terça-feira, setembro 24

CANÇÃO DO TOLO

De tudo ele sabia
Também sabia explicar;
Se alguém falava algo
Logo ele iria consertar.

Sabia ciência e Filosofia
E tudo o que pensar;
E se algo não havia
Ele iria logo inventar.

Aprendeu de tudo
Principalmente ensinar;
Disputava em tudo
Sempre tinha de ganhar.

Com tanto conhecimento
Muita idade ele devia ter;
Conhecimento assim pra pouca idade?

Mas logo ficou notório
Ele só podia uma coisa ser:
O mais tolo, dos tolos da cidade!

"HOMENAGEM AOS QUE SABEM TUDO"

quinta-feira, setembro 5


Veja só que coisa estranha
Eu ontem lembrei de você
Não foi recordando histórias
Nem olhando fotografias.

Estava só no meu quarto
E alguma coisa me incomodava
Não me deixando dormir;
Não era algo que havia
Mas sim, algo que faltava.

A solidão de minha estante
sem bibelôs e superstições
A minha comida insossa
sem teu gostoso tempero.
E a pele nua das paredes
Fizeram-me lembrar de um vazio.

E ainda hoje sinto um arrepio;
Ao ver que em meu travesseiro
Ainda tem o teu cheiro.

terça-feira, agosto 27

Para meu Pai

Quem vai agora contar histórias longas?
Revelando de onde era a sua procedência;
Com casos que eram como letras de milongas
Simples e sempre com muita inteligência?

Com pausas longas para coisas imperceptíveis
Num causo simples com detalhes cotidianos;
Lembrando-se de detalhes quase incríveis
Como se nunca houvesse passado os anos?

Quem vai gravar estas lembranças
Quem terá esse inventivo buril
Como a espada de um herói?

Consertando ou transformando tudo em jóia
Ou construir do simples uma bonita história

Abençoado pelo Santo Elói?

Santo Elói é o padroeiro dos ourives, profissão em que meu pai Antônio Eloy dos Santos foi um mestre.

sábado, agosto 24

Te lambendo como um gato
Ou te mordendo como um leão
Eu sempre demonstro de fato
A minha grande paixão!

Preso em teus cabelos
Grudado em tua pele
Perdido em teus desejos
Procuro modos que revele:

Fazer você entender
Que não sou nada
Estraçalho meu coração!

Só para você ver
Que o que sinto

É simplesmente paixão!

segunda-feira, julho 8

RE-POSTAGEM 24 ou sem tempo e/ou preguiça e/ou inspiração

Tenho 47.
Ainda não assimilei a idade que tenho! Às vezes eu paro e penso um pouco para lembrar a idade que tenho! Mas não tenho dificuldade para lembrar que é 47. ainda mais que só esqueço a idade que tenho e não o ano em que nasci. Tenho dificuldade para lembrar números, então lembro que nasci no ano do golpe militar brasileiro. A resposta vem na hora, nasci em 1964, o resto é só fazer cálculo e redescobrir a idade com facilidade.
E falando em idade, entendo totalmente aquela história – ou estória? – que a vida começa aos quarenta.

Minha infância foi muito boa. A adolescência foi bala – se falava “bala” para dizer que era bom quando eu era adolescente -. Foi bom os vinte, os trinta. Mas sem dúvida eu adorei a chegada dos quarenta. Não sei se será tão bom os cinqüenta, os sessenta e por ai vai até que para de ir e tudo acaba. Realmente adorei entrar nos quarenta. Me vi mais homem! Homem no sentido real da palavra. Cheguei nos quarenta e tinha uma visão melhor da vida.
Vi que entendia mais as coisas. Sabia ser mais tolerante como não era há pouco tempo antes. Sabia amar melhor – na forma espiritual e física -. Sabia entender melhor tudo o que antes achava que já sabia. Sabia rir mais e melhor – antes ria muito, mas sem saber muito bem o porque eu ria -. Aprendi a ler melhor. Ver melhor – não com os olhos físicos, mas com os olhos da razão e da alma -. Comecei a viver melhor. Acho que comecei a ser melhor!
Sim a barriga cresceu, a barba ficou branca – os cabelos ainda são rebeldes e teimam em serem pretos -, a agilidade diminuiu, mas também é por causa do sedentarismo que não tinha antes dos vinte e poucos e por aí vai. Mas computando tudo acho que os quarenta, “si pá” como fala a gurizada é bem melhor que os trinta, os vinte...

Meu filho tem 21 e eu “freqüento” a turma dele naturalmente como se 21 eu os tivesse. Os amigos dele me tratam e fazem festas comigo como se a idade deles eu a tivesse. Isso é ótimo! Isso faz os meus quarenta ficarem bem novinhos.
Ficar velho é questão de espírito, ou falta dele!

Tenho um amigo que quando é questionado a sua idade ele fala 33, 34 ou algo parecido, e apesar de ao olhar para ele ser possível acreditar, a forma encabulada com que ele fala, afirma que é muito mais.

Outro dia, estando eu no meu bar habitual, chegou um amigo de adolescência e sentou para tomar uma comigo.
Durante o tempo em que bebíamos e conversávamos foi chegando conhecidos mais novos e inclusive alguns da idade de meu filho. Por umas duas ou mais vezes eu apresentei o recém chegado dizendo: Este/a é fulano/a, filho/a do Sicrano/a.
Pouco depois meu amigo disse que iria embora, estava ficando deprimido. Perguntei porque e ele disse que estava constrangido, pois em nossa mesa sentava os filhos de nossos amigos e isso o estava fazendo se sentir muito velho.
Até brinquei que era bem melhor estar sentado com os filhos de nossos amigos que estar eternamente deitado com os pés juntos! Ele não entendeu como brincadeira e nem entendeu a brincadeira como sendo verdade. Foi embora.
Eu fiquei e continuo ficando!
Tenho meus amigos de quarenta, cinqüenta, sessenta e setenta e não vou deixar de ter os de trinta, vinte e até menos.

Considero-me um bom observador! E uma coisa que vejo no dia a dia é que tem gente que tem a idade que tem! Outros – assim como eu, modéstia à parte – parecem ter a jovialidade que sua Certidão de Nascimento afirma ser mentira, assim como conheço muitos jovens que tem muitos anos mais do que já viveram.
Ora! Envelhecer é bom!
É isso ou a morte prematura.

terça-feira, junho 25


Fico de barriga para o alto
esperando Sandman aparecer
e soprar algo nos meus olhos
e por fim; eu adormecer.

Fico quieto e tento não pensar
esperando que surja enfim morfeu
mas, vem ideias, vem pensamentos
depois de horas nada aconteceu.

Hipnos me abençoe
Amaldiçoe-me, me faça dormir
do mundo acordado quero partir.

O real me chama
e a lua me retém

quando me vejo: estou sem!

segunda-feira, junho 3

COISAS DE MARCELA

Assim que acabou a ligação Letícia guardou o celular na sua MNG Barcelona preta e saiu para o almoço. Marcela estava um pouco apreensiva, dava para perceber pela sua voz ao telefone. Letícia não queria sair, tinha um monte de coisas para resolver no escritório, mas não iria faltar para com a amiga.
Elas se conheciam desde sempre. Ainda antes da escolinha já brincavam juntas, seus pais eram amigos do tempo da faculdade. Apenas uma única vez elas estiveram em salas de aula separadas e talvez por isso mesmo elas viessem á repetir aquele ano. Uma sempre sabia o que a outra estava sentindo, quase que dava para uma ler o pensamento da outra, era uma amizade que causava inveja nas outras meninas.
Letícia sacudiu a cabeça sorrindo como se estivesse dizendo “quanta bobagem”, ao lembrar de quando Marcela disse que até o dia de sua menstruação havia mudado para poder ficar no mesmo dia que a da amiga. “Quanta bobagem” repetia para si. Elas eram feito unha e carne, mas isso já era absurdo! “Coisas de Marcela”.
Letícia chegou  em frente ao prédio onde ela marcara com a amiga. Olhou para os lados e nada dela. Iria esperar ali na porta principal, Marcela trabalhava a mais ou menos umas seis quadras dali, não daria tempo para ter chegado antes dela.
Acendeu um cigarro enquanto lembrava-se de suas histórias com Marcela. A descoberta do primeiro amor, a primeira menstruação, o primeiro beijo, a primeira transa, a primeira desilusão. Realmente todas as primeiras experiências elas passaram juntas, ou pelo menos trocaram segredos e dúvidas destas experiências. Letícia sempre fora um pouco mais tímida e centrada, quando era pra fazer loucuras era Marcela que a guiava, da mesma forma que quando a coisa apertava era Letícia que dava um jeito na situação.
Não demorou muito e Marcela chegou. Abraçaram-se no meio da calçada como se não se vissem há muitos anos, apesar de elas terem saído juntas há poucos dias atrás. Marcela quis fumar um cigarro antes de entrar, mas Leticia protestou dando conta que não dispunha de muito tempo. Entraram e pegaram uma das poucas mesas que estava disponível devido ao intenso movimento do horário do almoço. Marcela fez o pedido para as duas, ela já sabia de antemão o que a amiga iria querer. Quando o garçom retirou-se Leticia foi logo querendo saber o que tinha acontecido, pois percebia que Marcela ainda estava com aquela voz apreensiva que ela escutara ao telefone.
_ É verdade amiga! Mas agora que estou contigo estou mais calma! – pousou a mão sobre as da companheira.
_ Mas o que houve? - Reforçou a pergunta. Marcela soltou um longo suspiro e fixou os olhos nos de Letícia perguntando se ela não adivinhava o que era!
_ Não! Nem imagino! Tu estas me deixando curiosa e nervosa. Desembucha! – retirou a mão para erguê-la junto com a outra num sinal de quem pede explicação. – Pare de rodeios!...
_ Seguinte... Lembra aquela festa na casa da Cintia? – Leticia lembrava muito bem e queria saber o que tinha a tal festa com todo o drama!
_ Pois é! Tu saiu com o Beto né?
_ Sim! Eu te convidei para irmos juntas, mas tu quis ficar um pouco mais! No mínimo foi por causa daquele carinha que tocou violão! - Afirmou em vez de perguntar. Conhecia muito bem a amiga. Viu os olhares trocados e percebeu que ele era exatamente o tipo que interessava Marcela. – Não me diz que estás apaixonada de novo né guria!
_ Antes fosse amiga! Antes fosse!
_ Para com isso e fala...
_ Tá bem! Tá bem! Eu fiquei com ele... – olhou no fundo dos olhos da outra!
_ Sim! E aí?...
_ Nós transamos... – baixou o olhar enquanto Letícia soltava uma gostosa gargalhada.
_ Ora amiga! Isso não é nenhum absurdo! Quantas vezes e para quantos tu já deu? Não vejo o porquê do drama.
_ É porque nós não usamos proteção!... – Ficaram mudas por alguns segundos olhando-se. O garçom voltou com os pratos, serviu-as e retirou-se.
_ Tu tá brincando? Tu deu pro cara sem camisinha? – explodiu!
_ Fala baixo Lê! Quer que todos saibam? – censurou olhando para os lados para certificar-se que ninguém havia escutado. – Eu sei que foi loucura... eu “tava” bêbada e...
_ Não interessa se estava bêbada! Quase sempre que se transa com um desconhecido a gente esta bêbada e nem por isso se deixa de usar preservativos! – falou em um tom mais baixo.
_ Eu sei né! Mas marquei bobeira! Eu sempre uso, mas naquela noite a gente estava a milhão, quando chegou na hora nem ele e nem eu tínhamos a maldita da camisinha!
_ Bom!... Tu já fez pelo menos o teste de HIV?
_ Não guria... Estou com medo! – ficaram novamente em silêncio, tipo aquele silêncio que não existe na vida real e que sempre se vê no cinema.
_ Tu achas que há perigo de ele ter te passado algo? – Letícia quebrou o longo silêncio.
_ Não isso não!... Sei lá? Não se pode dizer isso apenas pela cara da pessoa, mas...
_ Está com medo então de... – não terminou a frase.
_ Sim! Já era pra ter vindo e não veio! – Os olhos de Marcela encheram-se de lágrimas.
_ Quanto tempo?
_ Já era pra ter vindo a uns três ou quatro dias...
_ Bem! Não adianta chorar antes da hora – quando a coisa apertava era Letícia que vinha para dar um jeito na situação - vamos terminar nosso almoço e tu vai direto ao teu médico. – pousou a mão na mão da amiga que acabara de secar as lágrimas.
_ Tu vais comigo Lê? Eu não queria ir sozinha!
_ Amada! Hoje as coisas estão terríveis no escritório, hoje não posso!
_ Não sei se terei coragem de ir sozinha!
_ Bem! Então vamos amanhã! Um dia a mais ou um a menos não vai fazer tanta diferença né?
_ Tá bom amiga! Não sei o que seria de mim se não fosse você!
_ Ora! Bobagem! A gente sempre se ajudou e sempre iremos nos ajudar! – terminaram o almoço e saíram quietas.
Ao chegar à rua, deram-se um longo abraço e nada disseram, seus olhares cumplices de vários anos disseram o que precisava ser dito. Cada uma tomou o seu rumo. Marcela um pouco mais tranquila, agora que havia desabafado e Letícia muito nervosa e preocupada. Ela não voltou ao escritório naquela tarde. De sua cabeça não saia a bobagem que a amiga havia dito anos antes. Foi direto ao consultório de Márcia, sua ginecologista, só após estar com Marcele ela percebera que estava atrasado o seu ciclo.

E se aquilo não fosse apenas “Coisas de Marcela”?

sexta-feira, maio 17

Haikay Tupã

Levei quase nada
mas deixei a metade
Não minhas coisas
somente a saudade.

segunda-feira, fevereiro 4



Triste como um tango antigo
Triste como samba de raiz
Triste como ronco de bugio
De minha vida você fugiu.

Dolente como milonga
Dolente como soneto
Dolente como acalanto
Me vi só com meu pranto.

Uma mão esquecida no ar
Uma frase emudecida
Um soluço a calar.

Uma separação inesperada
Uma desilusão indo pelo ar
E uma esperança a esperar.

terça-feira, janeiro 22

PERDA



Seu Getúlio empurrou o prato em silêncio e foi sentar-se também no mesmo silêncio no surrado sofá em frente à televisão. Procurou uma partida de futebol qualquer, e não achando ficou assistindo – ou quase... apenas olhava para a frente em direção ao vídeo sem ver nada – o final do capitulo de alguma novela. D. Esther recolheu os dois pratos sujos com os restos do jantar e o da filha que estava limpo como sempre estava desde o dia em que eles a perderam.
Depositou os sujos no fundo da cuba da pia e guardou o limpo como de costume. D. Esther sabia que o terceiro prato nunca mais seria usado, mas mesmo assim sempre o colocava na mesa, como fazia antes de perder sua filha.
Lavou os dois pratos pensando como seria bom se tivesse três para lavar! O trabalho seria maior, mas ao menos a filha ainda estaria entre eles! Assim que terminou com o segundo, ficou estática a olhar para os pequenos pingos de água que escorriam do prato e fugiam em direção ao ralo e, junto com os pingos de água fugiam também os pingos de lágrimas de seus cansados e sofridos olhos, assim como a filha fugira de suas vidas!
Mesmo o terceiro prato estando limpo, ela o pegou de dentro do armário e colocou embaixo da água que escorria da torneira e o lavou como se preciso fosse. Não era necessário, mas pouco importava, pois ao lavar o terceiro prato há muito não usado, dava-lhe a sensação de que ele também havia sido usado. Enganava-se conscientemente.
Seu Getúlio desviou os olhos que nada viam para ver a atitude que a pobre esposa toda noite fazia. Pensou em mandar ela para de fazer aquilo, mas não o fez! Voltou os seus olhos para continuar a não ver o que antes não estava vendo! Esperava que um dia a esposa fosse se conformar e parar de fingir que não havia perdido – assim como ele - a filha.
Após secar os pratos e os olhos, também sentou-se ao lado do marido em frente a TV e ficou também perdida sem nada ver. Para eles só havia um imenso vácuo que não permitia a eles verem nada, a não ser a falta de sua filha.
Ficariam assim os dois vendo o nada até o momento em que se retirariam para o quarto para dormirem junto com seus pesadelos, não fosse o zumbido da campainha que os acordou daquele sonho acordado.
A campainha feriu não só os ouvidos, mas também o coração de D. Esther! Seu Getúlio baixou o som da TV e dirigiu-se lentamente para a porta, como um gado que vai para o matadouro.
Seu Getúlio abriu a porta já sabendo quem veria! Na varanda, bem abaixo do velho lustre que ele havia instalado anos antes, estava Cleumar com seu gorro preto de sempre e uma jaqueta de couro surrada e totalmente aberta, que deixava aparecer na linha da cintura uma pistola calibre 6.5mm.
_ A Solânge? – falou Cleumar como se não houvesse ninguém a sua frente -. Cleumar estava foragido e desde então comandava o tráfico de drogas no bairro onde eles moravam.
_ Solânge!... – Gritou o pai virando de costas e deixando a porta aberta. Foi sentar para novamente continuar a não ver o que passava na TV. Solânge surgiu correndo dentro de uma mini-saia que mal lhe cabia e jogou-se ao pescoço de Cleumar. Beijou melosamente os grossos lábios dele e já ia fechando a porta quando D. Esther falou com uma voz débil:
_ Solânge... Leva um casaquinho minha filha! Tá frio!
_ Não encha o saco mãe! – respondeu ao fechar bruscamente a porta.
Seu Getúlio desligou a TV e foi dormir, D. Esther ainda ficou alguns minutos chorando em frente à TV desligada...Ela não conseguia se acostumar com a ideia de que havia perdido Solânge, sua única filha!