quinta-feira, dezembro 31


Lá se vai o velho
Não surrado, apenas bem vivido
E bota bem nisso: Que bom!
Não tive tempo de contar quantas cervejas tomei
Não sei quantas horas de sono perdi
e nem quantas horas de festa vivi.
Foi um ano bom para o churrasco
Aqueles de manhã cedo feito de improviso
depois de uma noite de festa.
Não deu muito dinheiro
Mas, dinheiro não é tudo...
- mas podia ter tido um pouquinho mais -
Não fosse o fiado...

Lá se vai o velho
Não vai tarde não.
podia ficar um pouquinho mais
não para prolongar meus 45
Mas porque ele foi muito bom...
Revi amigos que a muito não via
estreitei amizades com pessoas que mal conhecia
e conheci pessoas que realmente fazem diferença em minha vida.

Apesar de não viver grudado em minha família
Amo-os e vão todos bem.
Não consegui fazer de meu filho meu espelho
- e nem tentei -
E mesmo ele não fazendo o que acho que ele deve fazer
- ainda bem, se os filhos só fizessem o que os pais querem
ainda viveriamos nas cavernas -
Cada vez sinto mais orgulho dele.
- Claro sempre tem uma bronquinha. -
Mas o amo mais que tudo.

Lá se vai o velho...
então para todos vocês meus queridos e queridas
UM FELIZ ANO NOVO, MUITA PAZ, AMOR, SAÚDE E FELICIDADE.
- o resto se corre atrás -
Um beijão a todas e a todos
Até para aqueles chatos que tentaram
encher meu saco.

PS. Para os de vida triste que cuidam de minha vida, não desanimem, vou continuar acertando e fazendo merda... mas feliz!

quarta-feira, dezembro 23

O blog está jogado as traças a dias, ou semanas quem sabe!
Não desisti! É que nos últimos dias estou envolvido na troca de local de trabalho.
Já estou instalado novamente, mas ainda tem aquela briga para a instalação dos telefones e liberação da internet. Estou louco de saudade de postar algo. Mas não tenho conseguido por falta de tempo e de condições técnicas, pois além da falta de meios – claro que existe lanhouses e PCs de amigos – quando chega o fim de ano é a hora de “desovar” aquele monte de trabalho que está pendente e que não queremos deixar para o ano que vem.
Mas se não conseguir postar nada antes do natal, já estou desejando um Feliz Natal a todos!
Não só aos seguidores e aqueles que me visitam de vez em quando, mas a todos os amigos do dia-a-dia e aos virtuais.
Que tenham um maravilhoso Natal de muita alegria entre os seus.
E aproveito esse post para dizer a minha querida amiga Déia que mesmo com sua lastimável perda, a vida continua e é bela, e não só eu, mas também todos os teus fiéis amigos estamos aqui de braços e corações abertos para lhe dar a força necessária que tu mereces.
FELIZ NATAL A TODOS!

Pequenas Crônicas de Pequenas Pessoas de Pequenas Cidades - 12

Diziam que os antecessores haviam gastado muito e agora estavam só pagando as contas deles.
Começaram a fazer eventos ridículos, que não eram nem ao menos parecidos com os anteriores.
Não sabiam eles que se não podem fazer algo igual ou melhor, é melhor, não fazer e se preparar para fazer algo igual ou muito melhor no ano seguinte.
E o pior é que muitos já conheciam aquela estória de “dois passos atrás e um à frente” de Lênin.

Pequenas Crônicas de Pequenas Pessoas de Pequenas Cidades - 11


Chegou o final de ano e agora a concorrência iria pegar fogo.
Para aumentar as vendas ele teve a infeliz idéia de contratar pessoas (tra)vestidas de palhaço que não tem graça nenhuma e colocou uma caixa de som a todo volume incomodando não só os visinhos mas aos possíveis clientes, achando que com toda essa palhaçada iria vender mais.

quarta-feira, dezembro 9

Neste Natal


Neste natal eu vou pedir você pra mim
Até já limpei a lareira, a chaminé
Comprei uma meia maior que o pé
Só pra você caber, sabe como é!

Eu já falei com o bom velhinho
Por todo o ano me comportei
Não fiz mal, nem beijo roubei,
neste natal eu te ganho eu sei!

Não precisa nem vir embrulhada
Podem até esquecer de tirar a etiqueta
Que eu quero é te virar do avesso
E pago qual for o preço, nem esquenta!

sexta-feira, dezembro 4

Algo que faltava


Veja só que coisa estranha
Eu ontem lembrei de você
Não foi recordando histórias
Nem olhando fotografias.

Estava só no meu quarto
E alguma coisa me incomodava
Não me deixando dormir;
Não era algo que havia
Mas sim, algo que faltava.

A solidão de minha estante
sem bibelôs e superstições
A minha comida insossa
sem teu gostoso tempero.
E a pele nua das paredes
Fizeram-me lembrar de um vazio.

E ainda hoje sinto um arrepio;
Ao ver que em meu travesseiro
Ainda tem o teu cheiro.

quinta-feira, dezembro 3

Ter


Todo louco tem o seu cachorro
E todo cachorro as suas pulgas
Todo namorado tem um endereço
E certos dias, tem as suas fugas.

Todo cego tem a sua bengala
O que não vê, compensa o ouvido;
Mas é igual a todos os outros
Pois todos têm no centro um umbigo.

Quem casa quer ter a sua casa
Quem ri tem sempre sua risada
E mesmo quando é mal contada
A piada tem uma parte engraçada.

Todo passarinho nasce no seu ninho
Todo réu tem um discurso inocente
Todo jacaré tem um amigo passarinho
E o banguela tem uma boca sem dente.

Todo pé torto tem o seu chinelo torto
Todo careca tem saudade do seu pente
Todo navio que parte deixa o seu porto
Todo atirador de faca têm a sua assistente.

Todos têm
Algo que os outros também tem
O pobre tem fome, e o rico às vezes também.

Alguns têm
Algo que os outros nunca terão
O rico tem pão e o pobre: NÃO.

quarta-feira, dezembro 2

Continho Miudinho 3


Eles não se preocuparam nem um pouquinho com o problema do pobre astronauta.
Disseram que não tinha nenhuma gravidade.

segunda-feira, novembro 30

Constatação


Madonna e Jesus Luz

Madonna agora namora Jesus.
Ou seja, ela é nossa cunhada
Pois somos todos irmãos em Cristo.

quinta-feira, novembro 26

SINUCA


Azuis, verdes, vermelhas, amarelas
Todas se juntam à branca e a preta
Acomodam-se em um triangulo
no começo; após pelas tabelas.

Movem-se desconexas ou exatas
Pelo mundo de feltro verde
Ao serem conduzidas por mãos hábeis
Para aos poucos se recolherem em caçapas.

Em disputas acirradas
Entre álcool e bravatas
E mãos cobertas de giz.

Sucedem francos desafios
Entre contendores amigos
Nessa disputa sã e feliz.

terça-feira, novembro 24

Novamente o cara


Depois de ser chamado de “o cara” pelo presidente Obama, foi a vez de Kofi Annan se derramar em elogios ao presidente Lula.
Em um Jantar no RJ no Golden Room do Copacabana Palace ele falou sobre a forma acertada da política econômica, os esforços pela paz mundial e pela integração dos paises, e isso exatamente no mesmo momento em que a imprensa cerra fileira para bombardear o “filho do Brasil” por ter recebido Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã.

Megalo Espirito


Mesmo que eu utilize todas as palavras da maior biblioteca;
mesmo que eu macule o branco de todos os papéis;
mesmo que eu declame todas as odes e versos;
mesmo que eu soe todos os tons e acordes;
mesmo que eu letrerize todas as músicas;
mesmo que todo bloco tome forma ao toque de meu cinzel
e nenhuma tela permaneça virgem diante de meu pincel...
Mesmo que eu tudo faça,
tudo expresse,
tudo crie...
Não conterá um só vestígio do que envolve e revolve meu espírito.

sexta-feira, novembro 20

Pedido inusitado


Cincinato ainda bem jovem aprendeu o ofício de eletricista residencial com seu pai. Não acumulou o suficiente nestes vinte e cinco anos para poder dizer que tem uma vida tranqüila, mas também não se queixa, ainda mais que todo final de ano ele deixa de lado fios, tomadas e chaves testes para fazer o que mais gosta: ser Papai-Noel.
A primeira vez que ele pôs a fantasia vermelha, foi apenas para dar uma incrementada no orçamento para o final de ano, e decidiu encarar a empreitada após uma menina perguntar a mãe em uma fila de supermercado, se ele era o “bom velhinho”. Cincinato olhou para um espelho e viu que sua espessa barba e cabeleira branca lembravam Papai-Noel. Ele herdara do pai, além da profissão as precoces cãs.
A princípio era apenas mais um bico, mas com o tempo ele apaixonou-se pelo trabalho, não que desse muito dinheiro, mas era a satisfação que ele ganhava que valiam a pena. Cleide, sua ex-esposa não lhe deu um filho. Ser Papai-Noel era uma forma de suprir seu amor e carência pelo filho que não tinha. Ele sabia que não era a mesma coisa que ter um filho, leva-lo a pracinha ou ao estádio de futebol, mas se contentava com suas crianças. Sim! Ele considerava todas aquelas crianças suas, pelo menos enquanto estava com a fantasia vermelha.
À parte que Cincinato mais gostava era quando podia colocar uma criança sobre seus joelhos e ouvir as palavras amorosas que elas diziam em meio ao pedido de seus presentes, aquilo sim valia a pena em vez de ficar empoleirado em uma escada trocando fios queimados.
Deu onze da noite. Cincinato entrou no bar do Denis e sentou-se em sua mesa habitual. Denis ao vê-lo abriu uma cerveja e foi levar-lhe. Ele sabia que o “bom velhinho” – como ele costumava chamar o amigo – sempre passava ali para uma cerveja e um bom papo antes de voltar para casa.
_ Um presente bem gelado prô “bom velhinho”! – brincou o proprietário do bar.
O canto direto do lábio de Cincinato – que estava quase que completamente escondido pelo bigode branco – moveu-se como que querendo expressar um sorriso. Serviu-se de um longo gole e ficou ali quieto com o olhar perdido.
Denis continuou seu trabalho, mas não sem perceber que alguma coisa estava errado com seu amigo. Às vezes Cincinato não estava lá para muitas brincadeiras, mas em geral, quando chegava a época dele encarnar Papai-Noel ele ficava bastante alegre. Chamou a esposa que acabara de fritar uns pastéis para ela assumir seu lugar no balcão e foi ter com o amigo.
_ Posso sentar e tomar uma contigo? – Cincinato lançou-lhe um olhar triste e moveu os ombros em sinal de “tanto faz!”. Denis sentou e tomou também um longo gole.
_ O que foi meu amigo? O que está lhe incomodando para estar triste dessa maneira?
_ Ah Denis meu velho... Esse trabalho me deixa muito feliz, tu sabes bem isso!
_ Sim! Claro! É por isso...
_ Sabe cara, o que me deixa mais feliz nesse trabalho? É conversar com os “pimpolhos” e escutar os seus pedidos...
_ É sei...
_ Às vezes, é bem verdade, me parte o coração quando uma criança pede algo que percebo que seus pais não serão capazes de comprar para elas, porque quando elas pedem para o Papai-Noel elas realmente acreditam que eu sou o velhinho e, que eu irei na noite de natal em suas casas para deixar lá os seus presentes... – tomou mais um gole - Aí fico pensando, o que se passa na cabecinha delas, quando pedem um autorama e encontram embaixo do pinheirinho um carrinho de plástico bem vagabundo...
_ Que isso cara! Você não é o Papai-Noel! Isso é apenas um emprego!
_ Sei...
_ E todos os anos isso acontece e sempre irá acontecer, portanto tu não podes ficar assim homem...
_ Sabe o que é Denis... – tomou mais um gole para poder continuar - É que hoje uma menininha me pediu algo que me cortou o coração...
_ Que foi? Pediu um brinquedo muito caro?
Os olhos de Cincinato encheram-se de lágrimas que começaram a escorrer pelas bochechas e pela barba.
_ Não amigo! Ela pediu para eu falar para o pai dela, que ela deseja que ele pare de visitá-la em seu quarto à noite quando sua mãe sai para trabalhar.
Denis ficou acompanhando o amigo na cerveja e num choro mudo sem saber o que dizer.

terça-feira, novembro 17

SUSTO


Assustou-me o olhar que vi em teu rosto
Em tão pouco tempo tua alma já corrompida
Em meio a dúvidas e nítidos arrependimentos
Vi que lá atrás uma candura fora esquecida.

Espiei-te inteira pela fechadura da vida, e
Assustei-me por ver que estavas pequena
Assustou-me novamente, muito mais ainda
Ao perceber que o meu sentimento por ti,
era apenas o de pena

sexta-feira, novembro 13

Os erros dos outros


O casal aproveitou a noite quente de verão para tomar uma cervejinha. Foi um dia cheio para ambos, nada melhor que uma cadeira de barzinho na calçada. Resolveram que não iriam jantar em casa. Talvez uma pizza! Enquanto não decidiam o que iriam comer ficaram a falar de amenidades do dia-a-dia.
Carla percebeu que o marido não estava muito interessado no que ela falava. O olhar de Paulo estava preso em algo do outro lado da rua. A principio ela não desviou o olhar para ver o que estava chamando tanto a atenção dele. Ela lembrava de uma discussão feia em que eles entraram noite adentro por ela estar “policiando” para onde ele olhava. Ela não queria passar por aquilo de novo. O melhor era fazer de conta que não estava percebendo nada e continuar a contar seu relato, mesmo sabendo que ele nem estava ouvindo.
Depois de um tempo ela parou de falar e ficou com o olhar perdido no cardápio. Não estava lendo nada. Estava apenas tentando não olhar para o ponto que o marido estava olhando. Na certa não era nada demais, mas algo dizia ao seu instinto de fêmea que só podia ser para uma outra mulher que ele tanto olhava.
Passou-se quase um minuto e ele nem ao menos percebeu que ela estava quieta. Não se conteve. Virou-se bruscamente a procura da oponente. Seus olhos correram pelo outro lado da rua, entrou em carros que estavam estacionados e outros que passavam, procurou alguma janela aberta onde ela pudesse estar, e nada!
Tentou puxar assunto. Nada! Ele só dava respostas monossilábicas. Paulo continuava com o olhar preso em algo no outro lado da rua. O garçom veio até a mesa para anotar o pedido. A muito custo ela conseguiu fazer ele se concentrar no pedido.
Tão logo o garçom se retirou, o olhar de Paulo perdeu-se no outro lado da rua novamente. Carla não se conteve...
_ Pelo amor de Deus! Que raios tu tanto olhas para o outro lado da rua? – Paulo deu um pulo como se fosse arrancado de um pesadelo.
_ Quê? – procurou uma resposta – Nada! Não estou olhando nada!
_ Como assim nada? Desde que nós chegamos que tu não para de olhar prô outro lado da rua!
_ Só tava olhando aquele menino que esta pedindo esmola!
_ Ah sim! E o que este menino tem assim de tão excepcional para tu não tirar os olhos dele?
_ Nada! Estava apenas pensando nesses irresponsáveis...
_ Quem?
_ Os pais desses meninos e meninas que ficam por ai! Se esse governo tivesse um pouco de pulso tiravam eles das ruas e jogavam numa cadeia os pais deles e deixavam para morrer no fundo de uma cadeia.
_ Nossa! Não acha que esta exagerando não? São apenas meninos...
_ Sim! Hoje são apenas meninos! Mas logo estarão com uma arma na mão, se é que já não as tem. Olhe bem para a “carinha de santo” que esse moleque tem.
_ Tá Paulo... Fale baixo... está chamando a atenção de todo mundo...
_ Esse é o problema – olhou confiante e desafiador para as pessoas que estavam nas mesas próximas -, ninguém quer enfrentar a verdade, só querem ficar em suas casas lamentando em frente a tv...
_ Tá bom... ta bom...
_ Ta bom nada! Onde está os pais desse moleque? Garanto que está na outra esquina só esperando o guri levar uns trocados pra ele tomar uma cachaça ou fumar uma pedra...

_ Paulo, o menino está vindo para cá...
_ É bom! Quero perguntar para ele onde estão os vagabundos que o pariram...
_ Aí Paulo! Coisa mais grosseira – impacientava-se –, não vai ser rude com a criança... Ele deve ter no máximo uns dez ou dose anos!
_ Criança... criança... pois sim!
_ Oi tio! Tem um trocadinho? – pediu o menino assim que chegou próximo a mesa.
_ Tenho sim! – respondeu - . E seu pai teria também, se não gastasse tudo com drogas e trabalhasse como todo mundo.
_ Para Paulo... – falou de cabeça baixa, tentando não ser notada.
_ Não tenho pai não tio! – defendeu-se assustado o menino.
_ Ah tá! Veio ao mundo pela graça divina!
_ Sei não!
_ Aposto que teu pai tá na esquina te esperando pra pegar o dinheiro que os otários te dão.
O menino, sabendo que nada ganharia em ficar discutindo e já calejado em ser escorraçado, virou as costas e foi para a mesa mais próxima tentar a sorte.
_ Viu! São uns dissimulados...
_ Acho que tu ta exagerando Paulo...
_ É... Estou sim! Vocês têm peninha deles né?
Neste momento entra uma mulher vestida com roupas que não combinavam com os freqüentadores do bar, não que o bar fosse de muito luxo, mas suas roupas sim é que pareciam que vinham do lixo.
_ Filho, vamos embora – disse a mulher para o menino -. Já está ficando tarde, vamos perder o último ônibus. – e puxou o menino pelo braço.
Foi uma fração de segundos, mas o suficiente para Paulo reconhecer a mulher.
_ Vamos embora Carla! – disse Paulo levantando-se.
_ Como assim? E nossa pizza?
_ Vamos e pronto. Vou pedir para eles entregarem lá em casa!
_ Mas Paulo... – Era tarde, ele já havia levantado-se e dirigia-se ao caixa.
Carla confusa, procurou no fundo da bolsa por alguns trocados. Achou algumas moedas.
_ Ei menino! – chamou. A mãe ao ver Carla com umas moedas na palma da mão soltou o braço do filho. O menino correu ao encontro de Carla – ou das esmolas - e pegou as moedas que ela lhe ofertava.
_ Obrigado tia – respondeu vivamente o menino -. Deus proteja à senhora. Boa noite.
_ Boa noite! – o menino correu para o encontro de sua mãe para ir embora.
Paulo voltou e tomou Carla pela mão. Saíram. Entraram no carro sem falar nada.
Enquanto ele ligava o carro ainda pode ver pelo retrovisor, o menino indo embora de mãos dadas com a antiga doméstica de seu pai que ele havia engravidado e tentara sem sucesso convencer ela a fazer um aborto dez anos atrás.

quinta-feira, novembro 12

Literatura x Sub-Literatura


Escutei Charles Kipfer – escritor e professor que gosto muito – dizer na BandNews Fm que a sub-literatura não cria leitores.
Respeito o escritor e professor, mas discordo desta afirmação, até porque acho muito difícil classificar o que é sub-literatura.
Comecei lendo, como quase todos os garotos começam. Lia Tio patinhas, Pato Donald e principalmente Tarzan, Batman, Supermam e outros superherois enlatados, que não considero sub-literatura, mas sim uma mídia diferente, com proposta diferente para um público “alvo” diferente.
Só passei a ler livros “sem figurinhas”, quando entrei num universo – esse sim, considerado por quase todos como sub-literatura – que era a dos antigos pocket’s de faroeste e guerra. Isto mesmo, os livrinhos de Marcial Lafuente Stefania & cia.
Com o tempo, meus pais perceberam que eu gostava de ler e compravam para mim uma coleção maravilhosa – que era semanal - editada pela Abril -, chamada “Clássicos da Literatura Juvenil”. Ali pude ler “Odisséia”, “Robinson Crusoé” – aliás o primeiro que li da coleção, e li mais de quatro vezes, sabe-se lá quantas vezes -, “Moby Dick”, “20.000 léguas submarinas”, “Tom Saywer”, “Huckberry Finn”, “Viagem ao centro da terra”, “Bem-Hur”, “As viagens de Gulliver” e muitos outros, adaptados para o público adolescente, que só não tenho hoje porque dei a coleção de presente ao meu filho.
Dos adaptadores, só lembro de nome, o maravilhoso Monteiro Lobato e das ilustrações maravilhosas de Miécio Tatti.
Eram clássicos escritos de uma forma simples para a cabeça simples de um adolescente.
Destes, parti para alguns livros de Agatha Cristhie – influenciado pelos filmes –, até chegar no “Capitães da Areia” de Jorge Amado.
Foi paixão a primeira vista. Li “Cacau”, “Suor”, “Seara Vermelha” e alguns outros até delirar com os três livros de “Subterrâneos da Liberdade”. Aí – pela influencia destes - entrei para o mundo da política e para a inconstante busca da verdade nos livros. Se a encontrei não sei, mas pelo menos eles me ensinaram a pensar em vez de só repetir o que os outros falam.
A partir deste(s), tornei-me um leitor adulto, mas sem medo de vez em quando me aventurar pelos sonhos de Julio Verne, ou nas aventuras de Ken Follet e inclusive nos universos fantásticos que concebem roteiros e desenhos maravilhosos. Falo de Franck Miller, Bill Sienkiewicz, Moébios, Jodorowsky etc.. e também de brasileiros como Luiz Gê, Miguel – Mike – Deodato – Pai e filho – e Mozart Couto.
Não apresente Chopin e Beethoven a periferia que sem dúvida ela nunca gostará de Chopin e Bethoven.
Não apresente Arlindo Cruz e Carlos Cachaça ao asfalto que sem dúvida ele nunca gostará de Arlindo Cruz e Carlos Cachaça.

O “hábito da leitura” vêm, como a própria expressão diz: pela leitura.
Quem não lê, nunca gostará de ler.
Adoro o “O velo de Onagro”, “Trabalhadores do Mar” e o “Germinal”, mas se tivesse lido Henoré de Balzac, Victor Hugo e Emile Zola na época em que lia Bob Kane, Lee Falck, Jack Kirby ou Maurício de Souza, provavelmente hoje teria ojeriza aos livros.

quarta-feira, novembro 11

ESQUECIMENTO


Estava lendo sobre o último filme de Rodrigo Santoro – “I love you, Philip Morris” com Jim Carrey - e lembrei de comentários ditos por várias pessoas, inclusive por “formadores de opinião” que ridicularizavam Santoro por sua atuação em “As panteras”, pelo fato de seu personagem não ter um diálogo sequer.
Talvez agora, ao lado de um ator mundialmente famoso e principalmente sendo um ator norte-americano – ou americano, como costumamos dizer, como se não morássemos no continente americano – as pessoas comecem a sentir orgulho por terem um ator brasileiro atuando no mercado cinematográfico mais famoso do mundo.
Tá!... Mas onde entra o esquecimento nisso tudo?
É que parei para pensar: qual foi o último artista brasileiro que havia atuado no cinema norte-americano, e fui perceber que foi Carmem Miranda. E sem dúvida ela esta esquecida por uma grande maioria de brasileiros. Muitos nem sequer sabem quem foi, ou que apesar dela ser um orgulho nacional – para alguns - , na realidade – de nascimento - era portuguesa e não brasileira.
Aí acabei me envergonhando, pois só enquanto lamentava o esquecimento da Pequena Notável – como era chamada Carmem – é que fui lembrar de Sônia Braga, que exatamente quando estava “bombando” no Brasil, foi tentar uma carreira internacional nos Estados Unidos.
Lá, Sônia Braga fez muitas pontas em seriados de tv e no cinema. Fez também filmes em que não era coadjuvante e, é bem verdade que por aqui pouco ou quase nada se ficou sabendo. Eu por exemplo só vi um filme em que ela faz uma famosa ex-prostituta que havia tornado-se fazendeira e uma participação dela em um seriado de humor que não lembro o título.
Mas será que não esqueci de outros? Talvez haja outros que esqueci. Nós nos esquecemos facilmente de muitos e de muitas coisas, e isso é ruim.
Mas o que seria do homem se não tivesse o “dom” do esquecimento?
Às vezes, amigos ou familiares muito chegados tem de separarem-se. Nos primeiros dias a saudade é muito grande, mas com o tempo ela vai-se amainando até cair no quase ou total esquecimento.
O que seriam dos finais de relacionamentos amorosos se não tivéssemos como esquecer a pessoa (ex)amada? Viveríamos infelizes pelo resto da vida e não haveria a possibilidade de nos apaixonarmos por outras pessoas.
O que dizer da morte de pessoas queridas então? Como levaríamos nossas vidas se não esquecêssemos em nenhum momento a falta que nossas perdas nos fazem?
Claro que não esquecemos totalmente, mas podemos, digamos assim, abstrair destas lembranças para podermos continuar a levar nossas vidas.

terça-feira, novembro 10

UniTaliban


Sempre falo que não podemos julgar conceitos de sociedades distintas a nossa com nossos conceitos.
Assim como achamos errado o uso da burca, os povos que a utilizam devem achar errado mulheres nuas em revistas.
Mas depois do caso da Uniban, fiquei confuso.
Deve haver muitos Talibãns no ocidente...

DÚVIDAS


Era para ser eterno, mas agora preciso de um tempo!
Mas como assim? O que eu sentia não era verdade?
Fiz até mil planos. Era para toda a eternidade...
Será que o amor é algo que só vive de momentos?

Quando convidei-te para vir era para sempre!
Fiz do resto de minha vida, toda a minha vida
Tinha certeza. Era todo e pra sempre certeza!
Só não havia contado com as dores das feridas.

Agora quero um tempo!
Que tempo?
Por acaso tem poder a distância
De dar ao coração algum alento?

Agora quero um tempo!
Que tempo?
Será verdade que dando um tempo
Pode-se apagar todo um sentimento?

segunda-feira, novembro 9

Continho Miudinho 2

Ele disse para ela que precisava de um tempo!
Ela respondeu que quem dá tempo é meteorologista!
Eles, nunca mais se viram

quinta-feira, novembro 5

O mar tinha...


O mar tinha turbulências que agitavam suas ondas,
Queria eu transformar em campos de mansidão
o mesmo mar que tem belezas que sempre me seduzem
Que mesmo agitado, não transbordam meu coração.

O mar tinha um modo só seu de me fazer alegre
Que sendo belo e imenso ainda voltará a ter
E por ser único, imenso, amigo e poderoso
Sei que tornará a calmaria que sempre me deu prazer.

Com amor para a Toca

quarta-feira, novembro 4

Continho miudinho

Na vida ele sempre caminhou para frente.
Até que um dia deu de cara no muro.

quarta-feira, outubro 28

Um de nós


É! você não sabe, mas agora já sei,
Porque nossa vida é essa calmaria.
É que mesmo sempre estando juntos
Já não somos pra nós uma boa companhia.

Não basta se estar juntos todo dia
Se não existe mais uma cumplicidade
Pois se em nada mais nos completamos
E juntos somos apenas nossa metade.

Se seu sorriso é sozinho
Seu pranto é incompreendido
Já deve ser hora de eu partir.

Melhor é viver de saudade
Talvez assim dessa maneira
Um de nós ainda possa sorrir.

terça-feira, outubro 27

inversão de papéis


Não cheguei a ler essa notícia: “Traficantes ajudam taxistas – ou moradores, não lembro bem – a prender assaltante”, apenas ouvi na chamada do “Jornal o Sul” pela tv.
Na hora lembrei da música “Acorda Amor” do Julinho da Adelaide – Leia-se Chico Buarque – onde o cara chama o ladrão para lhe ajudar quando percebe que a policia está no seu portão.
Que traficantes “cuidam” da população onde atuam quando falta o estado para o fazer, já não é nenhuma novidade. Mas agora parece que também estão fazendo o papel da policia! Claro que para preservarem os seus negócios!
É uma total inversão de papéis. Se continuar assim, logo veremos adolescentes presos porque tinham livros e cadernos escondidos no meio da droga ou, quem sabe a pessoa ser presa porque tem a nota fiscal do produto que esta carregando ou, ser preso porque pagou seus impostos ou, etc... etc...

sexta-feira, outubro 23

PONTA DO LÁPIS




Uma raridade
Compacto duplo de 1975. - para quem não tem no mínimo 35 anos eu explico: Lembram o LP, aquele famoso bolachão que existia antes do CD? Pois é! O compacto era igual, só que menorzinho, normalmente cabia só uma música de cada lado. Sim! tinha lado. Só não tente isso com o CD...



quinta-feira, outubro 22

Um pouco de alegria


Se eu tivesse ao que recorrer
Nessas noites frias de outono
Recorreria há um pouco de alegria
Para acabar com esse abandono.

Se eu soubesse fazer uma oração
Imploraria a todos os santos
Por um pouco de alegria
Para temperar os versos do meu canto.

quarta-feira, outubro 21

Finalmente havia chegado o dia.


Carlos está ansioso. Na última vez que olhou o relógio era cinco e trinta. Amanheceu e ele não conseguiu dormir um instante sequer. Finalmente havia chegado o dia.
Em sua cabeça, sua vida passava como se fosse um filme. Um filme triste mas que finalmente teria um final feliz!
Ele volta a um dia quente nos anos setenta. Uma viatura para em frente a sua casa. A mulher com uma cara de carrasco e dois policiais falam com sua mãe. De onde ele está não consegue escutar o que eles falam mas sabe que não é algo bom pois sua mãe cobre o rosto e chora. Assim que aquelas pessoas vão embora ele corre para a mãe que lhe fala entre soluços e gemidos que seu pai morrera em um atropelamento.
Os anos que se seguem não são muito fáceis para os dois. Carlos é obrigado a abandonar os estudos e trabalhar para ajudar a mãe a sustentar eles dois e seus irmãos. O dinheiro que ele consegue nos pequenos biscates é insuficiente para o sustento deles.
No começo dos anos oitenta Carlos é levado para uma “Casa Correcional para Menores Infratores” depois que foi preso por pequenos furtos. Lá na “Correcional” a vida fica pior ainda. Os funcionários os tratavam de forma desumana e a única ajuda que ele pode esperar era a de outros detentos.
Uma noite vem à fuga. Quase todos os adolescentes são pegos novamente mas Carlos consegue escapar. Muda-se de cidade e começa a viver de roubos e pequenos tráficos. Não ganhava muito mas era o suficiente para ir levando a vida.
Num final de semana Carlos vai a uma festa e conhece Tereza com quem tem um filho: Mateus. Carlos, agora um pai orgulhoso retorna a cidade natal para apresentar esposa e filho a sua mãe mas, fica sabendo que ela morreu, não se sabe lá do que, logo que ele havia sido levado para a Casa Correcional. Carlos sempre achou que foi de desgosto, mas nunca teve a certeza.
O tempo foi passando e chegou o ano em que o Brasil iria escolher o seu presidente depois de muitos anos de eleições indiretas. Para Carlos aquilo tudo não tinha importância alguma. Há muito ele havia esquecido o que era ser um cidadão. Tinha os seus iguais e seus códigos de condutas. A política em nada o interessava. Todos estavam indo as urnas e ele apenas esperava no local que fora combinado por um carregamento que ele havia acertado depois de guardar um bom dinheiro fruto de muitos roubos e vendas de drogas.
Na hora marcada o insuspeito carro lhe entregou a mercadoria e levou o pagamento. Agora ele iria ser grande no negócio. Não venderia mais para o “patrão” da boca, ele seria seu próprio chefe. E assim seria, não fosse o acerto entre a polícia e o “patrão”. Não teve tempo de vender uma só “trouxinha” e a polícia invadiu sua casa e o levou preso. O que mais doeu em Carlos foi ver o espantado Mateus - na época com doze anos – ver seu pai ser algemado e arrastado para dentro de um camburão.
Nos primeiros anos de cadeia Carlos recebia a visita regularmente de Tereza e Mateus. Carlos prometeu aos dois que quando saísse dali tudo seria diferente. Eles teriam uma vida descente e os dois poderiam sentir orgulho dele. Carlos procurou não se envolver em nenhuma confusão na prisão. Começou a aprender a ler e escrever com um pastor que lá ia atrás de ovelhas para seu rebanho.
Num dia de visita, Tereza veio sozinha e lhe falou que iria se casar com um “homem descente” – dessa vez de verdade, em igreja e tudo – e Mateus iria com ela e o novo marido para uma outra cidade. O já esculhambado mundo de Carlos desmoronou, mas com a ajuda do pastor e de outros crentes “residentes” da cadeia ele se ergueu.
Prometeu para si mesmo que terminaria os estudos que agora estava podendo ter na cadeia e guardaria cada centavo que ganhava nos trabalhos que desempenhava na prisão para quando sair dali e poder ir buscar seu filho: Talvez ele tivesse perdido uma mãe e uma esposa de desgosto, mas o filho não! Mateus veria que ele era uma pessoa mudada. Que era um homem descente assim como aquele que Tereza arranjou para colocar em seu lugar.
Não culpava Tereza! Ele é que fora culpado por não agir direito. Desejava que ela fosse feliz com seu “homem descente”, ele agora só pensava em sair e reencontrar o filho.
Os dias foram passando lentamente até que Carlos não conseguiu dormir a noite toda de tão ansioso por haver finalmente chegado o dia.
Carlos foi ao refeitório para o seu último café da manhã na prisão. Não sentiu gosto algum naquele café horrível que era-lhe servido todos os dias durante os últimos longos anos de prisão. Despediu-se dos poucos amigos que fizera ali dentro, principalmente do pastor Roberto.
Era dez horas quando vieram buscar-lhe na sala de triagem. Deu um desinteressado aperto de mão no cínico diretor que falava para ele e mais dois detentos que ganhavam junto com ele a tão sonhada liberdade naquela manhã : _ Espero não velos mais por aqui senhores, as acomodações são poucas! Como podem ver, sai três e entra doze no lugar! – apontava com seu gordo dedo para uma janela gradeada por onde se podia ver um pátio ao lado. O mesmo pátio que recebera Carlos anos atrás.
É meus senhores – continuava o discurso – isso aqui é um inferno e como existem muitos diabos como vocês, isso não acaba nunca! – Carlos aproximou-se da janela e viu os dois camburões que “despejava” doze novos detentos.
Carlos estava prestes a ganhar a liberdade mas preferiria morrer a não ter visto o que viu. Entre os doze infelizes que chegavam para ficar em seu lugar naquele odioso inferno, haviam um jovem que em muito se parecia com ele, e Carlos não tinha dúvida quem era esse jovem que ali chegava algemado, Era, o motivo pelo qual decidira ter uma nova vida, era o seu tão querido filho Mateus.

quinta-feira, outubro 8

Os homens deveriam


Os homens deveriam ser mudos
Não falariam mentiras
Não criariam intrigas
Não caluniariam.

Os homens deveriam ser surdos
Não escutariam maus conselhos
Não dariam ouvidos ao ódio
A ganância, a ira, a inveja...

Os homens não deveriam sentir
Medo de dizer a verdade
Não sentiriam a inveja
O abandono, o frio, a fome...

Os homens deveriam ser cegos
Não desviariam seus olhares
E dariam sem medo as mãos
Sem verem a cor do outro.

Os homens deveriam
Falar
Ouvir
Sentir
Ver
O que deveriam.

quarta-feira, outubro 7

Pequenas Crônicas de Pequenas Pessoas de Pequenas Cidades - 10


Ele não leu nenhum livro que a professora mandou ele ler. Mas entregou um trabalho que baixou na internet e a professora fez de conta que ele o fez, porque ela fez de conta que recebeu por um trabalho que ela fez de conta que fez e o estado fez de conta que a pagou por um trabalho que ninguém fez.
Qualquer semelhança com qualquer coisa ou pessoa é meramente qualquer coisa.)

terça-feira, outubro 6

Yeda a tresloucada


Em entrevista ao Roda-Viva da TVCultura, a Governadora Yeda, tresloucada divagou tanto que os telespectadores pediram para ela ser objetiva e dar nomes aos bois. As respostas eram tão absurdas que os entrevistadores faziam caras que demonstravam que não estavam entendendo nada e muitas vezes fazia as perguntas com um sorriso, já esperando outra divagação por parte da governadora.
Entre as maluquices, Yeda alega ser tudo um “disse-me-disse”, pois existem um “mercado de escândalos” midiático e que ela se sente num Big Brother.
Em sua megalomania comparou-se a Flores da Cunha.
Em um outro momento falou que o estado esta bem financeiramente e que investidores vem pessoalmente lhe perguntar se é seguro investir no estado, como se as coisa funcionassem assim tão simples.
Sobre o fato de 60% dos gaúchos apoiarem o pedido de impeachment, ela divagou alegando que eles não querem o impeachment, mas apenas apóiam o processo. Só não entendi o que foi que ela bebeu!
Sua atuação foi tão burlesca que Caruso fez uma charge em que aparece um gaúcho pilchado falando - Mas báh! E o próximo presidente pode ser uma mulher!

segunda-feira, outubro 5

La Negra



Faleceu "La Negra", Mercedes Sosa que estava internada desde 18 de setembro.
Uma das mais importantes vozes da America Latina e combatente dos regimes totalitários deixa um vácuo na música de protesto e resistência.

sexta-feira, outubro 2

Boemia


Eu adoro a noite. Só não sou guarda noturno porque ai não poderia aproveitar as coisas boas da noite.
Mas o que eu queria dizer é que tem algumas pessoas que não entendem a boemia. Essas pessoas confundem muito a boemia com o alcolismo.
Mas não é obrigatório usar álcool ou qualquer outra droga que seja. O boêmio apenas tem de ser um embriagado. Pode ser embriagado pela música, pelas boas histórias, pelas mulheres, pelas filosofias de boteco, sei lá! Alguma embriaguez tem de haver, porque boemia não combina com cara amarrada, mau humor, conversa sobre trabalho. A noite tem de ser alegre. Palavras tristes só nas letras das músicas de dor de cotovelo ou então no desabafo do boêmio.
A boemia é aquela eterna namorada que não casa de jeito nenhum, porque se casar estraga. Porque o casamento requer certas responsabilidades e o boêmio não pode ser muito responsável, apenas o suficiente para voltar pra casa são – ou não muito - e salvo,- não necessariamente para a sua própria casa – e estar de prontidão para mais uma noitada.
A boemia requer um pouco de devoção. O boêmio tem de ser guerreiro para virar a noite e enfrentar o dia como se tivesse descansado como todo mundo.
Afinal de contas ser boêmio é um estilo de vida.
Ou para alguns – entre os quais eu me encontro -: É a vida

quinta-feira, outubro 1

URGENTE

Troco dois Tamiflus e oito frascos de álcool gél por um guarda-chuvas e uma galocha.

Atenção Lapa! Atenção Rio

Atenção Lapa! Atenção Rio!
Está aí pelas suas ruas e bares esse cara. Prestem atenção nele!
Ele já deixou minha cidade orfã de música, a próxima pode ser a de vocês!
O cara é bom mesmo...

quarta-feira, setembro 30

Pequenas Crônicas de Pequenas Pessoas de Pequenas Cidades - 9


Ele é o cara!
Vai a todas as festas com seu cabelinho alinhado e roupas da moda. Dança todos os ritmos e agrada a todos.
Gasta logo de saída seus poucos “pilas” e fica filando um gole aqui e outro ali.
Quando ninguém mais agüenta dar golinhos ele faz a proposta:
_Me paga uma que amanhã te pago uma lá no...
E as pessoas pagam mesmo sabendo que é mentira, afinal de contas ele é o cara!


(Qualquer semelhança com qualquer coisa ou pessoa é meramente qualquer coisa.)

terça-feira, setembro 29

ESPERANDO A CHUVA


"A gente olha pro horizonte, vê que o céu está ficando escuro, as nuvens estão carregadas, logo um clarão no céu, é o primeiro relâmpago anunciando que a chuva vai ser daquelas. Olhamos para cima, vemos o forro todo manchada pela última chuva.
_Será que vai ser uma chuva forte? Será prolongada ou uma simples chuva de verão?
Não sabemos como vai ser, por isso pegamos uma panela e colocamos estrategicamente abaixo da mancha no teto. Se chover aqui dentro não molha o chão!
E começa a chuva. E logo começa a goteira, não há motivos para preocupação, se encher esta temos outras panelas e além do mais, sempre haverá a possibilidade de jogarmos a água fora e usarmos a mesma panela com o mesmo fim até que a chuva passe.
E assim fazemos: Vamos trocando de panelas, esvaziando umas enquanto outras vão ficando cheias até o momento que não conseguimos mais acompanhar o ritmo da chuva. Logo o chão está todo molhado, temos de suspender os tapetes do chão, arrastar os móveis para um canto...
Tão logo passa a chuva tomamos novamente a decisão de consertarmos o telhado para que aquilo nunca mais aconteça.
É mais ou menos assim que a questão da segurança publica é encarada no Brasil! Se é que ela é encarada, no mínimo se dá uma espiadinha nela por uma frestinha.
Nada ou pouco se fez para conter o avanço do narcotráfico e a escalada da violência, mas depois de assistirmos estarrecidos casos como o do menino João Hélio, aparecem de todos os lados “autoridades” indignadas e prontas para resolver o problema da goteira quando deveriam ao menos ter tentando fazer algo antes de começar a cair o primeiro pingo."

Fiz este comentário aqui no blog em 13 de fevereiro de 2007. Estamos em 2009 e nada ou quase nada mudou - para melhor é claro! para pior... -.
Mas o motivo pelo qual eu o postei novamente não é o narcotráfico mas, porque ele servir direitinho para o que está acontecendo no momento no RS.
As cidades e os desabrigados pelas chuvas- não os desta semana, mas das chuvas anteriores- ainda estão esperando o dinheiro disponibilizado pelo governo federal.
O dinheiro não veio ainda, simplesmente porque o desgoverno do estado do RS, o desgoverno da piromaniaca Yeda, não mandou o relatório - ou cronograma, sei lá o nome certo - informando onde e como irá utilizar o dinheiro.
Se fosse para comprar uma casa ou dividir entre os amigos, já tinham dado um jeito.
É... vamos esperar a próxima chuva com as nossas panelas em punho!

sexta-feira, setembro 25

Já tenho saudade...


Já tenho um cigarro, só falta teu fogo
Já tenho um prato, só falta teu gosto
Já tenho meus dentes, só falta tua carne
Já tenho um espelho, só falta seu rosto.

Já tenho um nariz, só falta teu cheiro
Já tenho uma música, só falta teu ouvido.

Já tenho uma cama, só falta teu sono
Já tenho minhas dúvidas, só falta teu nexo
Já tenho um abraço, só falta teu beijo
Já tenho fome, só falta teu sexo.

Já tenho um ombro, só falta teu choro
Já tenho um caminho , só faltam teus pés.

Já tenho uma tinteiro, só falta tua rima
Já tenho uma sede, só falta teu seio
Já tenho uma boca, só falta tua língua
Já tenho um vazio, só falta tu no meio.

Já tenho saudade, já tenho saudade.

terça-feira, setembro 22

Asas


Nas asas desse pensamento
Cruzo todo esse mar de sentimentos
Voando por sobre as bravas ondas
Que vão e voltam como lembranças.

As asas batem a todo o momento
Tentando deslocar como os ventos
O que não quero mais, para bem longe
Para ficar inatingível, como no esquecimento.

Ah! essa ave chamada amor...
Se atira sem medo para o primeiro vôo
Como uma águia do alto do rochedo.

Não fosse a certeza que iria voar
Assim como ela, o amor não iria se jogar
Nos braços desta sedutora cruel
Que tem nos olhos a cor do céu.

sexta-feira, setembro 18

THEDA BARA


“Beije-me sua tola”...
Diva de beleza exótica
De sedas transparentes
E fantasias de sonhos eróticos.

Com seus olhos pintados de negro
Mulher tigre, Morte àrabe
Vampira criada ao pé da esfinge
Serpente do Nilo, Carmem

Madame misteriosa, Cleópatra, Salomé
Dançariana, Julieta, Princesa do silêncio
Luz a sul de Buda, bela russa, Mulher.

“Beije-me sua tola”...
com suas palavras mudas
Dona de beleza rara
Minha Theda Bara

Mão no fogo


José Serra, governador de São Paulo, junto com outros lideres tucanos assinaram um manifesto colocando a mão no fogo pela governadora do RS, "Piroyeda Crusius". Isso vai acabar dando num monte de mãos queimadas.
Veja o texto : "A direção nacional do PSDB, os governadores eleitos pelo PSDB e os líderes partidários vêm reiterar o enorme respeito que têm pela governadora Yeda Crusius e por toda a sua longa trajetória política, construída com competência e respeito a princípios éticos. Estamos seguros de que a governadora saberá responder a cada uma das acusações que lhe são imputadas por seus opositores no Estado. Lamentamos ainda que a radicalização do quadro político no RS esteja colocando em segundo plano a importante obra administrativa do Governo Estadual, que vem buscando, com extrema seriedade, o equilíbrio das contas públicas e o resgate da credibilidade interna e externa do Estado. Com este documento tornamos pública nossa total solidariedade à governadora Yeda Crusius, ao PSDB do RS e aos nossos aliados". Assinam o documento: José Serra - Governador de São Paulo Aécio Neves - Governador de Minas Gerais Teotônio Vilela Filho - Governador de Alagoas José de Anchieta Junior - Governador de Roraima Sérgio Guerra - Senador, presidente do PSDB Arthur Virgílio - Senador José Aníbal - Deputado Federal

quinta-feira, setembro 17

Teu beijo e nossa mocidade


Não! Não me entregarei à saudade
Pois a frente há inúmeros caminhos
Há portas que fecham para outras se escancararem
Tanto quanto flores que secam para outras “florarem”.

Não! Não me entregarei à saudade
Pois me surge sempre um novo encontro
Há a partida, para ser querida a espera e a chegada.
E se não quiser voltar, sempre há outra estrada.

Não! Não me entregarei à saudade
Por isso trago sempre vivo a lembrança
De teu beijo e da nossa mocidade.

terça-feira, setembro 15

Pequena Helena e os cães


É uma noite de quinta, fria e chuvosa. Helena com seus pezinhos encharcados de menina de 8 anos para em frente a um restaurante. O chinelinho velho de número menor não é o suficiente para aquecer aqueles dedinhos que estão brancos e enrugados de tanto frio. Da mesma forma, a fina camiseta e a calça de jeans puída nada conseguem contra o intenso frio.
Lá dentro deve estar bem quentinho! É o que chama a atenção da pequena Helena, mas não só a temperatura a hipnotiza, a tv de “sabe lá quantas polegadas” e a comida que ela vê sobre as mesas a atraem tanto quanto o calor que ela imagina existir lá dentro.
Hoje ela já foi corrida de mais de uma dezena de bares e restaurantes. Os garçons, em sua maioria, são indiferentes ao frio e a fome. Tem alguns que ficam penalizados mas nada podem fazer, existem ordens a serem cumpridas, e não deixar pedintes “importunar” os clientes é uma delas.
Mas parece que desta vez a pequena Helena está com um pouquinho de sorte! O garçom não lhe ofereceu nada de comer e nem deixou ela ir nas mesas pedir um “troquinho” mas, pelo menos, deixou ela entrar um pouco e ficar ali perto da porta de entrada onde não pegava vento e dava para ela ver tv.
Ela prende o olhar e a atenção na tv. Já faz muito tempo que a velha tv que o pai comprara num brique estava estragada. Ela já nem sabe há quanto tempo não vê tv, o que dirá ver o pai! Pelo menos com o desaparecimento do pai, pararam as visitas noturnas que apavoravam a pequena Helena.
Na tv, um programa que parece não interessar aos demais lhe chamam a atenção – mais para espantar aquele cheirinho de comida quente que vem das mesas e da cozinha - e ela descobre que existe um lugar em que as pessoas tem os olhos puxadinhos e que se chama China e haverá uma festa. Ela não sabe bem que festa será essa, mas, fica sabendo pela bonita apresentadora que irá pessoas de todos os paises para disputarem um monte de jogos.
Depois de mostrar lugares bonitos e outros nem tanto, a apresentadora começa a falar dos hábitos alimentares daquelas pessoas de olhos estranhos. A pequena descobre que naquele lugar que ela não sabe onde é mas se chama China, as pessoas comem cães. Nunca ela havia imaginado algo semelhante. Ela já havia comido galinha, vaca e até porco, mas cães!?!... Sabia que as pessoas comiam rãs, faisões –que ela não tinha a mínima noção do que era – e até lesmas com uns nomes engraçados, mas cães!?!...
O programa mostra os cães sendo preparados e também as pessoas os comendo com cara de que estão adorando. Como nunca alguém havia lhe dito aquilo, ela não se contém...
_ Tio...Tio...
Um senhor com cara de poucos amigos a encara.
_ ”Quié?”
_ O senhor sabe me dizer como eu faço para ir para esse lugar que se chama China? – a pergunta não esperada faz o homem sorrir.
_ E pra que tu quer ir pra China minha filha?
_ É que lá em casa a gente só tem o Bolinha e a mamãe não vai deixar a gente comer ele, ainda mais que ele é tão pequeninho pra “nóis tudo”!

segunda-feira, setembro 14

Não se fala mais nisso

Sei que devo ter dito, pelo menos umas duas vezes: Você nunca encontrará um amor igual ao meu!
Não sei se falei isso com convicção ou se falei apenas porque achei que era uma boa frase de efeito para aquele momento, ou até quem sabe - mesmo achando que não era verdade – disse porque achava que poderia demover a pessoa que me escutava.
Apenas sei que quando falei que amava, amava de verdade! Pois não sou capaz de dizer que amo se não amo realmente de verdade. Aliás, amar só pode ser de verdade senão não pode ser chamado de amor.
Mas quando falei, mesmo não sabendo se tinha a certeza da afirmação da frase, estava falando a verdade, pois amor é impar. Não existe amor igual!
Meus amores não podem ser igualados ao de um Lancelot, um Gilliat, um Romeu, um Bentinho ou ao de um João, Pedro, José ou quem quer que seja.
Amor não se compara e nem se mensura.
Nem mesmo o amor, incondicional e eterno pela pessoa que mais amo, no caso o amor por minha Elena, não a com “H” como a de Tróia, mas com “E” como é minha mãe, pode ser comparado com o amor que senti pela mãe de meu filho ou pelo amor as namoradas que tive. Nem meus amores platônicos podem ser comparados com os amores rápidos de poucas horas em uma noite de fim de semana.
Sim! É possível amar em um único final de semana por poucas horas, em uma única noite. Já fiz isso! Quem não fez?
Amor não se mede por tempo ou intensidade. Às vezes amamos mais alguém em uma única noite que outras pessoas por muitos meses ou anos.
Amor não tem regras. Ama-se e isso é amor.
Não confundir amor com sexo. Podemos fazer sexo da forma mais maravilhosa do mundo sem amar e, amar sem nunca fazermos sexo. A diferença é que o sexo a gente pode acabar esquecendo ou lembrando lá uma vez que outra, mas o amor não. O amor à gente nunca esquece.
Pode-se até deixar de amar uma pessoa, mas, esquecer que amou, isso não!
Podemos até não perdoar a pessoa que um dia nos amou, mas nunca vamos pensar em perdoar o amor, porque o amor não tem culpa e, sem culpa não existe a necessidade do perdão.
Amor é entrega. Amar é dar aquilo que de melhor nós temos para a pessoa amada.
Podemos até dar o amor para a pessoa errada, mas o amor nunca é errado. Podemos nos enganar, mas o amor nunca se engana. O amor é maior que o amante. Por isso o amante não controla o amor. É sempre o contrário.
A razão até pode impedir uma união ou uma volta, mas a razão não apaga o amor. Como diz o poeta Abel Silva: “Se o pensamento foge dela, o coração a busca aflito”.
Amor se dá e amor se recebe, mas, não dá para dizer qual é o maior amor, se aquele ofertado ou o recebido. Amor é amor e não se fala mais nisso.

sexta-feira, setembro 11

Xote dos Poetas



Surrupiado do www.bardobulga.blogspot.com

Acessos ao Blog

Clique na imagem para ampliar
Por duas vezes parei de postar no blog mas, quando eu percebia que mesmo estando vários dias sem atualiza-lo ele continuava a ser visitado eu acabava voltando a ativa. Me sentia mal em saber que pessoas vinham até aqui e não encontravam nada novo.
A imagem acima - do site que controla o numero de acessos ao blog -, me deixa não só vaidoso, como também não me deixa ficar muito tempo sem postar.

Só em 2009 já foram 2.800 visitantes e 4.160 visitas.
Só me resta continuar com o blog agradecer a vocês que me acompanham

quinta-feira, setembro 10

Favela


Foi construindo-se a favela
Como uma grande quimera
E dia atrás do outro como novela
Foi crescendo a favela.

E misturando gente bela
No interior da favela
Com um monte de banguela
Foi povoando-se a favela.

E para enrolar o eleitor da favela
Veio um político com sua trela
Dizendo resolver nossas mazelas
E defender os direitos da favela.

Também veio morar na favela
Quem conseguia fugir de uma cela
E com o poder de parabela
Foi comandando a favela.

Assim criamos nossa favela
Um sonho meu, teu e dela.
Mas estamos destruindo a favela
Como o fogo que consome a vela

quarta-feira, setembro 9

Espetáculo de Chuva


Tava muito quente de fato
E caiu como uma luva
Esse espetáculo de chuva.

Vem pra rua, sai desta alcova
Vem se molhar, vem corra
Abandona essa modorra.

Misture nas poças da rua
A bela imagem sua
Que corre suada e nua.
Com a imagem da branca lua.

sexta-feira, setembro 4

Vazio e Sozinho



Ilustração:Mari Lopes,1999
"Homem Lendo o Jornal", 2m X 1m50
Têmpera acrílica sobre tela
Acervo da TV Cultura-SP, Brasil

O despertador o tirou de um sono cansado e conturbado na mesma hora de todos os dias. Pulou da cama como sempre fazia. A cabeça e o corpo não queriam acordar, mas era um movimento maquinal que já estava acostumado. Correu para o banheiro. Fez a barba ainda sob a água do banho e percebeu que estava cansado para o dia que o aguardava. Ainda com espuma no corpo percebeu que fazia aquilo há muitos anos a fio sem perceber que o fazia.
Tomou uma decisão que nunca havia pensado que um dia a faria. Secou-se e colocou uma roupa que não era a que normalmente colocava após o banho. Viu-se no espelho e quase achou que não era ele. Camiseta de malha branca, calça jeans e tênis.
Ligou para o escritório e disse que não iria trabalhar naquele dia. Teve medo – e não fez – de dizer que iria tirar o dia de folga. Ele, logo ele que era o patrão tinha medo de faltar ao dia de trabalho.
Para Luciana, a competente e fiel secretária disse que estava doente. Não precisou o mal que o acometia, disse apenas que não estava bem e, a competente, e fiel Luciana não perguntou nada. Não quis saber o que ele sentia, apenas ouviu suas palavras como uma ordem e pronto.
Tentou ver TV, mas nada o interessou. Saiu para a rua a pé. Aquilo era algo inusitado para ele. Sair sem o carro e sem o motorista...
Bernardo, o motorista, estranhou, mas não ponderou nada, afinal ele era pago para fazer o que o patrão mandava e não perguntar o porque das ordens do patrão. Ganhou um dia de folga. Adorou. Era dia de jogo do Grêmio e ele poderia ir para casa assistir o jogo ou encontrar-se com os amigos que não tinham nada para fazer como ele naquele dia.
Para onde vou? Foi a primeira coisa que o patrão de folga pensou. Nunca havia tido um dia de folga no meio da semana. Caminhou e descobriu uma padaria a duas esquinas de seu prédio. Nunca havia visto aquele estabelecimento, mas pelo letreiro comido pelo tempo como um nariz de uma esfinge, afirmou-lhe que ela estava ali à vida toda.
Entrou. Havia uma pequena fila. Algumas pessoas ele percebeu que eram muito conhecidas das atendentes, pois elas as tratavam pelo nome.
Quando chegou sua vez, uma menina que devia ter a idade de sua filha que ele não via há mais de duas semanas o chamou de “tu” com um sorriso encantador que ele achou até promiscuo. Como alguém que não o conhecia o tratava como se fossem amigos?
Não soube o que pedir. Tentou lembrar o que se pedia em uma padaria quando se tem fome.
A “promiscua” atendente vendo o seu embaraço perguntou se ele queria pão. Estou com fome!, foi o que saiu de seus lábios. Como ele não falou mais nada ela perguntou se ele queria um sanduíche de mortadela e queijo e uma taça de café. Aceitou.
Sentou em uma cadeira de plástico branco em frente a uma mesa de plástico branco. Acharam estranho não haver toalha, apenas um porta guardanapos com propagandas de um refrigerante e um paliteiro de qualidade duvidosa.
O inusitado desjejum foi servido pela mesma atendente. Foram colocados a sua frente o sanduíche, uma xícara de café e um açucareiro. Ele só usava adoçante, mas ficou em dúvida se não seria grosseiro pedir para trocar. Adoçou o café e o provou.
Aprovou! Deu uma pequena mordiscada no pão com queijo e mortadela. Mortadela... Até que não era ruim. O pessoal da fabrica deve adorar a mortadela que é servida no café no turno da noite. Parece ser até melhor que presunto...
Saiu sem saber para onde ir. Parou em frente a uma banca de jornal. Não havia lido nenhum periódico aquela manhã. Não sabia de nada que estava acontecendo no mundo das finanças e da política. Comprou o jornal que sempre lia. Sentou-se em um banco na primeira praça que encontrou. - Nem sabia que havia aquela praça ali tão perto.
Seus olhos correram por todas as páginas, mas não leram nada. Por mais que tentasse sua cabeça não acompanhava seus olhos. Lia as palavras, mas não consegui coloca-las em uma ordem lógica. Folheou o jornal sem prestar atenção em nada até parar em uma página com vários desenhos bobinhos que ele nunca olhava.
Leu as tirinhas de uns tais de Laerte, Iotti e Maurício e deu gargalhadas que estavam represadas desde a infância. Entendeu – ou achou que entendeu – o porque seus funcionários liam aquilo e riam. Ficou com vergonha, não por ter entendido, mas por estar lendo aquilo.
Deixou o jornal no banco e saiu a caminhar sem rumo pelas ruas da cidade. Passou por ruas que ele sempre passava com seu blindado e viu o que ele nunca via. Casas lotéricas com suas filas intermináveis, pequenos bares com pastéis e croquetes em meio a balas e chocolates baratos, brechós com roupas de todos os tipos e gostos, salões de barbeiros com conversas animadas, lojas de roupas, livrarias, farmácias, óticas, sapatarias até encontrar uma nova – pelo menos para ele – praça.
Escolheu um banco e sentou. Nos brinquedos do playground a meninada fazia a festa enquanto babás, mães e tias liam romances surrados ou conversavam animadamente.
Lembrou da filha. Tudo o que ela pedia ganhava, mas não lembrava de ver sua filha com a mesma alegria que havia estampada na cara daquelas crianças. Eram apenas gangorras, balanços e escorregadores e não a Disney, a Europa ou um carro novo que ele dera a filha, e mesmo assim elas estavam em êxtase.
Depois de muito tempo a barriga o lembrou que era a hora do almoço. No trabalho a hora de comer era após a reunião ter terminado ou algum negócio ter sido consumado. “A fome vem só após a obrigação” aprenderam com seu pai.
Viu que muita gente comia algo comprado em uma “carrocinha” no meio da praça, mas teve medo. - Vai lá saber o que eles estão comendo!
Do outro lado da rua tinha um restaurante chamado “Saigon”. Era movimentado. Devia ser boa a comida. Dirigiu-se para o tal “Saigon” e pediu o prato do dia, não porque era o que ele queria, mas porque ouviu o pedido do senhor que ele achou “bem apessoado” que estava a sua frente na fila.
Arroz, feijão, massa com molho de carne, batata frita, um bife estranho, alface, tomate, pepino e repolho. O cheiro era bom.
O senhor “bem apessoado” sentou em uma mesa dois lugares com uma toalha de plástico transparente não muito nova.
Com licença, ele pediu e o tal senhor não falou nada que o proibisse. Ele sentou.
Depois de umas boas garfadas na comida que ele achou deliciosa, ele puxou assunto sobre o tempo... Será que chove?. Seu “bem apessoado” companheiro de mesa só respondeu algo com os ombros que ele não entendeu. Resolveu terminar a refeição em silêncio.
Após o almoço voltou para a praça e ficou a observar as crianças nos brinquedos e a fumar um cigarro atrás do outro até perceber que não havia recebido nenhuma ligação. Tateou os bolsos e percebeu que havia esquecido o celular. Ficou a principio preocupado, mas com o tempo achou bom o esquecimento. Não estava com vontade de receber ligação de ninguém mesmo, pois seriam só preocupações referentes ao trabalho e hoje, ele decidira que não iria trabalhar.
Olhou para o outro lado da rua e viu um cinema. Era um dos últimos que existia fora dos shopings. Não leu nem o título do filme. Comprou o maior pacote de pipocas que havia e assistiu ao filme como assistia em sua época de guri lá no interior.
Após o filme vagou pelos sebos a rever velhos quadrinhos e foi a uma exposição itinerante de fotografias em um ônibus na praça central. Saiu comprou um picolé e vagou pelas ruas que ele só conhecia de nome ou de dentro de seu carro blindado.
Parou em frente a uma banca de jornal e comprou de um impulso uma revistinha da Mônica e riu novamente como criança sentado em um banco de um ponto de ônibus entre um maluco e um vendedor de DVDs piratas.
A luz natural começou a rarear e as públicas junto com os letreiros das lojas o fizeram perceber que estava anoitecendo. Não sabia muito bem onde estava e passou a perguntar onde estava. Um menino que vendia balas explicou aquele senhor perdido onde era o endereço que ele queria encontrar. Não havia vendido muito, pois a concorrência era grande, mas a gorjeta daquele “perdido” valeu a pena.
Chegou de volta ao seu apartamento. Estava tudo escuro. Não acendeu a luz. Tirou a roupa pouco usual ali na sala mesmo. Foi para o banheiro tomar um banho e chorou junto com o chuveiro ao perceber que de nada adiantava ter “tudo” se estava vazio e sozinho.

quinta-feira, setembro 3


Chave-ei meu coração
“Masmorre-ei” este impulsivo
Me devolvi a madrugada

Deixei o louco no peito cativo.

quinta-feira, agosto 27

Beliziário


Diz que era uma noite de inverno, com lua cheia e chovia muito, e três desgarrados como ele encontraram a tapera abandonada. Não foi por vandalismo ou vadiagem. Era muito frio e muita chuva que eles resolveram parar por ali. Viram a casa abandonada e, pelo quadro que se apresentava a casa não recebia gente a muito. Parece até que não forçaram a porta, estava aberta e se adonaram, mas era coisa só para uma noite. Entraram e fizeram um fogo bem em frente à porta da casa. Não sei se tinham provisão mas, devem ter feito algo para comer. Móveis lá não havia pois, a muito estava abandonada e, justamente naquela noite Beliziario estava chegando sabe-se lá de onde por aquelas bandas. De tempos em tempos ele passava por ali. Era como uma peregrinação que o índio fazia. E vai que ao chegar em uma coxilha ele viu o lume do fogo que os viventes fizeram. O sangue deve ter fervido nas veias do coitado. Sua querência sagrada estava sendo profanada. Deve ter se aproximado o mais que pode sem ser visto e acantonou-se em algum capão nas redondezas. Amarrou o zaino – imagino eu, pois não estava junto, conto o que me contaram e um pouco do que imagino – e esperou até ter certeza que os tiatinos estivessem dormindo. Acostumado com peleias como era, deve ter matutado um plano de guerra! Deve ter ficado de “mancito” por muito tempo até as charlas acabarem e ter a certeza que estavam nos braços do Morpheu. Pegou a espada veterana do Paraguai e da “de dez anos” acostumada com o sangue e foi chegando quieto que nem “cusco ladrão em volta da mesa do assado” até a porta da tapera. Imagino que os coitados não pensaram nem sequer em deixar alguém de prontidão afinal, não era tempo de refrega. O continente estava em paz a mais ou menos uns bons dois anos. Coisa rara naquele tempo. Manoel, que é dono deste bolicho que pode contar bem melhor o causo, me falou que ele jogou um punhado de um cupinzeiro no meio das chamas da fogueira que ainda ardia em frente à porta da tapera e correu para trás de um umbú solitário bem ao lado esquerdo da tapera.
_ Mas como ele sabe isso? Tava lá?
Não tava isso sei, pois isso é coisa de antes dele ter nascido, mas sabe como é dono de bolicho! Tem mais conhecimento que “dotor” com anel no dedo! Mas “qué” saber o causo ou “qué” por a prova?
_ Fica quieto Neco... Deixa o índio contar o sucedido!
Pois então!... Vai que um deles acordou e foi ver se era gente ou boi-tatá e foi caí nas mãos do Beliziario... Nas mãos modo de falar, caiu mesmo foi na carneadeira que deu uma gravata colorada prô sujeito. Não deu nem um piu. Acostumado com as guerras o Beliziario abriu num talonaço de adaga um sorriso do demônio no pescoço do coitado. Pelo que falam dele, antes do primeiro pingo de sangue cair no chão ele já devia estar escondido de novo pronto para o próximo. Mas parece que os caras tavam de quebrante pois, não saiu mais nenhum pra rua.
_ Ah! Mas o defunto deve ter feito um griteiro ao se estrebuchar...
Vai saber! Índio acostumado na peleia deve saber matar em silêncio...
_ Hum!!!
_ Ta! Conta lá ou não pago nem mais um lizo.
Mas me deixa então! Pelo que sei, ele deitou no chão e entrou na tapera em silêncio com a carneadeira entre os dentes e a espada na cintura como uma cruzeiro. Era bem mais fácil “cagar” os tais a bala mas, parece que os anos de refrega o acostumaram a abater o inimigo “aos costumes”. Foi “chegano”, “chegano”, “chegano”, “chegano” e com uma mão tapou a boca do que estava mais próximo e com a outra deu a gravata colorada ainda em sonhos prô índio. O vivente, que agora não vivia mais, não teve tempo nem de abrir os olhos...
_ Mas como o amigo sabe esses detalhes todos?
Sabê! Sabê! Eu não sei! Mas sem “detalhe” a coisa fica sem graça né?
_ Putz!
Mas vai que ele não quis dar cabo do outro assim no mais. Podia fazer o mesmo que fizera com aquele...
_ Que fez?
Pois então! Como um louco, ficou de pé e gritou um grito que dizem que até hoje em dia de chuva com lua cheia se ouve por aquelas bandas o seu grito...
_Ah! Pára...
Não afianço! Só falo o que me falaram!
_ Tá!
Então! Com o grito o último levantou como se estivesse sendo chamado pelo diabo. Não teve tempo nem de falar e uma espada já estava colada em seu gogó. Não matou o homem ali não. Depois de xingar muito e dar uns pranchaços no lombo do sujeito, fez ele caminhar até os fundos da tapera onde havia duas pequenas cruzes de madeira e umas flores murchas molhadas pela chuva. Fez o cara ajoelhar em frente a elas e rezar dez Pai Nossos e dez Ave Marias para sua filhinha e sua esposa que descansavam naquele campo santo particular.
_ .........
É!... Depois de dizer que eles não deviam ter profanado o lar em que ele fora um homem feliz, em um só talonaço separou a cabeça chorona do resto do corpo.
_Sério?
Ué! Sério!... Ainda no escuro, buscou umas flores e enfeitou o tumulo de seus amores. Tirou o sangue da adaga e da espada com a água da chuva e voltou ao capão para buscar seu pingo e retornar a suas andanças sem destino. Quer dizer! Sem rumo certo, pois de tempos em tempos ele voltava para colocar novas flores para suas gurias. Por isso até hoje aquilo lá está como está e ninguém compra. O povo, que é cheio de “suspeitição” acha que o lugar é assombrado por um fantasma. Eu “dotor”, acho que aquilo lá é guardado pelo amor. Alceu... me serve mais uma aqui por conta do “dotor”.

quarta-feira, agosto 26

Difícil ser amado por quem a gente não ama
Pior amar quem não nos ama
Ou ficar na incerteza
Se a gente de fato é amado.

Demonstrações de carinho
Não mostra o que sentimos realmente
E o medo de estragar a amizade
Deixam o nosso amor num hiato.

Se tivesse coragem eu diria
Amo-te e te quero loucamente
Desde o primeiro dia.

Mas não quero te perder
E fico invisível para você
Sem dizer o quanto te queria.

sexta-feira, agosto 7

Verônica

Verônica estacionou o celta vermelho e bateu a porta. Não acionou o alarme e nem se preocupou em ver se estava bem estacionado – como ela sempre fazia -. Antes de entrar no prédio parou para dar uma moeda a uma senhora gorda que tinha uma perna inchada enrolada em um pano não muito limpo. Acabou dando uma nota de dez, o que fez a senhora gorda olhar para ela estupefata – aquela devia ser a maior esmola que ela já havia recebido, pensou Verônica sem muito interesse.
Parou em frente aos elevadores. Um deles já estava chegando. Abriu-se a porta e três meninos saíram ruidosamente em disparada. O porteiro tentou ralhar com eles mas, eles foram mais ágeis que os sessenta e dois anos dele.
Verônica entrou e ia apertar o botão do décimo andar quando percebeu o motivo da correria da garotada: Antes de saírem do elevador eles apertaram todos os botões. A subida seria demorada pois, haveria parada em todos os andares. A porta fechou-se e ela nem ao menos se importou com a traquinagem da garotada. Ela não estava com pressa.
Nessa hora todos lá no escritório devem estar perguntando-se...
_Onde está a Verônica? Onde está Verônica? – oito anos no mesmo emprego e apenas uma falta, e justificada.
O elevador chegou no segundo andar e abriu a porta. Só agora ela percebeu que era um panorâmico, mas não estava muito interessada em olhar para a cidade. Ela já a conhecia a mais de trinta anos. Trinta e um para ser mais exato. Viera ainda pequena para morar naquela cidade. Veio para estudar quando completou seis anos e nunca mais voltou para o interior, para a casa dos pais.
O elevador chegou no terceiro andar e abriu a porta. O sensor de presença do corredor acendeu uma fraca luz. Verônica olhou-se no espelho que havia dentro do elevador. Virou-se o mais que pode para ver como estava a marca da calcinha. Discreta. Verônica sempre foi discreta.
O elevador chegou no quarto andar e abriu a porta. Dois homens entraram e praguejaram com os moleques que haviam saído correndo no térreo. Aquela brincadeira devia ser um velho costume da molecada.
O elevador chegou no quinto andar e abriu a porta. Os homens permaneceram onde estavam. Verônica não contava com aquilo. Detestava ficar em pequenos ambiente com estranhos. Principalmente elevadores onde as pessoas quase se tocam e ficam buscando algum ponto para olhar que não seja o estranho olhar de um estranho.
O elevador chegou no sexto andar e abriu a porta. A bolsa de Verônica começou a tremer e a emitir um zumbido. Era o celular. Ela abriu rapidamente a bolsa e desligou o aparelho sem nem ao menos olhar quem estava ligando.
O elevador chegou no sétimo andar e abriu a porta. Os homens saíram. Verônica agora estava mais a vontade. Voltou a olhar-se no espelho. Em poucos anos tornar-se-ia uma balzaqueana. Até que estava muito bem. No escritório tinha muita mocinha com o peito caído, já ela...
O elevador chegou no oitavo andar e abriu a porta. Verônica decidiu descer ali mesmo. Faria o resto da subida pelas escadas. Eram apenas mais dois lances de escada. Esperou a porta fechar e procurou pelas escadas. Ela estava certa: elas ficavam em torno da caixa do elevador. Começou a subida. Passou pelo nono sem dar importância a uma senhora que varria o chão e falava sozinha.
Chegou no décimo. O elevador já estava descendo. Verônica olhou para os lados a procura de algo ou alguém. Ao ver a palavra “terraço” em uma porta metálica com vidro escuro, rumou para ela. Testou. Estava aberta. Saiu para o terraço e um vento frio arrepiou sua pele. Lá embaixo estava abafado, ali com aquele ventinho estava bem prazeroso. Verônica largou a bolsa sobre o peitoril e olhou para a rua lá embaixo. Era cedo mas a cidade estava movimentada. Acendeu um cigarro e fumou em silêncio, tendo o cuidado de não deixar a cinza cair sobre as pessoas que corriam lá embaixo.
Virou-se e se escorou com as costas e os cotovelos no duro peitoril. Olhou em torno e encontrou um banco – que ela percebeu ser igual ao da praça em frente à igreja – junto ao outro extremo do terraço. Acendeu mais um cigarro e pegou um envelope pequeno na bolsa e foi sentar-se no banco, deixando a carteira de cigarros e o isqueiro Bic sobre a bolsa.
No banco igual ao da praça ela entreteu-se com uma unha que começava a soltar o esmalte vermelho. Levantou-se e pagou o cigarro sob a sola do sapato. Subiu no banco e sentou-se no peitoril de costas para cidade. Olhou para o envelope que estava entre suas mãos. Um pequeno e gelado pingo de chuva que principiava caiu nas costas de sua mão esquerda. Olhou para cima. O céu estava cinzento. Deu um longo suspiro e olhou novamente para o envelope. Um pequeno e quente pingo caiu de seu olho esquerdo bem ao lado do gelado pingo que ainda permanecia nas costas de sua mão esquerda.
Ficou com a espinha ereta e olhou para frente. Tirou os pés de sobre o banco igual ao da praça e deixou seu corpo cair para trás e foi tranquila junto aos pingos de chuva que agora eram milhares de pingos que a acompanhavam naquela última viagem.