quarta-feira, abril 29

QUANTAS VEZES?


Quantas flores ele te deu?
Quantas horas ele guardou teu sono?
Quantas vezes ele beijou tua lágrima?
Quantas festas ele não foi mas te bancou?
Quantos presentes ele te deu e nem viu?
Quantas vezes ele foi xingado sem ter culpa?
Quantas vezes ele foi xingado tendo a culpa?
Quantas vezes?

Quantas vezes ele não te pode tocar?
Quantas vezes ele escutou tu chorar a tua vida?
Quantas vezes ele cuidou tua ressaca?
Quantas vezes ele aguentou seu desdém?
Quantas vezes ele tuas necessidades bancou?
Quantas vezes ele fingiu que não existia?
Quantas vezes ele pensou que só você existia?
Quantas vezes?

Quantas vezes ele te calçou?
Quantas vezes ele por ti chorou?
Quantas vezes ele por ti sofreu?
Quantas vezes ele te acobertou?
Quantas vezes ele comprou seu remédio?
Quantas vezes ele ficou e tu foi?
Quantas vezes ele se enganou?
Quantas vezes?

terça-feira, abril 28

ROSA BRANCA


O celular vibrou no silencioso entre os dedos de Valmir. Ele saiu sorrateiro da cama e fechou a porta do quarto. Vestiu-se e foi ao jardim. Colheu todos os botões de rosas que havia e voltou ao quarto na ponta dos pés.
Depôs os botões um a um sobre o corpo adormecido de Vera. Cobriu toda a cama. Ficou praticamente só o rosto de sua amada esposa a vista. O resto era um grande arranjo de rosas vermelhas, brancas e rosas.
Quem olhasse teria a impressão que ela estava em seu leito de morte coberta de flores, mas para Valmir era a maior obra de arte que alguém poderia criar. Um mar de rosas e no meio o rosto de sua amada.
Saiu novamente do quarto em silêncio e foi para a cozinha. Fez um café bem forte como ela gostava e preparou uma torrada só com queijo, como também ela gostava.
Pôs o desjejum cuidadosamente feito em uma bandeja e voltou ao quarto.
Com ternos e delicados beijos acordou a mulher amada.
_Bom dia amor! Preparei teu café benzinho! – Vera coçou os olhos como toda mulher faz ao acordar e sorrio com satisfação.
_Meu amor... Que lindo... Não precisava! – levantou-se ficando sentada na cama. Só então viu o mar de rosas em que estava coberta.
_Que lindo amor! – puxou Valmir pela gola da camisa e deu-lhe um sonolento e gostoso beijo. Viu a torrada de queijo com a xícara de café fumegante a sua espera e beijou-lhe novamente.
_Te amo meu amor! – Falou dengosamente Vera ao orgulhoso marido. Pegou a xícara e olhou para o despertador no criado-mudo.
_Meu Deus! – gritou -. Já são sete horas! Estou atrasada e pulou da cama quase derrubando o café e fazendo uma cascata de botões de rosas cair sobre o carpete cinza.
_Tenho uma reunião as sete e meia! Porque não me chamou antes?
_Ai amor...Quis fazer essa surpresa pra ti! – respondeu Valmir com os olhos a correr do corpo nu da esposa para as rosas que ainda caiam. Ela ainda parou emocionada com a surpresa que lhe era oferecida pelo marido e beijou-lhe rapidamente a face.
_Adorei amor! Mas é muito importante a reunião de hoje, vou vestir-me em um segundo e tomo o café na cozinha para não me atrasar – foi dizendo enquanto ia vestindo-se -.
_Mas amor e o café que lhe fiz?
_Adorei amor! Mas estou atrasada –vestia-se – mas não vou ter tempo nem de tomar banho.
_Mas...
_Leva a bandeja para a cozinha. Tomo lá! Estou atrasada!
Valmir engoliu um seco e fez o que lhe foi pedido. Ainda teve o cuidado de colocar na mesa ao lado da bandeja um botão de rosa branco, pois sabia que era a rosa preferida de Vera.
Vera chegou já vestida e penteando-se foi logo abrindo a janela da cozinha. Olhou para o jardim...
_Desgraçado! – gritou – Tu acabou com o nosso jardim! Acabou com as nossas roseiras!
_Mas amor...
_O que tu tem na cabeça imbecil! Quanto tempo levamos para fazer esse jardim e tu acabastes com ele com esta palhaçada! – Virou-se para tirar satisfações do idiota, mas ele já entrava no quarto e batia a porta.
_Como pode ser tão imbecil? – perguntava-se em altos brados aos sentar-se em frente à bandeja que Vilmar havia lhe preparado. Pegou com raiva e pressa a xícara de café. Ia levar aos lábios quando ouviu um estampido vindo do quarto.
_Valmir... – gritou e correu em direção ao quarto, e na mesa ficou uma intocada torrada de queijo e uma fria xícara de café ao lado de uma botão de rosa branco.

domingo, abril 26

Cadeiras nas Calçadas


Hoje me veio uma lembrança bem antiga!
Lembrei da época em que morava na Rua Pinheiro Machado, hoje conhecida como Adolfo Inácio Barcelos.
Lembrei do verão. Do veraneio do gaúcho, onde todos corriam em direção ao litoral. Naquela época não existia a Free-way e todos que para o litoral se encaminhavam tinha de passar em frente a minha casa.
Não conhecia o mar. Sabia um pouquinho como era por causa dos relatos de minha prima Gorete que ia todo verão para Mariluz.
Como não tínhamos casa na praia e nem dinheiro – ou talvez meus pais não tinham vontade mesmo de ir, sei lá! –, colocávamos cadeiras na calçada em frente a nossa casa – que também era a oficina de ourives de meu pai – e ficávamos olhando o movimento de carros e de pessoas que paravam para tomar uma Brahma – que naquele tempo era sinônimo de cerveja -, um sorvete ou tomar um café com sonho ou com um farropilha que somente muitos anos depois descobri que era apenas um pão francês – cacetinho – com presunto, queijo e margarina.
Bem em frente a nossa casa ficava a praça – ou melhor: ainda fica, nossa casa é que não fica mais - com seus brinquedos e um chafariz com águas que eram coloridas e que naquele tempo não sabia que era apenas o efeito de lâmpadas coloridas. Mas era lindo.
Claro que não ficava sentado nas cadeiras em frente a casa – lembrei de Chico e Vinicius em “Tem certos dias que lembro em minha gente... com cadeiras nas calçadas...” -, ficava a brincar e a andar de triciclo Bandeirantes, desde a Esquina das Novidades até mais ou menos na Loja Landau – primeiro incêndio que vi -, sempre sobre o olhar preocupado de meus pais, mesmo eles sabendo que naqueles tempos o perigo ainda não existia.
Claro que isso era no tempo que acordávamos cedo no domingo para ir a missa e o almoço era uma festa porque tinha salada de batata com maionese – feita em casa – e refrigerante – um litro de Pepsi ou Minuano para seis pessoas -.

sexta-feira, abril 24

A BELA DA LUA


Em noites frias de junho, quando nem as portas dos bares se arriscam a me dar guarida e até os mendigos com seus respectivos cães se ocultam nas sombras, como se as sombras pudessem produzir algum calor, eu me jogo na grama molhada e fria do parque a fim de olhar a imensidão negra pintalgada de prateadas estrelas.
O frio negro da noite, e o frio verde da grama aumentam com o frio translúcido do cortante minuano, fazendo quase que congelar o vapor que me sai da boca.
A temperatura de meu corpo cai e fico como que sonolento a ver ela sair de trás da lua cheia, sem ao menos dar atenção ao frio com seu transparente e branco véu de nuvens a cair pelos ombros chicoteados pelos dourados fios de cabelos que voam ao sabor do vento.
A bela como que louca corre descalça por sobre as pontiagudas estrelas, que ferem seus pequenos pés, de onde jorram gotas de sangue tinto seco em direção a minha sedenta boca.
“Suspende toda a epinefrina
Já achei razão para fazer voltar a bater meu coração”

Oh! Brasilzão bem maluco...


Este muito interessante post eu surrupiei do também muito interessante blog Bar do Bulga - Tem o Linck ali ao lado-.


Estas são umas das poucas fotos – No Bar do Bulga há mais uma -de Carolina Maria de Jesus.
Ela nasceu a 14 de Março de 1914 em Sacramento, Minas Gerais, cidade onde viveu sua infância e adolescência. Foi mãe de três filhos. Morreu em 13 de Fevereiro de 1977, com 62 anos de idade. Está sepultada no Cemitério da Vila Cipó, a 40 Km do centro de São Paulo.
Em toda a vida, Carolina estudou pouco mais de dois anos. O suficiente para aprender o básico da leitura e escrita. E foi assim que ela expôs a exclusão que vivia. A obra mais conhecida, com tiragem inicial de dez mil exemplares esgotados na primeira semana, e traduzida em 13 idiomas nos últimos 35 anos é ‘Quarto de Despejo’.
Carolina era empregada doméstica e catadora de papel e lata quando seus manuscritos foram "descobertos", numa favela do bairro do Canindé, pelo jornalista Audálio Dantas.Até 1985, seu livro era o mais traduzido da língua portuguesa para qualquer idioma. Mais de 1 milhão de exemplares foram vendidos no exterior. Hoje, ela está esquecida. A Academia de Letras bem que tentou mostrar o valor literário da Carolina. Mas a crítica literária não permitiu.
"15 de julho de 1955 - Aniversário de minha filha Vera Eunice. Eu pretendia comprar um par de sapatos para ela. Mas o custo dos generos alimenticios nos impede a realização de nossos desejos. Atualmente somos escravos do custo de vida. Eu achei um par de sapatos no lixo, lavei e remendei para ela calçar".
"Hoje a noite está tépida. O céu já estava polvilhado de estrelas. Eu que sou exótica, quero recortar um pedaço do céu para fazer um vestido...".
“Que suplicio catar papel atualmente! Tenho que levar a minha filha Vera Eunice. Ela está com dois anos, e não gosta de ficar em casa. Eu ponho o saco na cabeça e levo-a nos braços. Suporto o pêso do saco na cabeça e suporto o pêso da Vera Eunice nos braços. Tem hora que revolto-me. Depois domino-me. Ela não tem culpa de estar no mundo.Refleti: preciso ser tolerante com os meus filhos. Êles não tem ninguem no mundo a não ser eu. Como é pungente a condição de mulher sozinha sem um homem no lar”.

quinta-feira, abril 23

Mais uma canção


Era apenas mais uma canção
Mais uma canção que tocava no rádio
Uma canção como todas as outras que tocam
E tocam por ser apenas mais uma.

Mas tocou no momento errado
Talvez o cara do rádio nem seja malvado
Mas o que ele fez não se faz!
Porque roubar assim a minha paz?

Nem lembrava mais que ela existia
Mas bastou tocar os primeiros acordes
Para voltar toda uma vida morta a vida
E então vi que ainda havia feridas.

As coisas que julgava esquecidas
Estavam apenas guardadas por precaução
Em um coração mudo e protegido,
Mas voltaram ao ouvir essa canção!

domingo, abril 19

O Militante


O som reinante no quarto – o tique-taquear do Westclox – foi destituído pela leve freada de um carro lá fora. Era um carro de praça como se chamava naquela época os taxis. Logo seria a vez do barulho de uma porta de carro batendo cuidadosamente. Não falei? Vera que estava como que dormindo, mas na verdade apenas deitada e de olhos fechados esperando pelos sons que ela sabia que se repetiriam como nas outras noites, esperou o som do carro vermelho – ela sabia que era vermelho não só porque os carros de praça daquela época eram todos vermelhos, mas porque um dia espiara pela janela - se distanciar para ouvir os passos furtivos de Paulo na pequena escada que havia na frente da casa.
Agora ele iria abrir a porta com todo o cuidado do mundo. Vera sabia daqueles sons de cor havia uns seis meses. Ela abriu um só olho e viu no despertador sobre o criado-mudo que já passava das três. Ela só conferia os horários das chegadas furtivas do marido no exato momento em que ouvia o barulho da porta da frente ser fechada. Esta era à noite em que ele chegava mais tarde. No começo era lá pelas vinte e uma e ela ainda estava acordada. Com o passar dos dias ela deixou de perguntar – “implicar” como Paulo preferia – onde ele estava, com quem estava, o que estava fazendo, aquelas coisas que mesmo quem não é ou não foi casado já sabe. Para que perguntar? Ela já sabia o que ele iria responder!
A semi-escuridão do ambiente diminuiu quando Paulo, como um ladrão abriu a porta e entrou no aposento. Despiu-se e vestiu o pijama. Naquela época não se falava em ninjas, mas foi mais ou menos assim que ele deslizou para a cama. Quando ela o percebeu já estava roncando.
Paulo não fumava, mas o leve odor de cigarro era explicável, afinal, no escritório quase todos fumavam! Cheiro de álcool, isso nunca ela percebera. Perfume? Só o barato que ele usava desde o tempo de namoro.
O jeito era deixar pra lá e dormir, amanhã é mais um dia cheio nos afazeres de casa. Puxou a coberta até o ombro lentamente para não despertar o cansado marido. Fechou os olhos e dormiu. Quer dizer: pensou em dormir. Era difícil dormir com a cabeça cheia de dúvidas e suposições. Quem conhece a dúvida sabe o que isso quer dizer.
Ficou a virar-se cuidadosamente na cama pra lá e pra cá. Inútil o sono não vinha e, aquela eterna burrice humana que todos nós temos de ficar girando na cama quando não se consegue dormir não a deixava dormir mesmo. Ou seriam somente suas inquietações?
Não houve remédio. Furtivamente como o marido deitara, ela levantou-se. Cobriu-se com o penhoar – não que estivesse frio, era aquele pudor. Que fazer! Aquilo era algo de família! – e deixou o aposento. Resolveu dirigir-se a cozinha para tomar água. Talvez fosse passar roupa, quando o sono volta-se ela voltaria para a cama e assim amanhã o serviço estaria adiantado. No caminho, entre a sala e a cozinha ela viu o paletó do marido repousado no espaldar de uma cadeira. Estancou...
Se houvesse algum segredo, se houvesse alguma pista era ali naquele paletó que estaria. Era a chance! Não era a primeira, pois ela poderia já ter feito uma busca nas outras noites, mas nunca teve coragem ou quem sabe idéia de fazer – “a Verinha não é lá muito boa com idéias”. Ecoava aquela frase muita vezes repetidas pelo falecido pai de Vera em algum canto ressentido de seu coração.
Não... Definitivamente ela não iria fazer aquilo! Não era certo! Desconfiança entre marido e mulher era algo comum, não só a vida, mas as rádio-novelas atestavam que era assim mesmo. Agora revistar os bolsos do esposo como se fosse uma policial dando uma batida, aquilo ela não faria, afirmou para si enquanto retirava do bolso interno do paletó um pequeno bilhete amarrotado.
Os pés de Vera perderam o chão, sua cabeça começou a rodar. Teve que sentar, caso contrário...
Ela sabia o que era certo fazer. Recolocar o bilhete onde o encontrara sem nem ao menos abri-lo. Às vezes é melhor a dúvida que a certeza. A dúvida poderia durar para o resto de “suas” vidas, já a certeza a machucaria para o resto de “sua” vida. Mas claro que as coisas não são assim tão práticas na vida real. Abriu...
“Amanhã no mesmo horário e mesmo local...SRPP.”
Cadela! Ainda tem o desplante de colocar as iniciais!
SRPP! Quem seria a umazinha? Sarah? Simone? Sandra? Sibele? Não Sibele era com “c”.
Há! Mas ele vai ter de dar conta desta porcalheira toda! Então eu fico o dia todo em casa trabalhando como uma escrava para ele e seus filhos e ele me apresenta esse papelão... Não! Filhos dele uma ova, meus filhos! Sou eu quem dá duro o dia inteiro para cria-los longe das sujeiras do mundo. Ele pelo contrário, trás a sujeira para dentro do nosso lar... Meu lar! – Fez o percurso inverso até o quarto na metade do tempo. Abriu a porta com toda a força e raiva do mundo.
Paulo pulou da cama e gritou assustado algo que ela nem entendeu. Fitou os olhos em brasas da esposa – aqueles não eram os olhos dela – e depois viu o bilhete na mão trêmula. Passou as mãos no rosto, da testa até o queixo, daquele jeito que se faz quando se esta em uma situação mais ou menos constrangedora e sentou-se na cama.
E então? Começou ela. Então o que? Devolveu. Vera começou aos gritos contidos para não acordar as crianças a cobrar quem era aquela vagabunda, quem era SRPP, o que ele estava pensando e tudo o mais. Você não vai falar nada? Perguntou por fim.
Falar o que? sua doente! Foi o que de melhor ele encontrou enquanto procurava coisas melhores e mais sensatas. Ela começou a carga novamente, estava decidida. Decidida e louca da vida como ele nunca vira. Não resistiu, em um salto ficou diante dela ameaçadoramente e não a poupou.
Cale a boca sua ignorante! O que tu pensa que é para fazer esta cena ridícula. Porque não vai ouvir suas novelas, sua fútil. Deixe-me dormir em paz é só o que eu te peço – e por aí foi até o momento em que o menor começou a chorar no quarto ao lado.
Vera correu para acudir o filho e Paulo apagou a luz e jogou-se na cama decidido a dormir.

* * *

Novamente o silêncio. Não um silêncio de paz, mas um silêncio desolador, de derrota e de tristeza. Depois do acontecido o certo era ela mandar o adúltero dormir na sala, mas ela nem havia pensado nisso. Aliás, ela não estava pensando em nada. A cabeça era algo que naquele momento servia só para doer. Se fosse para pensar em algo, pensariam em tomar uma Cibalena.
Chegou ao quarto. A cama estava vazia e a luz acesa. Os olhos cansados de Vera correram por todos os cantos a procura de um sinal que indicá-se que Paulo fora embora. Não encontrou nenhum sinal – estava tudo ali - e sentiu o coração um pouco aliviado. Ouviu o barulho de uma cadeira atritar-se com o piso da cozinha. Foi para lá.
Senta! Foi a ordem que ouviu de Paulo que a fitava com um rosto sério por traz de uma xícara fumegante de café.
Sentou-se. Serviu-se também do quente café e a presença do marido e o cheirinho de café lhe trouxe de volta e a deixou mais calma. Ele sorvia o líquido com um barulhinho que lhe era peculiar e balançava a perna cruzada como sempre fazia. Agora ela estava totalmente calma. Estava pronta para voltar para a cama e dormir, só não o fez porque o marido perguntou calmamente: Então minha filha, o que tu queres saber?
A pergunta é muito obvia – pensou -, mas ela não sabia como começar. Ficou por um bom tempo fitando-o até que ele a incentivou com movimentos com os braços e cabeça que queria dizer: E daí? Fale! Quem era SRPP foi por onde ela começou.
Não é quem é ela e sim o que é SRPP! É uma operação clandestina! – respondeu secamente.
A esposa é lógico, não entendeu nada e pediu explicações ao que o marido explicou: que era um serviço em que ele e outras pessoas estavam desenvolvendo clandestinamente. Ela poderia até não saber, pois só tinha ouvidos para as rádio-novelas, mas, ele até que entendia um pouco de sua alienação, afinal de contas ela ficava o tempo todo em casa cuidando dos afazeres domésticos e das crianças e por certo não percebera que o governo que havia derrubado o ex-presidente Jango com a promessa de acabar com o perigo do comunismo e defender as instituições, estavam prendendo, torturando e matando muita gente. Vera quis protestar, - que história maluca era aquela? – mas, ele não deixou ela continuar.
SRPP queria dizer algo que ela nunca deveria repetir para ninguém em hipótese alguma. “Serviço de Resgate de Presos Políticos” – Era isto que queria dizer aquelas iniciais que ela nunca deveria ter descoberto e, o beijo era uma forma de despistar caso o bilhete fosse interceptado. Ele escondeu dela e de toda a família o importante e perigoso trabalho em que estava envolvido para protege-los. O trabalho era simples mas perigoso. Ele, e outras pessoas que ele não podia revelar os nomes, nem para ela que era sua esposa, resgatavam nas prisões presos políticos que estavam correndo risco de vida e levavam para o exterior.
Mas eu não entendo! – replicou a estupefata esposa -, se nós moramos tão longe das fronteiras de outros países, como você pode levar alguém para fora do país sem se ausentar por pelo menos um dia inteiro.
Muitas coisas tinham de ser feitas, as quais ele era incumbido eram feitas ali mesmo na cidade, mas não me peça para dizer o que é, quanto menos você souber, mais segura estará, você e as crianças. – Ela nunca vira tanta seriedade no semblante do marido.
Vera ficou envergonhada a princípio, depois apavorada – o marido estava envolvido em algo muito perigoso – por fim veio o orgulho depois que ele falou que não se importava com a própria vida, o que ele fazia era pelo bem das crianças, pelo bem de Vera e pelo bem de seu país.
O dia já vinha surgindo. Foram dormir de “conchinha”.

* * *

Mas o que você tem na cabeça? Nunca mais coloque bilhetinhos no meu bolso! – Ordenou Paulo cochichando para os demais funcionários do escritório não ouvir -. Sandra Regina Passos Pereira não pode conter um maroto riso. Paulo a puxou discretamente para o corredor onde não havia ninguém para ouvir.
Não vai me dizer que a esposinha encontrou o bilhetinho? – começou a brincar, mas foi atalhada pelo amante. Você não pode fazer isso sua louca, você sabe muito bem que tenho uma família para cuidar! E ainda por cima colocou tuas iniciais! Você quer me expor e se expor, é isso? – E narrou nervosamente o que havia acontecido na noite anterior em sua casa, mas acabou sendo acalmado pela risonha Sandra que falou que agora, como aquela tola engoliu essa história absurda, poderemos nos encontrar com mais facilidade.

* * *

Paulo e Sandra continuaram a se encontrar após o expediente, agora sob a proteção do “Serviço de Resgate de Presos Políticos”. Tudo continuava como antes, não fosse pelo fato de Vera esperar o “destemido” marido acordada, não só para se certificar que nada de mal havia acontecido a ele mas, também para ouvir emocionada alguns fatos referentes as supostas operações que o marido ia soltando gota-a-gota, não sem um certo cínico orgulho. A coitada acredita em tudo! Mas é melhor assim. Desde que o mundo é mundo o esposo tem seus casos fora do casamento, afinal não se pode fazer certas coisas com a mãe de nossos filhos!
Depois de ouvir aquelas histórias que pareciam sair de romances ou das novelas do rádio, Vera dormia o sono dos anjos. Era durante o dia que ela era tentada. O marido fazia um trabalho tão importante, um trabalho despojado, afinal de contas aquilo era feito pelo bem do pais, não era apenas para ele e sua família mas, para todos, inclusive para a Maribél que vivia falando mal dele. Ela não podia dizer para a vizinha que o marido fazia aquele tipo de trabalho e não aquilo que a amiga falava. Não o Paulo não tem uma amante, ele é um combatente da liberdade era o que ela queria dizer para a Maribél. Era horrível não poder falar a verdade para sua melhor amiga. Ela não acusava Paulo por maldade, ela mesmo que era a esposa chegou a pensar aquele absurdo do marido.
Bateram a porta. Vera abriu e era a amiga que entrou já falando que aquilo não podia continuar daquela maneira, ela vira na noite anterior a hora que o marido da amiga chagara, Vera tinha que dar um basta naquela indecência, os vizinhos todos já estavam comentando, ela não podia permitir que fizessem aquilo com a amiga.
Sim! Vera tinha que dar um basta, quanto aos vizinhos ela não podia fazer nada, se vazasse o que Paulo fazia, ele sem dúvida seria preso, podia ser torturado o coitado, até podia ser... Não! Nem ia pensar naquilo. Era melhor ela ficar falada que o “generoso” marido correr perigo, mas Maribél teria de saber a verdade, cortava-lhe o coração ver a melhor amiga falando aquelas coisas sobre Paulo.
Vera explicou que o que iria falar era altamente sigiloso. A guarda do segredo dependia a vida de Paulo, dela e quem sabe até das crianças. No começo Maribél protestou e chamou a amiga à razão, mas quando começou a saber os detalhes viu que não podia ser mentira, havia muitos detalhes, ela mesmo já havia escutado algo que seu irmão falou sobre esses casos de desaparecimento de pessoas e de torturas. Não havia dúvida! Sentia-se envergonhada agora que sabia de tudo. Como ela pode ser tão cega, tão insensível.
Com o passar do tempo, Maribél para acabar com aquela maldade que faziam com a amiga e seu esposo começou a confidenciar com as pessoas mais próximas o tal segredo que deveria guardar para preservar a vida de seus vizinhos. Com o tempo a vizinhança foi entendendo que não se tratava de sacanagem, mas sim de um trabalho muito perigoso e importante.

* * *

Vera estava lavando a louça do café da tarde enquanto escutava uma novela ao rádio. Levou um susto e quase deixou cair o pires no chão quando viu o marido entrar correndo em casa as cinco da tarde. O esbaforido marido pediu para a assustada esposa arrumar uma mala para ele com poucas coisas, ele teria de viajar de ultima hora, era um político importante que devia ser tirado dos pais. Ela –a esposa – deveria também fechar as cortinas para não chamar a atenção, um carro o pegaria dali a pouco por pessoas do SRPP na esquina, mas ela não deveria nem ao menos vê-los, quanto menos ela soubesse, mais segura ela estaria.
Tão logo ficou pronta a mala, Paulo beijou os dois filhos e despediu-se da esposa com um longo beijo. Cuide das crianças – pediu -, prometeu voltar dentro de uma semana no máximo. Bateu a porta e postou-se na esquina. Vera nervosa e preocupada com o marido não se conteve e espiou por trás da cortina da sala. Lá estava o marido olhando para um lado e outro, ele devia estar muito preocupado. Devia ser um político muito importante mesmo.
Um carro preto veio em alta velocidade e parou em frente a Paulo. Dois homens com roupas da mesma cor do carro apearam e introduziram Paulo na parte de trás do carro e partiram na mesma velocidade em que chegaram. Vera fez o sinal da cruz e pediu proteção para o marido e para os dois companheiros que iriam junto com ele para aquela perigosa operação.
A esquina ficava longe e ela não pode ver o rosto dos dois homens, mas sabia que era melhor assim! Deveria saber o mínimo possível, era um a questão de segurança.
Ouviu o barulho de mais um carro. Espiou cuidadosamente. Era vermelho. Era um táxi. O carro parou na mesma esquina. O motorista depois de uma longa espera virou-se para o carona e falou algo. Esperaram por mais um tempo. Vera forçou o olhar e viu que o carona na verdade era uma mulher. Ela falou algo e o carro partiu.


* * *

Paulo prometera voltar no máximo em uma semana, mas passaram vinte anos e nem noticias.
Sandra Regina cansou de esperar o amante na esquina- aquele covarde não teve coragem de dar um pé na idiota da esposa -. Rasgou uma das passagens para Buenos Aires – ficando apenas com uma - e mandou o carro seguir para o aeroporto. Hoje ela é esposa de um importante empresário argentino.
Vera continua até hoje tentando encontrar o corpo do esposo, bem como a encontrar alguma informação sobre o SRPP para poder resgatar a história do bravo militante.
Stanis Fialho, 12.06.2007

sábado, abril 18

Fazer da vida um grande prazer.


Se me perguntarem: o que é a vida?
Não sei! Vou responder
Apenas estou aqui no meu cantinho!
Vivo sim! Pois aprendi que quero viver.

Tá! Mas não sabe o que se deve fazer?
Não sei! Se soubesse não seria assim
Faço o que a vida vai me aprontando
Se soubesse... Seria mais fácil viver!

Cada dia nos trás algo de novo
E de novo vamos a cada dia
Tentando fazer o que se deve fazer.

Como não desistimos da vida
Tentamos sempre, e sempre de novo
Fazer da vida um grande prazer.

sexta-feira, abril 17

"Você saberá que está realmente bem na vida, somente no dia em que sentir vontade de convidar sua ex-mulher para dar uma passadinha em sua mansão, só para ela ver o que perdeu"

Necessidade Básica


A visão de uma folha em branco, ou de um cursor piscando sobre uma tela em branco me seduz.
Essas visões são como a de uma bela e nua virgem em minha frente implorando para ser tocada, corrompida, riscada, arranhada, tatuada de pequenas letrinhas ou simples rabiscos.
Pedindo que marque seu macio e aveludado corpo com palavras confusas ou conexas ou simples “riscalhadas” de menino.
Essa virgem não me pede muito, apenas quer ser usada para poder ser algo objetivo e não um simples ser em branco.

quinta-feira, abril 16

O homem na Lua


Hoje a gurizada se orgulha por terem seus MP’s 3,4,5,6,7, ou sei lá qual é o último.
Possuem seus celulares que tiram fotos, filmam, gravam e o diabo a quatro.
Mas eles nunca vão entender o que é ver pela TV – do vizinho é verdade – o homem pisando na lua.
Aquilo era a coisa mais fantástica que podia haver.
Tanto é que sonhava quase todas as noites com um astronauta entrando em meu quarto e acordava apavorado.
Aquilo era demais! Era digamos.... Supimpa!

Se é de cafagestes que elas gostam...


Quem me dera tivesse a coragem
De sair na rua e dizer tudo o que queria
E depois olhar na cara das pessoas e dizer
Sem preocupação nenhuma: bom dia.

Fazer tudo o que sempre quis fazer
Sem pensar o que iriam falar
Nem pensar quem iria me ver
Ou se quando fazia alguma pessoa feria.

Mas não sou deste tipo, sempre fui preocupado
Sempre pensando em ser o certo
Ser o tipo bem educado.

Claro que com isso eu nada ganhei
E muito menos consegui conquistar
O amor das mulheres que eu amei.

quarta-feira, abril 15

Armadilha


Mordi a isca! Fui humilhado em minha honra de caçador. Sai para abater e fui abatido comprovando a máxima que fala do dia da caça e do caçador.
Olho para cima. Há apenas uma lua brilhante rasgando o negror da noite. Nenhuma estrela.
Não tenho para onde ir ou como ir. O fosso é fundo e suas paredes íngremes e escorregadias.
Minha perna dói! Deve ter-se partido na queda. Não consigo ficar de pé. O chão é úmido e fétido.
Aos poucos meus olhos vão acostumando-se com a escuridão. Logo percebo que o odor fétido vem dos restos de ossos e carnes de outros que aqui caíram.
Ouço passos! Viro-me para o local de onde vem os ruídos. Vejo ela!
Ela vem sorrateira, nua, esfomeada, bela, excitada e lambendo os lábios para devorar mais este homem.

terça-feira, abril 14

Um caso dantesco e odioso aconteceu em POA.


Uma mãe para se proteger de seu filho que a esfaqueou, dá dois tiros no filho.
Ele um jovem de 24 anos, que não estudava e nem trabalhava, viciado em crack e que colecionava quatorze ocorrências policiais, morreu em casa antes que pudesse receber socorro médico.
Conforme relato de vizinhos, as brigas eram constantes, a mãe já havia sido espancada várias vezes. Ela não sabia – ou não tinha - mais o que fazer e, para proteger a própria vida, tirou a do filho.
Não acredito que alguém em sã consciência vá ficar contra essa pobre mulher que, já sofria com a dependência do filho e, agora sofre com a medida desesperada que foi obrigada a tomar.
E enquanto isso seguem por aí traficantes vendendo crack em todas as esquinas como se o poder policial não soubesse quem e onde isso acontece. Se qualquer cidadão sabe, como eles não sabem?
E junto a isso várias pessoas de bem, - achando que não estão praticando mal algum - seguem comprando outras drogas ilícitas como se não tivessem nada com isso. Mas todos deveriam saber que o dinheiro usado para comprar essas drogas – mesmo não sendo o crack - acabam financiando e garantindo o narcotráfico.

Sonhos


As vezes mergulho
Deslizo por estrelas
Desvio de buracos negros
Temendo ser consumido.

Apalpo intangíveis nuvens
Roço meus pés em supernovas
E deixo meu corpo boiar
Em desconhecidas vias lácteas.

Emergindo solto minhas asas
Vôo na imensidão das águas
Beijo sem medo enguias
E toco com cuidado algumas pérolas.

Em apnéia com arraias
Converso com um Poseidon cansado
Que de sua emaranhada barba
Fogem gaivotas inquietas.

É de manhã
O dia me chama
Volto a ser apenas eu!

segunda-feira, abril 13

Por vontade e sem saída

Mas quem é essa pessoa que me encanta
Ainda mais que a beleza da própria vida?


Rainha de todos os cantos e encantos
Com uma rara beleza só nela contida
Em que eu me prendo por vontade e sem saída

domingo, abril 12

(re)Partidas


Ela recusou! Não quis subir, iriam conversar ali no hall do prédio mesmo. Afinal era apenas uma rápida passadinha para dar uma lembrançinha e umas poucas palavras, mais por falar do que por querer falar.
Mas não vai nem subir? Estranhava ele! Ela reafirmou que estava só de passagem. Toma é pra você! Entregou-lhe um pequeno pacote cautelosamente feito com papel vermelho.
Ele não quis abrir! Temia que perderia muito tempo do pouco tempo que ela ficaria ali em sua frente, ou quem sabe temia chorar?
Bom! Ainda eram amigos não eram? Amigos se abraçam, principalmente em ocasiões especiais! Aquela é bem verdade, não era tão especial assim.
Ele a abraçou sentindo que aquele seria o último abraço de suas vidas. Quis falar mas a garganta estava presa em um nó amargo que não permitia som algum.
O leve e macio contato de sua pele, o perfume a muito conhecido e aquele olhar foram o suficiente para ele fazer o que não devia ter feito.
Puxou-a com mais força para si e beijou-lhe os lábios.
Esperou por uma reação qualquer. Uma língua mais atrevida, um pedido de “pare” ou uma bofetada mesmo!
Não houve nada! Soltou o abraço e pediu desculpas.
Ela tentou fazer-lhe crer que a culpa era dela, que ela não devia ter vindo e que...
Ele já dera as costas e subia as escadas com aquele nó a apertar mais sua garganta.
Ela entrou no carro. Olhou no espelho, não havia lágrima alguma para secar, deu a partida e sumiu...

quinta-feira, abril 9

Pequenas Crônicas de Pequenas Pessoas de Pequenas Cidades-8


Ele foi pela última vez na igreja no batizado de seu sobrinho. Isso faz oito anos!
Que fé estranha ele professa, 364 dias de desregramentos e pecados e apenas um único dia em que tem de seguir a risca sua inabalável crença.
Não comer carne na Sexta Feira Santa!
E assim ele fará, mesmo não sabendo que significado tem esse ato que deveria ter sentido apenas para aqueles que vão a igreja pelo menos umas duas vezes ao mês.
(Qualquer semelhança com qualquer coisa ou pessoa é meramente qualquer coisa.)

quarta-feira, abril 8


É querer demais que eu seja
O que você quer que eu seja
Se eu já era alguém antes de te conhecer .
Eu não posso ser um espelho de suas vontades!

Não sou algo em uma bandeja,
Que se oferta para os convivas!

terça-feira, abril 7

Pequenas Crônicas de Pequenas Pessoas de Pequenas Cidades-7


Ela decidiu que não amava mais ele. Tudo estava acabado!
Foi embora e logo arranjou alguém que agora ela sabia que amava de verdade!
Nunca mais se interessou pela vida daquele que um dia amara e que a amou, mas não entendia o porque: sempre que o via com alguém do sexo feminino lhe dava uma raiva e um ciúme que a corroia e começava a chorar!
(Qualquer semelhança com qualquer coisa ou pessoa é meramente qualquer coisa.)

segunda-feira, abril 6


Quem me vê triste
Pensa que não vou mais levantar
Quem me vê pensativo
Acha que estou perdido.

Esquecem eles que desde cedo
Aprendi a arte do mimetismo
E as coisas de minha vida
Podem não ser o que parece ter havido!

Posso estar hoje chorando num canto
Amanhã quem sabe eu até faça um canto
Das coisas que me tentaram ferir.

Posso até esconder o que penso
Ou mentir aquilo que eu penso
Mas não abro mão de no final sorrir.

sexta-feira, abril 3

Pequenas Crônicas de Pequenas Pessoas de Pequenas Cidades-6


Hoje ele chegou mais tarde, pois ao passar pelo posto de gasolina veio uma menininha de 13 e se ofereceu por “5 pila”. Fez ali no caminhão mesmo.
_Deve ser pra comprar uma pedra- ele pensou enquanto guardava o caminhão na garagem.
Entrou em casa e foi abraçado pela esposa e as filhas!
Sentia-se feliz, era um pai devotado e adorado.

(Qualquer semelhança com qualquer coisa ou pessoa é meramente qualquer coisa.)

quinta-feira, abril 2

Ué? Mudou?


Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial, disse: “Essa crise global precisa de uma solução global.Precisamos de investimentos em redes seguras, infraestrutura e em empresas pequenas e médias para criar empregos e impedir a agitação social e política”.
Primeiro eles quebram tudo financiando suas grandes –megas – empresas capitalistas, depois na hora de curar a ressaca querem contar com as pequenas e médias que eles tanto deixavam de fora de suas farrinhas econômicas.

Pequenas Crônicas de Pequenas Pessoas de Pequenas Cidades-5


Minha tia estava no ônibus que caiu no rio semana passada e morreu junto com outros 12 passageiros.
Quando eu vi um dos sobreviventes na televisão revelar que havia sobrevivido somente porque Deus quis, fiquei chocado:
_O que Deus tinha contra minha tia e aquelas outras doze pessoas?
(Qualquer semelhança com qualquer coisa ou pessoa é meramente qualquer coisa.)