terça-feira, fevereiro 14

CACILDO, O EMPREENDEDOR



Conhecer? Não! Eu não o conheci, apenas ouvi a história do Cacildo. Dizem que ele chegou à cidade e se instalou em um quarto no Lord Hotel. Era um cara simpático, não chegava a ser, digamos assim: bonito! Tinha certa presença. Sempre bem barbeado, bem penteado e sempre de terno e gravata. Aliás! Dizem que os ternos eram impecáveis.
Logo no outro dia ele saiu pela cidade a procura de um imóvel para alugar, não queria coisa pequena não. Não que estivesse atrás de muito luxo, mas o que ele queria mesmo era espaço. Locou a velha mansão dos Luzardos e mandou dar uma “guaribada” no prédio.
Dias depois começou a contratar umas meninas para panfletear na cidade e logo a cidade inteira sabia através dos panfletos e do boca-a-boca que o tal Cacildo iria promover uma exposição de um rentável negócio destinado a mulheres de 18 a 35 anos que estavam dispostas a ganhar um bom dinheiro em pouco tempo e em pouco tempo de trabalho, não necessitava de treinamento, estudo e nem nada.
A noticia logo atraiu a curiosidade não só das mulheres que estavam a fim de ganhar uma renda extra como também a todo mundo. Todos queriam saber do que se tratava. Muitos ficavam horas tomando um cafezinho no Bar do Fialho que fica embaixo do hotel na esperança de que o Cacildo chegasse e deixa-se escapar algo que desse uma pista do tal empreendimento anunciado, agora não só em panfletos, mas também em uma enorme placa colocada em frente ao casarão já reformado.
Tem muita gente hoje que diz que na época ficou sabendo do próprio do que se tratava, mas querem saber? Mentira! Ele nunca soltou uma letrinha que fosse, o jeito era esperar o dia da exposição para saber o que era.
Chegado o dia, foi preciso chamar a guarda municipal pra acalmar os ânimos e liberar o trânsito de tanta gente que estava lá na frente da casa dos Luzardos.
Lá pelas dez, dez e pouco chegou o Cacildo com seu terno alinhado e abriu o portão. O pessoal se adiantou e quase que atropelam o coitado, mas ele correu e postou-se na porta da frente e pediu silêncio. Aos poucos ficou dum jeito que até zumbido de mosca dava pra se ouvir.
Então Cacildo limpou a goela com um pigarro e soltou com aquela sua voz de barítono " Só será permitida a entra de mulheres de 18 a 35 anos e que estão realmente dispostas a ganhar uma boa renda, os demais podem se retirar ou então não será possível fazermos a nossa reunião já a muito agendada. ", Rapaz... Foi um zum-zum-zum mas não teve jeito.
Lá pelo meio-dia o último insistente foi embora e Cacildo abriu as portas para umas dez dúzias de mulheres eufóricas. Elas entraram e foram para o antigo salão de festas que agora estava repleto de cadeiras plásticas. Foram se sentando e logo se viu que muitas teriam de ficar de pé. Cacildo deu boa tarde e chamou duas meninas que começaram a distribuir uns copinhos com guaraná e uns biscoitinhos.
Ele foi para uma escrivaninha de mogno já bem velha e começou a chamar uma por uma. Anotava nomes, telefones e idades, e logo ao lado fazia alguns sinaiszinhos como para identificar à entrevistada. Com umas a conversa era bem rápida e com outras já demorava mais um bocadinho. Era noite alta quando ele despachou a última candidata. Pouco se sabe o que ele falava para elas, apenas se sabe que elas seriam avisadas por telefone, se deveriam voltar para outra reunião na próxima semana ou se a "empresa" não havia se interessado por algum motivo pela candidata neste primeiro momento, mas que não desanimassem não, porque logo logo poderiam serem chamadas.
Naquela semana as mulheres que foram entrevistadas estavam em polvorosa falando umas com as outras para saberem o que ele havia dito para cada uma delas, e as que não puderam participar estavam mais malucas ainda querendo saber do que se tratava e, não me levem a mal, sou homem mais sei que homem também é curioso. O “macharedo” era só cochicho nos cantos e teve até caso de marido bater em mulher porque ela não explicou direitinho do que se tratava.
Desde o dia da primeira reunião não se via mais o Cacildo pela cidade, muitos iam ao hotel e perguntavam pelo dito e a resposta era sempre a mesma, a conta do quarto ainda estava em aberto, mas nem sinal do cara.
Naquela tão esperada semana nem era preciso perguntar quais delas haviam sido chamadas ou dispensadas, bastava olhar a cara e já se sabia só pelo sorriso de triunfo ou pela cara de emburrada.
Vai que na outra segunda pela manhã, amanheceu umas vinte e poucas mulheres na frente do casarão com suas melhores roupas e seus melhores sorrisos estampados nas caras bem maquiadas. Como da outra vez, juntou um monte de curiosos e curiosamente via-se lá longe espiando de uma esquina qualquer alguma das mulheres que haviam estado ali na outra vez e agora haviam sobrado.
Dez em ponto o Cacildo chegou em um taxi da capital. Desceu e foi logo abrindo o portão com um olhar de censura para a pequena multidão que não iria participar da reunião. Todos achavam que alguém tentaria entrar de penetra, mas foi impossível pois ele puxou de uma prancheta e começou a chamar pelo nome as convocadas que iam entrando com um olhar de triunfo.
O Vieira... sabe aquele do Cartório? Esse mesmo! Ele fez uma observação quando entrou a última: Bagulho não entra! Só entrou “muié” bonita! A concordância foi geral!
O Cacildo cerrou a porta e foi para a mesma dependência da última vez e para a mesma escrivaninha. Foi chamando uma a uma e fez nova entrevista. Agora todas levavam mais ou menos o mesmo tempo. Umas saiam com um largo sorriso e outras saiam cabisbaixas.
Nova reunião fora marcada para nova data. Das poucas informações que as derrotadas deram, soube-se que ele inquiria se realmente elas queriam ganhar uma grana, se poderia trabalhar com liberdade de horário, se eram casadas, tinham filhos, profissão dos pais, se eram desinibidas e decididas e se concordavam com os percentuais que deveriam compartilhar com a empresa e mais algumas coisas que nem me lembro mais.
A “fofocaiáda” naqueles dias que antecederam a nova reunião foi de assustar. Houve briga, apostas e palpites, mas, o que de fato era nem as vencedoras da nova eliminatória sabiam.
Novamente o Cacildo sumiu, mas vai que na sexta ele aparece e paga a conta do hotel e se instala no casarão por ele alugado semanas atrás e que serviu de local de reuniões.
Segunda pela manhã uma já conhecida multidão postou-se em frente ao casarão. Deu dez horas e nada do Cacildo e foi ai que o mesmo Viera, o do cartório falou: E as “muié bonita”, vocês viram elas aqui hoje? Nem sinal das tais "muié bonita" que o Vieira haviam apelidado e que já tinha se tornado o título popular das sortudas. Cansados de esperar foram indo cuidar de suas vidas e tudo ficou calmo.
Depois das seis da tarde começou a aparecer uma a uma das "muié bonita" e iam entrando após tocarem uma campainha de porteiro eletrônico recém instalado no casarão. Dizem que foi esse o primeiro a ser instalado aqui, mas não sei se é verdade, mas não nos percamos por isso...
Bom! o que se sabe é que depois que chegou a última, as mesmas duas meninas serviram taças de vinho e só então o Cacildo começou a falar. Disse entre várias coisas que o trabalho não era pesado e que poderia até ser bem prazeroso e que elas trabalhariam ali mesmo e com clientes de grana e de bem, que os pagamentos seriam avista e em dinheiro e que o rendimento seria de acordo com o trabalho de cada uma delas e que era um tipo de venda e que ele mesmo se encarregaria de atrair o público alvo e fazer a venda, elas só precisariam consumar a transação.
Nisso uma perguntou se era a tal da Dinastia, ele disse que não, que não era Dinastia, Herbalife ou qualquer tipo de Avon ou Hermes "da vida".
Mas o que venderemos então? Perguntou uma outra e o simpático Cacildo deu um largo e malicioso sorriso e disse: Ora minhas filhas... Não entenderam ainda, é coisa simples, eu vendo e vocês entregam ao cliente.
Drogas? Pulou uma outra lá de trás espantada, ao que ele respondeu: Ora! Não chamem assim. Vocês só terão de entregar e em puro sigilo o precioso material que vocês trazem no meio das pernas!
Verdade! Juro! Perguntem pro pessoal da época então!
Depois dessa, a última noticia que se teve do Cacildo foi que na mesma noite ele ingressou no hospital municipal com o terno rasgado, sem alguns chumaços de cabelo e com muitas lesões por todo o corpo.
Assim, pelo que eu sei terminou a carreira empreendedora do tal Cacildo e, junto o sonho de muitas daquelas moças.
Bem! Não sei se de todas, dizem por ai que uma ou outra gostou do empreendimento de fizeram o seu próprio negócio render um bom dinheiro, se é que vocês me entendem!

domingo, fevereiro 5

O que eu não faço em tua companhia...



Amo dormir em teus braços
amo que tu durmas nos meus
amo te ver se maquiando
como se fosse a primeira vez.
Amo a tua comida
amo picar para ti os vegetais
amo quando tu ficas braba
para mim ser rápido, muito mais.
Amo caminhar contigo
até debaixo da chuva
faço para ti toda mão
és para mim a luva.
Amo ver filme contigo
na tv deitado no sofá
ou na net a muita distância
estando nós dois on-line.
Amo contigo jogar cartas
ou fazer jogos de rima
lembrar a tua imagem
quando estás por cima.
Amo dançar contigo
mesmo não sabendo dançar
Amo comprar teu remédio
Amo te ver sarar.
Amo você na janela
amo te ver fumar
amo emprestar minha camiseta
amo te ver ela tu usar.
Amo contigo tomar café
Amo contigo beber
Amo toda tua alma
amo beijar os teus pés.
Amo a tua risada
amo teu jeito maluco
amo a tua beleza
que acaba com minha tristeza.
Amo te ver a correr
amo te ver a viver
amo as tuas postagens
amo tudo em você.
Sei que te amo
que te amo
te amo
amo.
Mais nada a dizer!

ADEMIR - 1

Não é quente. Também não é frio. É gostoso.
Não é claro e nem é escuro. Não tem tons berrantes ou cores reconfortantes.
Não se sabe se é feio ou bonito, pois, nada se vê! Pode ser negro como um café ou branco como o leite. Não faz diferença, quem não conhece as alturas não tem medo de grandes saltos. Quem não conhece o suplício eterno não tem medo da morte e ri do pecado assim como a criança que não conhece a dor é seduzida a colocar o dedo no fogo.
É como quando se tem uma dor que incomoda. Tipo aquela dor que não fere, apenas da uma sensação de mal estar e a gente encontra uma posição que nos faz esquecer ela. É essa a sensação que Ademir sente nesses nove meses em que ele vive – sem ainda se chamar Ademir – nesse ambiente prazeroso.
São apenas nove meses que ele vive. Apesar de não ter a noção de que tem uma vida, mas ele já sabe que aquilo que ele tem é o que de melhor ele pode ter.
Logo ele irá ter uma outra vida. Pessoas dirão que não é outra vida: É simplesmente a vida.
Ele é apenas um projeto de uma nova vida – vida assim como nós concebemos - , mas ele sente. Ouve mesmo sem ouvir, onde ele está não há sons e, ele percebe mesmo sem ter outras experiências para confrontar que ali é o melhor lugar em que ele poderia estar. Ali ele está seguro. Ali ele reina. Ali ele é “perfeito” e mais ainda: ali ele é amado.
Mas seu pequeno mundo começa aos poucos lhe negar abrigo. Aquele universo tão seu, contrai-se e o empurra para fora. O seu mundo até aqui ideal o não quer mais. Seu tempo ali terminou. Um outro mundo lhe espera.
O que virá ele não sabe, não teve com quem conversar e nem alguém para lhe dizer como será quando ele deixar aquele seu pequeno mundo.
Não quer ir. Esse é seu mundo. Não conhece outro e o desconhecido é de dar medo. Até pode ser melhor, mas quem garante?
Não... Aqui ele esta seguro e é único. Ninguém irá compará-lo com outro alguém.
Seu mundo continua a contrair-se e tenta expulsa-lo para fora. Não irá! Está resoluto. Não trocará o que lhe é familiar por outra coisa que não conhece.
Conhecer deve ser ruim! Essa é a primeira concepção que ele tem.
O conhecimento trás a razão e a razão a certeza. A certeza, fruto da razão acaba com o medo e deixa somente a razão, e a razão acaba com os mitos, as lendas e os sonhos que movem o homem. O homem só reina no mundo movido pela incerteza, ou não se sentiria desafiado a avançar e ficaria numa eterna inércia que o levaria a extinção.
Aos poucos as contrações de seu mundo vão ficando menores. Sua obstinada vontade de ficar está vencendo as vontades desse outro mundo. É a vitória do ser sobre o meio.
E ficaria ali não fosse as tenazes em volta de seu crânio puxando-o para fora
Mãos plastificadas o pegaram. Assim que a pressão em torno de sua cabeça acabou, foi erguido pelos pés e ficou de cabeça para baixo e recebeu a primeira agressão. Uma palmada nas nádegas ainda molhadas com os vestígios de seu mundo anterior.
Não havia mais volta... Chorou!
Não pela dor da palmada e nem pelo mundo que ele não conseguia ver a sua frente, mas por saber que lhe fora roubado o mundo maravilhoso que era o ventre da mãe.