terça-feira, janeiro 25

BARBARELLA


Barbarella - Queen of the Galaxy
Enviado por rstvideo. - Assista outros vídeos de Filmes e Televisão .

Filme de Dino de Laurentis de 1968 com Jane Fonda. Nós garotos - e outros não tão garotos - adoravamos.

TANGO DO AGRADECIMENTO


Agradeço-te por ter me abandonado
Só assim eu não me sinto culpado
Por ter havido um dia terminado
Algo que nunca devia ter existido.

Agradeço-te pelos beijos mal dados
Pelas carícias que não me deu
Pelos segredos que me escondeu
E pelos desejos que foram negados.

Agradeço-te querida
Que passado tudo isso
Tu és para mim totalmente esquecida.

sexta-feira, janeiro 21

Pequenas Crônicas de Pequenas Pessoas de Pequenas Cidades - 24


Imaginava-se superior a tudo e a todos. Entendia de todos os assuntos e era o rei da filosofia.
O que não era de sua própria lavra era de uma famosa terapeuta que ele – lógico - conhecia. Enfim! Era o dono da verdade!
Só não conseguia entender porque sua vida, mesmo com tanto conhecimento, continuava uma merda.

Qualquer semelhança com qualquer coisa ou pessoa é meramente qualquer coisa

quinta-feira, janeiro 20

História de Dick ou Uma história de amor 2(final)


O cemitério municipal recebeu uma quantidade razoável de pessoas no triplo enterro. Após o sepultamento Dick saiu a vagar sem saber o que fazer. Sua vida havia acabado, era tudo o que ele pensava! Depois de tanto vagar, chegou em frente ao falido boteco. Não estava com a chave do boteco, então chutou a porta até ela ceder. Caminhou até o balcão e serviu-se de uma garrafa de cachaça. O líquido entrava com a mesma facilidade com que corriam as lágrimas.
Uma garrafa e meia após, Dick saiu do boteco cambaleante. Tentava encontrar o caminho de casa que ficava bem nos fundos do boteco, mas, pouco afeito ao álcool não conseguia encontrá-la. Saiu em direção contrária. Logo mais adiante deu-se de frente com um outdoor do governo que propalava o “bom” atendimento dado à população na área da saúde. Lembrou de Fifa jogada em uma cadeira na recepção do hospital e começou a depredar com chutes, socos e pedradas a propaganda mentirosa.
Alertada pelo barulho, uma viatura da polícia chegou ao local. Os dois policiais desceram do carro e abordaram o transtornado e bêbado Dick. Mandaram ele parar! Acostumado a cumprir ordens ele parou. Virou-se para os agentes de segurança e caiu em um riso entre choro desesperado. Um policial aproximou-se tentando acalmá-lo, pois reconheceu o ex-proprietário do boteco.
Sem saber se pelo efeito da bebida, da perda, da indignação ou por estar cansado de sempre levar a pior por toda a sua vida, Dick enlouqueceu!
Socou o rosto do policial com tanta força – que ele nem imaginava ter – que o jogou ao solo. O segundo como ato reflexo sacou o revólver mas, Dick já o estava esmurrando. Ao sofrer os golpes a arma caiu bem aos pés do descontrolado viúvo. Ele sem pensar abaixou-se e pegou a arma. Antes do policial dar por si, um certeiro projétil estourou sua testa. O outro policial tentou correr para se proteger atrás do carro mas, dois tiros certeiros entraram por suas costas e deixaram dois furos na parte frontal do uniforme.
Dick ficou parado em frente aos dois cadáveres. Corpos mortos não o assustavam, afinal de contas ele a pouco havia enterrado três pessoas que ele amava, inclusive um bem pequenino que ele nem teve tempo de conhecer.
Os tiros alertaram a vizinhança, mas antes que alguém pudesse chegar ao local e flagrar Dick, dois homens chegaram e convenceram o ébrio e neófito assassino a se retirar do local do crime.
Dick acordou com a cabeça estourando e zumbindo no outro dia. Olhou para os lados e não reconheceu o local onde estava. Logo apareceu alguém para lhe dar um copo de Coca-Cola e um sanduíche. Não tinha fome, mas mesmo assim comeu e bebeu. Aos poucos começou a lembrar o ocorrido na noite anterior. Ficou surpreso com o que lembrou, mas não sentiu remorsos. Ou melhor, sentiu remorsos de não sentir remorsos do que havia feito.
O cara que havia trazido o lanche voltou. Agora com um pouco mais de lucidez o reconheceu-o. Era Tigre, o braço direito do trafico no morro do ... ! O braço direito de Cláudio da Luz!
Pensou em voltar ao boteco e se entregar a polícia pelo que havia feito. Na noite anterior estava bêbado e desconcertado pelas perdas que sofrera, as autoridades iriam entender e sua pena seria branda, afinal ele não era um criminoso e sim uma vítima daquele mundo cruel.
Cláudio da Luz chegou com mais alguns homens e começaram a conversar com Dick. Ele ainda estava meio bêbado, mas não o suficiente para não entender os argumentos daqueles homens! Não seria poupado pela justiça! Talvez nem chegasse até os homens da justiça, pois havia matado dois policiais e isso o transformava em um alvo mortal para os companheiros de farda.
Um pouco de filosofia barata e mais uns goles de cachaça foi o suficiente para Dick perceber que não havia mais volta. Ele agora pertencia ao mundo de Cláudio da Luz! Ao mundo do crime! Após matar aqueles dois policiais ele pertencia ao mundo do crime! Ao mundo de Cláudio da Luz!
Cláudio da Luz viu nele a aptidão para a execução. Dick nunca havia usado uma arma antes e acabara com os policiais como se fosse um expert no assunto. Ele não ia desperdiçar o “talento” que estava em suas mãos e com um pouco de paciência e muita conversa convenceu que todos os que não faziam parte do mundo do tráfico eram inimigos de Dick.
Aqueles que viviam lá embaixo em belos apartamentos e mansões e também os que viviam no morro do ... e eram contra Cláudio da Luz eram os culpados pelas mortes de Fifa, de seu filho, de Tia Tereza e de seu pai. Eles eram os responsáveis pela vida que ele perdera. Logo a fuga de sua mãe e irmã também era motivada pelas pessoas que ele agora via como seus inimigos.
Numa sexta feira chuvosa Cláudio da Luz cobrou a “amizade” e “proteção” que dava a Dick. Um certo policial não estava cooperando e devia ser eliminado. Foi colocado nas mãos dele uma pistola 45mm. Dick a colocou na cintura como se aquilo fosse algo que sempre fizera por toda a sua vida e desceu o morro para local que lhe fora indicado.
Uma hora depois ele voltou e entregou a arma sem dois projéteis e disse: Tá feito! Cláudio da Luz não pegou a arma e disse: Ela é sua matador!
Aquela noite Dick não conseguiu dormir. Saiu duas vezes da cama e vomitou na rua. Era sua terceira morte, mas a primeira de cara limpa, as anteriores ele estava bêbado e nem sabia o que estava fazendo. Mas não sentiu remorsos. Para ele tudo o que ele havia perdido era fruto daqueles homens que ele matara.
Uma semana depois ele foi incumbido de matar um cara que havia desertado o grupo e estava dando informações para a polícia. Desta vez ele trouxe a arma faltando apenas um projétil. Foi um tiro certeiro na nuca. Mais uma vez foi elogiado por Cláudio da Luz pelo seu “trabalho”. Já falei, essa arma é sua matador! – reafirmou o chefe do tráfico -.
Dick em pouco tempo deixou de ser conhecido como Dick. Mudara de nome outra vez, agora ele era apenas “matador”.
Seus serviços para Cláudio da Luz lhe rendiam um bom dinheiro, mas isso para ele pouco ou quase nada importava, o que lhe movia em suas execuções era a certeza que estava se vingando das perdas e da vida.
Certo dia Cláudio da Luz lhe chamou! Dick sabia que era mais alguém que ele devia “despachar dessa para melhor”. Mas desta vez não era um X9, um rival ou policial, era um casal que estava complicando os negócios. Eles criaram uma ONG - coisa que ele nem sabia muito bem o que era - e estavam botando a população contra os negócios.
_ Eles são da turma lá de baixo cara! Da turma que ferrou sua vida! Que fudeu com á vida de tua mulher e teu filho...
Dick pegou
sua companheira 45mm e foi com o Tigre fazer o "serviço"! Ele sempre ia sozinho, mas Cláudio da Luz pediu para o Tigre ir junto desta vez: É um trabalho especial! Esses caras tem as costas quentes mano! Podem até ter segurança ta ligado?
Chegaram em frente à casa do casal encomendado. As dezenas de mortes deram a Dick a experiência. Antes de entrar na casa e apagar todo mundo como sempre fazia, tomou precauções. Rodou a casa e verificou que não havia seguranças.
Olhou por uma janela dos fundos e viu o casal jantando. Estavam sós. Chamou Tigre e com um pontapé derrubou a frágil porta.
O casal petrificado nem ao menos reagiram. Parecia que já estavam esperando que algum dia aquilo aconteceria. Dick colou a arma na cabeça do homem e mandou ele levantar. O Tigre entrou após e rendeu a esposa do assustado homem que olhava para o cano da 45mm de Dick.
Levaram eles para a sala e Dick mandou eles ajoelharem. Normalmente ele não dava nem tempo das vitimas pensarem, mas desta vez ele agiu diferente sem nem saber o porque.
Apontou a arma para a cabeça do homem e mandou Tigre apontar para a da mulher.
Por favor! Por favor! Sei que não temos mais chances de viver, mas deixe ao menos eu dar um último beijo em minha esposa! – pediu o assustado homem de joelhos em frente à esposa que chorava silenciosamente.
Tigre já ia puxar o gatilho, mas parou a um movimento da mão de Dick! Com um sinal de cabeça ele autorizou o beijo.
O homem segurou carinhosamente os ombros da esposa e colou carinhosamente os lábios sobre os dela. Ela prontamente e apaixonadamente respondeu. Dick lembrou naquele momento o último beijo de Fifa.
Tigre deu um sorriso tolo e engatilhou seu 38 niquelado. Encostou na cabeça da mulher que ainda beijava apaixonadamente e ouviu-se o estampido.
A mulher e o homem que estavam de joelhos caíram em desespero ao mesmo tempo em que Tigre tinha sua cabeça estourada por um tiro vindo da 45mm de Dick.
Tigre ficou caído no meio da sala em meio a uma torrente de sangue em frente ao assustado casal que estava boquiabertos e olhando para Dick que tinha uma pistola com o cano ainda fumegante pelo disparo.
Dick virou as costas e foi embora deixando o casal a chorar abraçados. Nunca mais alguém ouviu falar em Diacomo, Dick ou Matador.
Dick podia matar pessoas, mas nunca mataria um amor. Ele sabia o quanto isso doía!

quarta-feira, janeiro 19

Clube do livro para Voyers? - NovaE - Nova Consciência e Cibercultura



Clube do livro para Voyers? - NovaE - Nova Consciência e Cibercultura

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História de Dick ou Uma história de amor 1


Diacomo nasceu no morro do ... . Ninguém pode crescer no morro do ... com um nome assim, por isso, já na infância virou “Dick”. Seu pai era motorista de caminhão e ganhava muito bem comparado com seus vizinhos. Levava uma vida boa até descobrirem que o patrão e a carga que ele carregava no caminhão da “empresa” não era algo que se podia considerar como um trabalho normal e legal. Seu pai foi abordado em uma blitz em pleno “trabalho” e morreu com dois tiros no peito.
Não havia um empregador legalmente constituído para pagar uma indenização e muito menos um seguro. Dick viu seu bem estar fugir como a água foge entre os dedos.
No morro do... quando um jovem precisava ou queria ganhar dinheiro, não tinha dúvida, incorporava-se ao pessoal do Cláudio da Luz, o cara que comandava o tráfico de drogas no morro. Mas Dick não iria entrar naquela vida e resolveu fazer malabarismo no sinal para conseguir uns trocados para ajudar a mãe com o sustento da casa. Por sorte era uma família pequena. Só ele, a mãe e a pequena Sheila, agora que o pai não estava mais com eles.
Um dia Dick acordou e não encontrou a mãe e a irmã em casa, apenas Tereza, uma vizinha que era grande amiga de sua mãe.
Foi entre lágrimas e soluços que soube pela amiga da mãe que ela e a irmã tinham ido – sabe-se lá para onde- para nunca mais voltar. Ele passaria a viver num barraco mais acima com a “Tia Tereza”.
Como lágrimas e soluços não resolvem nada, no terceiro dia Dick se conformou com a vida que teria de levar longe das pessoas que ele amava - e nem ao menos sabia se esse amor era recíproco, pois afinal de contas ele tinha ficado para trás -.
Logo acostumou-se com a nova rotina: de segunda a sexta acordava as seis e trinta e ia para a escola municipal, onde era servido um café da manhã e após freqüentava as aulas maçantes ministradas por uma grande maioria de professores mais maçantes ainda. Antes de ir para casa tinha o almoço que a prefeitura oferecia, não era um banquete, mas garantia o estomago até a noite. Chegava da escola e trocava o uniforme de aluno por um surrado macacão de brim, que um dia fora uma calça muito cobiçada pela sua marca mas, que agora estava muito desbotado e ficava ajudando Tia Tereza no boteco. Passava o dia a pesar feijão, arroz, ração postura ou engorda para galinhas ou porcos entre outras coisas e faxinando. O pior era as entregas que ele tinha de carregar em pesados pacotes, com coisas que ele nunca tinha provado ou tido, morro acima ou morro abaixo e quase nunca ganhar uma moeda que fosse como gorjeta pelo pesado trabalho.

Quando o boteco fechava lá pelas onze da noite ele caía em sua simples, mas confortável cama nos fundos da casa e dormia o sono dos justos. Sábado e domingo seria igual não fosse o fato de não ter escola e o turno no boteco começar as nove e terminar quase sempre de madrugada. Nas noites de sexta a domingo era o pior! O boteco da Tia Tereza virava o pagode da Tia Tereza e aí o turno não tinha hora de acabar. Enquanto houvesse alguém com sede e dinheiro o boteco não fechava as portas e ele não podia dormir.
Nos finais de semana Dick ficava torcendo para alguém beber mais do que podia suportar e puxar alguma briga. Briga quase sempre era a certeza do boteco fechar mais cedo. O pior era quando não havia as refregas e Tia Tereza se emocionava na cachaça e queria ficar com o negócio aberto até de manhã. Quando isso acontecia Dick torcia para alguém cantar Tia Tereza e arrastá-la para o quartinho dos fundos. Quando isso acontecia, ela corria todo mundo e fechava o boteco para desfrutar dos poucos minutos de prazer que ela ainda conseguia ter.
Foi nesse ambiente, em meio a sambistas, trabalhadores braçais, lavadeiras, bêbados, amantes, traficantes e toda a sorte de gente que Dick conheceu Fifa. Na verdade era Filomena, mas no morro do... ninguém crescia com o nome que havia recebido ao nascer. Os dois eram adolescentes e se enamoraram no exato momento em que se conheceram. O namoro virou coisa séria e juntos sonhavam em um dia casarem-se e levar uma vida bem legal com seus filhos em um lugar bem mais legal ainda.
Como ele não tinha condições financeiras para sustentá-la e Fifa não abria mão de terminar os estudos antes do casamento, o namoro prolongou-se por longos e apaixonados cinco anos até o dia em que ela o surpreendeu com a noticia de que estava grávida.
A primeira reação foi o desespero e depois a razão. A razão dizia-lhes que deveriam abortar. Se eles não vislumbravam a chance de viver a dois o que dirá a três? A coisa estava quase que acertada quando o amor de mãe se opôs ao acertado. Depois de muito pensar, decidiram que teriam o filho de qualquer maneira.
Dick tinha de comunicar a Tia Tereza, e eles já previam a reação enlouquecida dela, mas estavam enganados, Tia Tereza recebeu a mensagem com lágrimas de felicidade nos velhos e cansados olhos. E em vez de Tia Tereza ficar estérica ela ofereceu sociedade no boteco para o casal. As coisas iriam dar certo!
Sim! Iriam não fosse uma grande maioria de pessoas que tinham o título de eleitor, levar um certo salvador da pátria a Presidência da República naquele ano pelo voto popular. Uma Ministra da Economia apareceu na televisão e apresentou um plano mirabolante que salvaria o país e faria a vida de todos muito mais feliz.
Dick no balcão do boteco, entre o pedido de um freguês e outro ouvia as palavras daquela mulher na TV e nada conseguia entender – parece que ninguém no país conseguia entender também – e continuava a levar sua vida, com o sonho de crescer na mesma proporção em que crescia a barriga de Fifa.
Mas parece que algo não estava dando certo. Os que eram pobres continuavam pobres assim como ele também continuava na mesma. Os ricos tiveram seus revezes e os pequenos e médios poupadores foram à bancarrota. 
Tia Tereza havia colocado - como a maioria dos pequenos poupadores -tudo o que pode economizar ao longo dos anos na poupança que agora estava bloqueada para saques.
Fifa começou a ter problemas na gravidez e vivia no posto de saúde. Muitos foram os diagnósticos e muitas as frustrações com os procedimentos adotados.
Em poucos dias Fifa perdia peso como os poupadores que haviam aventurado suas economias na caderneta de poupança perdiam suas esperanças. Com o falido plano do governo os clientes ficaram sem dinheiro não só para comprar, mas também para saldar dívidas contraídas e, nessa nova realidade Tia Tereza também faliu.
Era um domingo à noite. Num domingo normal o boteco estaria cheio de gente a beber e a cantar samba e com isso o caixa recebendo na mesma aritmética algum dinheiro, mas não! O boteco estava fechado. Lá dentro só uma derrotada e envelhecida Tia Tereza e um desesperado Dick – Fifa estava sentada em uma cadeira na recepção do hospital esperando vagar um leito do serviço público de saúde -.
Acabou Dick! Foi o que Tia Tereza falou entre soluços! Não temos mais como manter o boteco aberto! Lágrimas corriam nos olhos de ambos... Tia Tereza dona do boteco virou da noite para o dia a Tia Tereza falida ex proprietária do boteco.
O antes sócio, e agora também falido Dick, deixou a tia a chorar debruçada sobre o caixa vazio e foi ter com a combalida esposa.
Ao chegar na recepção do lotado hospital viu que a cadeira antes ocupada por sua amada Fifa era agora ocupada pelo corpo de um velho que agonizava com a mão sobre o peito.
Procurou atônito no balcão da emergência informações sobre sua esposa. Soube que ela estava no terceiro andar em um quarto com mais três pacientes a espera de atendimento. Soube pela atendente que logo pela manhã ela teria um plantonista para atendê-la, mas, ele não podia ir ter com ela agora. Só amanhã no horário de visitas.
Dick, resignado ficou em pé – pois não havia acento disponível na lotada sala de espera – a esperar que a hora da visita chegasse. Seriam seis horas de espera, mas pelo menos agora ela estava em um leito e seria atendida.
Passadas duas horas, Dick não se conteve e aproveitando o descuido do segurança que foi tomar um café, penetrou na área que até então ele cuidava como um cão de guarda.
Subiu as escadas correndo nas pontas dos pés para não fazer barulho. Um pouco para não ser flagrado e um pouco para não atormentar os pacientes. Chegou no terceiro andar. Estava deserto. Total silêncio a não ser por um cadenciado gemido de dor que vinha de um dos quartos.
Não sabia de fato em que quarto estaria Fifa. Começou a procurar abrindo silenciosamente a porta de todos os quartos a sua frente. Logo a encontrou em uma cama ao pé de uma janela por onde entrava uma fraca claridade vinda da lua. A magra silhueta de sua amada esposa quase o fez chorar. Onde antes havia uma tenra e morena carne era agora localizada uma flácida e branca pele que lembrava mais um cadáver que uma pessoa doente.
Dick aproximou-se lentamente. Fifa tentou um sorriso ao ver o marido. Com muito esforço ela perguntou porque ele estava ali, o boteco devia estar cheio, ele tinha de ir ajudar Tia Tereza. Dick engoliu a vontade de cair em prantos e falou que estava tudo bem! Um amigo estava ajudando a Tia Tereza nos afazeres para que ele pudesse ir ao hospital. Não conseguiu falar a verdade para a esposa.
Súbito, Fifa contorceu-se em meio a dolorosas tossidas. Dick desesperado e sem saber o que fazer saiu corredor afora em busca de ajuda. Encontrou duas enfermeiras que lhe garantiram que já estavam indo. Ele voltou rapidamente e a encontrou em silêncio. Aproximou-se e olhou nos olhos baços de Fifa.
De-me um último beijo querido! – pediu Fifa – Não fale bobagens! –respondeu inclinando-se e beijando-a carinhosamente os secos lábios de Fifa. Um sopro quente e moribundo inflou o interior da boca de Dick. Era o último estertor de Fifa em um último beijo dado ao marido.
As enfermeiras entraram e já encontraram Fifa sem vida nos braços do marido. Com a ajuda de um familiar de outro paciente moribundo que ocupava o quarto, Fifa foi retirada dos braços de Dick e colocada em uma maca. Rapidamente ela foi levada para uma sala de cirurgia. Mesmo com todos os esforços feitos, não foi possível retirar o bebê com vida.
Dick perdera tudo em um só dia! Esposa, filho e o boteco com a promessa de uma vida melhor! Dick meio fora de sim teve de enfrentar todos os procedimentos que a morte de sua esposa e filho requisitavam. Ao amanhecer voltou derrotado ao morro do ... para dar a triste notícia a Tia Tereza.
Quando estava chegando em frente ao boteco – onde também ficava a casa deles – havia uma pequena multidão em polvorosa. Tentou entrar no boteco, mas foi barrado por um amigo que lhe disse entre lágrimas que Tia Tereza havia tirado a própria vida. Resultado do desgosto de ter perdido o negócio que sempre fora a sua vida.
Dick que estava torturado por ter de enterrar duas pessoas queridas, agora tinha mais uma perda para chorar.

continua...

quinta-feira, janeiro 13

RE-POSTAGEM 8 ou sem tempo e/ou preguiça e/ou inspiração


"ERICA"Postado originalmente em Setembro de 2008

Vinte e doze. Estou adiantado. Melhor assim.
Nunca tinha estado neste lado da cidade. Pensei que seria bem tranqüilo, mas que nada. Só para achar uma vaga para estacionar levei mais de dez minutos – imagina se não venho adiantado! -. Não queria estar ali!
Abro a carteira e releio o pequeno pedaço de papel com a miúda e redonda letra de Érica – Porque será que a letra de mulher é sempre redondinha? Ou será que não é? -. Ah! Porque fui inventar esse encontro?
Depois de ler, olho para o outro lado da rua e vejo um letreiro quase que totalmente apagado. O nome do estabelecimento bate com o do papel: Bastilha. O número também confere.
Aquele medo que o nome do restaurante me provocou quando o li pela primeira vez, aumentou ao ver a fachada. Deve haver um engano! Érica é a última pessoa que combinaria com aquela espelunca. Não que ela fosse algo espetacular. A bem da verdade ela é bem insossa e eu sinto que a odeio, mesmo sem ela ter dado motivo para isso, mas mesmo assim a convidei para sair quando estávamos no jantar na casa de Jorge, apenas para puxar papo. Não sabia o que falar para aquela sonsa e depois, tinha certeza que ela não concordaria. Como poderia imaginar que uma mulher calada e recatada como ela aceitaria sair com alguém que ela mal conhecia. Trabalhamos no mesmo escritório, mas nunca havíamos trocado uma olá qualquer.
Resolvo encarar. Atravesso a rua como quem vai para uma zona que me era proibida.
Olho novamente a placa. Não adianta é aqui mesmo! Dou uma olhada em torno. Mesas e cadeiras de plástico com logomarcas de cervejas e baners com mulheres gostosas a oferecer cerveja é o luxo da casa.
Desvio de um cão sarnento que ronda por baixo das mesas em busca de alguma migalha caída dos lanches servidos por um neurótico garçom e abro a porta de vidro escuro.
Tirando o insalubre bafo de álcool e cigarro que me recebe logo ao entrar, o interior tem uma melhor apresentação. Nenhum luxo é verdade, mas pelo menos as mesas não são de plástico e são guarnecidas com toalhas de um liláz que em nada combina com o azul das paredes.
O local está lotado. Vejo dois bancos altos e vazios em frente a um balcão de fórmica amarela que combina menos ainda com o resto do ambiente. Sento em um deles e puxo o outro para perto para guardar para a chegada de Érica. Fico torcendo para que ela não venha.
Novamente fico basbaque: Isso aqui não combina com Érica em nada. Nem comigo combina. Vou esperar um pouco e me vou, depois invento uma desculpa. Isso se ela não tiver desistido.
Érica é a secretária lá do escritório. Deve ter uns 32 ou 33. Veste-se sempre com uns terninhos de cor sóbria – o que dificulta e muito para se ter uma idéia de como será seu corpo sem eles - e sapatos pretos de salto alto. Às vezes usa brincos discretos e uma maquilagem mais ainda. O cabelo negro está sempre preso no alto da cabeça.
Peço uma cerveja para a menina que está do outro lado do balcão. Não estava muito a fim de beber, mas não iria ficar segurando os dois únicos bancos vazios e não gastar nada. Tomo um longo gole. Finalmente encontro algo de positivo naquela casa: Eles sabem como gelar uma cerveja. Mudo se idéia: estou a fim de beber.
Dou mais uns goles e fico de costas para o balcão. Olho no display do celular: 20:28h. Marcamos para as 20:30, ela já deve estar chegando meu Deus!
Fiquei observando a movimentação no salão. A impressão que tive é que aquelas pessoas todas deviam estar ali o tempo todo. Elas combinavam com as paredes, as toalhas e com o balcão que em nada combinavam. Minha investigação saiu do salão para a rua. Apesar do vidro ser escuro dava, para ver tudo o que ocorria lá fora.
Naquele exato momento parou uma moto entre dois carros que já estavam estacionados e desceu uma beldade de capacete rosa, camiseta da mesma cor e um short de brim azul. O que me chamou a atenção era as botas pretas que não combinavam com o restante da roupa. Aliás, um pequenino short também não combina com uma moto. Eu estava mais acostumado com calças e jaquetas de couro preto. Será que a combinação aqui por essas bandas é não combinar nada?
Tirou o capacete e só então percebi que ela tinha uma mochila – e essa sim combinava com o short – atravessada às costas. Com um movimento rápido tirou a mochila e colocou-a sobre o banco da moto. Guardou o capacete na mochila e tirou de lá um par de sandálias pretas que as colocou ao lado da mochila.
Acionou o alarme e soltou os negros cabelos que caíram sobre os ombros.
Como se estivesse em casa, tirou as botas e trocou pelas sandálias ali mesmo na calçada em meio às mesas de plástico. Guardou as botas junto com o capacete e repôs a mochila às costas.
Antes de entrar no bar, apertou mãos, deu abraços e beijos em quase todo mundo. Percebi que um rapaz com pinta de surfista fora de forma recebeu um rápido beijo nos lábios. Empurrou a porta e tão logo entrou vi que era muito bonita e do tipo que se chama: gostosa.
Caminhou decidida por entre as mesas. Ela sem dúvida pertencia àquele ambiente. Vez por outra parava para distribuir beijos e abraços. Além do surfista fora de forma, um rapaz sardento e uma garota com óculos fundo de garrafão também receberam os seus selinhos.
Veio em direção ao balcão...
_Oi Marcelo... Estou atrasada? Perguntou no mesmo momento em que passava o braço por cima de meus ombros e me deu um beijo na bochecha. Com a mesma agilidade de antes, atirou a mochila para a menina atrás do balcão e ao mesmo tempo, pulou para o banco em minha frente e pediu: Vodca e limão.
_Ah?... Não... Chegou bem na hora. Fiquei quase sem voz, aquela gostosa de short e sandálias pretas era Érica. Não aquela Érica secretária lá do escritório, que deve ter uns 32 ou 33 e veste-se sempre com uns terninhos de cor sóbria que dificulta e muito a percepção de como é seu corpo. Não a Érica de sapatos pretos de salto alto com seus brincos discretos e uma maquilagem mais ainda. Não a de cabelo negro preso no alto da cabeça, mas uma nova, fascinante e desconhecida Érica de camiseta rosa e short de brim azul. Uma gostosa Érica que aparentava 22 ou 23 e que tirava as botas e calçava sandálias no meio do passeio como se estivesse na intimidade de seu lar.
_O que foi Marcelo? Ela me perguntou como se eu a visse todos os dias naqueles trajes. Falei que não era nada, mas ela logo notou. Ah! Já sei... Tu esperavas que eu viesse com as mesmas roupas que uso no trabalho né? - Protestei. Não...Não... Mas não adiantava, do jeito que eu estava vestido... Apenas não estava de gravata, mas de resto minhas roupas em nada diferenciava com as que uso no trabalho.
_É verdade Érica! Desculpa-me, não me leve a mal! Falei que não havia imaginado que ela viesse com uma roupa muito diferente da usada no dia a dia. “Veja eu mesmo vim social, pensei que se eu viesse com uma roupa mais informal, como costumo me vestir fora do trabalho, tu poderias ficar meio sem graça”- menti.
_De jeito nenhum! Mas se tu preferes eu moro aqui perto, vou lá e coloco algo mais social! Não! Respondi prontamente. Prefiro você assim – falei a verdade -. Ela soltou uma gostosa risada e eu senti todo o sangue de meu corpo subir para meu rosto. Virei para a menina atrás do balcão e pedi mais uma cerveja a guisa de não deixar Érica perceber o meu rubor. A menina protestou dizendo que minha garrafa estava pela metade. Sem jeito menti que estava quente. Sem entender nada ela retirou a cerveja gelada e trouxe outra também gelada. Enchi o copo e dei um longo gole.
_Agora sim está gelada! Érica propôs um brinde. Brindamos “à noite”. Tirei o terno e abri dois botões da camisa. Não era o suficiente, ainda parecia o mesmo colega de trabalho. Desabotoei os punhos das mangas e as puxei até a altura do antebraço.
_Legal o lugar! Não conhecia, mas... Comecei um papo qualquer para quebrar o gelo. Na verdade esse gelo só fazia efeito a mim, Érica estava completamente à vontade. “Espera um pouquinho!” Ela me pediu enquanto dava a volta no balcão. Ergueu a mão e bateu com um carinhoso tapa na palma da mão da menina atrás do balcão. Abriu a torneira de uma pia que ficava por baixo do tampo do balcão e voltou. Parou em minha frente e com ambas mãos molhadas desfez meu comportado penteado e me deixou com aparência de personagem de desenho animado japonês. “Agora sim tu ta legal!” Me falou enquanto voltava ao banco.
A partir dali a noite mudou completamente. Tomamos todas e estouramos em furiosas risadas. Em pouco tempo gastei meu repertório de piadas que eu julgava serem muito sujas, mas que transformaram-se em piadinhas engraçadinhas diante das piadas que Érica contava.
A cerveja me obrigava ir ao banheiro vez que outra. Sempre que eu voltava, alguém estava conversando com ela. “Fulano esse é Marcelo. Marcelo esse é fulano”, ela nos apresentava e o fulano da vez ia de volta para sua mesa e nos deixava sozinhos com nossas piadas, gargalhadas e cervejas. Ela agora tomava cerveja, não sei se para acompanhar-me ou era como ela mesma disse: “Começo com algo mais forte, se não a tonturinha demora a bater”.
Uma mesa vagou. Fomos para ela. Cansada de piadas Érica perguntou sobre mim. Falei pouco, pois não tinha muito que falar. Estudei em escola particular, fui para o exército onde fiquei um ano, fiz administração, casei e me separei. “E tu?” Perguntei.
_Nada demais... Quase a mesma coisa! Estudei, fiz umas poucas viagens a Europa, fiz língua estrangeira, especializei-me em inglês e francês e me casei e me separei três vezes.
_Ah! Para! Três vezes? Pensei na Érica do escritório, aquela poderia ter casado e se separado três vezes, mas essa garotinha a minha frente... “Fico lisonjeada” ela disse, “mas tenho 27!” Falou vinte e sete como se fosse óbvio que alguém com essa idade já tenha passado por três casamentos.
Bebemos mais algumas até o momento em que ela me calou com um longo e lascivo beijo. O chão fugiu-me dos pés. Esqueci minha timidez e saboreei aquele beijo que deve ter durado horas – em minha cabeça é claro, pois foi de poucos segundos -.
Quando nossos lábios se desgrudaram ela me olhou com aquela cara que queria dizer: “Tá e aí?”. A princípio fiquei meio sem jeito. Olhei para os lados e vi que ninguém estava se importando se nós havíamos se beijado ou não. A lembrança de seus lábios me queimavam, a puxei-a de encontro a mim e a beijei-a - ou fui beijado, não sei -.
Ela pediu a conta e dividiu o valor em dois, mesmo com meus protestos. Pegou a mochila dizendo para a menina que estava atrás do balcão que eu era Marcelo, gente dela.
Não queria que ela fosse embora, mas estava meio confuso. A segui até a rua. Chegamos em frente à moto dela e ela me perguntou: “Vai me seguindo no seu carro ou vai na garupa?”. Vi que era observado pelo pessoal que estavam nas mesas da rua, não poderia deixar eles pensarem que eu estava dispensando tal mulherão. Puxei o ar com força para meus pulmões e dei coragem as minhas palavras que estavam tentando dizer que eu tinha um medo incrível de moto.
_Vou contigo!. Ela repetiu o movimento inverso que eu havia visto antes, tirou a sandália e colocou as botas e recolocou o capacete. Se a gente cair tu ta ferrado, não tenho capacete pra ti, falou-me enquanto subia naquela maquina de morrer.
Deu ignição e eu subi na carona. Só então me senti ridículo. Em minha cabeça masculina estava acostumado a ver mulheres irem na garupa e não ao contrário, mas no momento que meu peito colou nas costas dela- mesmo havendo entre nós uma mochila com as sandálias- me senti recompensado.
Ela acelerou umas duas ou três vezes como todo motoqueiro faz antes de arrancar, não sei se isso é ensinado em moto-escola ou vem por osmose e virou para trás perguntando: “Quer ir a um motel ou vamos lá para casa?” Não sei o que respondi só sei que acordei num quarto de motel.
A noite maravilhosa me veio à mente no primeiro momento que abri os olhos. Meu braço a buscou. Não tinha ninguém. Pensei em ligar para Érica, mas não tinha o seu número. Tomei um banho e dirigi-me a portaria para pagar o pernoite.
_ A senhora já deixou pago! Respondeu-me uma pessoa que mesmo não vendo, eu podia ver um sorriso na cara que não via.
Caminhei até o local onde havia deixado meu carro e fui para casa.
Segunda-feira, cheguei no escritório cedo e fiquei com o coração na mão esperando ver Érica. Não demorou muito e ela chegou com os seus 32 ou 33 anos, de terninho de cor sóbria e sapatos pretos de salto alto, sem brincos e sem maquilagem com o cabelo preso no alto da cabeça e uma prancheta na mão dizendo: “O Senhor Jorge está esperando o senhor para uma reunião na Sala da Diretoria.” Virou-se e voltou a sua mesa de secretária.
Naquele momento passei novamente a achá-la insossa e a odiá-la cada vez mais.

terça-feira, janeiro 4

HAI KAI I


Olho lá da sete nove
Pela minha janela
E nada me comove
Quando olho sem ela.