “fuçando” no lixo. Um brasileiro, esse ser que todos dizem ser um preguiçoso.
Pois é! Esse preguiçoso estava com uma carreta – que normalmente quem puxa é um boi ou um cavalo – catando coisas para vender ou até para usar.
Olhei para o lado e vi um monte de roupas que não uso por não servirem, por não gostar ou até por não querer mesmo! Peguei as que estavam mais a mão e chamei o “preguiçoso” brasileiro e joguei para ele.
Fiz a minha parte de bom cristão – mesmo não sendo um - e de bom cidadão.
Fiquei na janela, tomando minha cerveja e observando o cara.
Ele pôs as roupas no chão e começou dobrá-las com um carinho e uma devoção que fez eu abrir o guarda roupas e procurar mais coisa para dar a ele. Achei calças que nem eu sabia que tinha e que nunca caberiam em mim. Camisas de propaganda que nunca usaria. Lençóis que um solteiro nunca lavaria e comecei a jogar janela a fora.
Cada peça jogada era um sorriso a mais na cara do catador, que fazia com que eu procura-se mais coisa para jogar para ele.
Joguei tudo o que eu não usaria mais. Me senti realizado. Fiz uma boa ação.
Continuei na janela e admirar o zelo com que ele dobrava e guardava aquelas coisas que não me serviam mais.
Aí fudeu!
Vi que meus restos podem ser a felicidade de alguém... O que estava me dando alegria e orgulho tornou-se logo em tristeza.
Que fazer? Voltar a ler Marx?