terça-feira, agosto 21

RE-POSTAGEM 20 ou sem tempo e/ou preguiça e/ou inspiração

 

O anjo de Hiroshi


Ele sabia que era diferente! Olhava os seus pares e achava-se estranho, por certo seus pares o achava estranho também. Todos tinham aqueles membros emplumados, só ele não.
Nas brincadeiras todos levavam vantagens: ganhavam os ares, só ele não.
Cresceu triste. Procurou a razão de sua diferença com os seus. Ninguém soube dizer. Sonhou em ser como aquelas pequenas pessoinhas que viviam lá embaixo, que chegavam para seus pais e perguntavam: Papai porque sou assim? Mas não tinha essa chance. Ele não tinha pai ou mãe – quer dizer, tinha Um, mas não era a mesma coisa - . Pois ele era apenas um anjo.
Um dia o chamado chegou! É chegada a hora de você fazer a sua parte! – lhe disseram -. Foi jogado do céu como se asas tivesse. Viu lá embaixo um pequeno planeta azul com o qual se chocaria. Adormeceu!...
Acordou em uma sala branca com um monte de caras de roupas brancas. De dentro de uma mulher não muito branca saiu um ser que ele logo entendeu que seria a quem ele sempre deveria cuidar. Não sabia porque, mas sabia que devia.
Dali em diante ele só ficou ao lado daquele pequeno ser. Sabia que devia cuidar dele, só não sabia porque não tinha asas como os seus irmãos.
O pequeno ser não lhe deu muito trabalho. Tudo o que ele precisava, seus pais davam. Tudo era dado ao pequeno Hiroshi.
Os dias que se seguiram foram chatos, ele apenas cuidava do pequeno Hiroshi que morava em Nagazaki, pra não se machucar nas brincadeiras de meninos.
Mas ele percebia uma tensão nos pais de Hiroshi. Eles não desgrudavam o ouvido do rádio da sala que falava em uma guerra que estava acontecendo e que muitos de seus estavam morrendo por causa dela.
No dia cinco de agosto de 1945 ele teimou em soprar no ouvido do pequeno Hiroshi, dizendo que o menino deveria visitar seu avô que morava em Kobe, há quilômetros de distancia dali . No outro dia, depois do menino muito teimar, os pais aceitaram, e mandaram o pequeno para ver o avô.
Da janela do vagão, Hiroshi viu passar aviões em direção a sua cidade. Não pode ler em um deles: “Enola Gay”, mas soube que não era coisa boa que eles traziam.
Olhando para trás, o menino viu um monstruoso cogumelo surgir no local onde era sua cidade. O cogumelo cresceu, o chão tremeu, um som bizarro fez-se ouvir e passou por cima de sua cabeça, se ele estivesse a uma dezena de metros acima seria tragado pela aura demoníaca que consumiu Nagazaki.
Nesse momento, aquele anjo aleijão entendeu porque não tinha asas!
Se as tivesse, voaria e seria tragado pela bomba e teria abandonado Hiroshi. Mas não! Por estar no chão – e não voando – salvou sua vida junto com de Hiroshi!
Entendeu que alguns são diferentes, para fazer o mundo ser diferente e, não precisava fazer algo maravilhoso como voar, mas apenas fazer o que lhe era possível. E isso fazia a diferença.


quarta-feira, agosto 8



 








Depois de desligar a TV
Fui dormir em paz
Com a lembrança bela de Paes
Não era como quando garoto
Em que tinha noites de insônia
Com a lembrança sensual de Sônia.