quarta-feira, março 31

Continho miudinho 6


Tomei um chocolate quente e fui fechar a janela para dormir.
Lá embaixo alguém deitava-se na calçada sobre pedaços de papelão e cobria-se com jornal.
Cerrei a janela e as cortinas e liguei à estufa. Deitei em minha cama quente e dormi um sono frio.

terça-feira, março 30

Pequenas Crônicas de Pequenas Pessoas de Pequenas Cidades. 14


Eles apagaram as luzes para ajudar na “Hora do Planeta”!
Depois enquanto ele colocava a carne no Forno elétrico ela tomou seu demorado banho quente na ducha elétrica.
Quando chegou a vez do banho dele, ela secou o cabelo com seu secador elétrico e pôs o restante da janta no micro-ondas para esquentar, enquanto se sentia orgulhosa por terem contribuído com o planeta.

Continho miudinho - 5


_ E aí como você está?
_ Estou bem! Muito bem!
_ É...?...
_ Sim!
_ Você não está bem não! Você nunca soube mentir...
_É!..É verdade! E você nunca soube acreditar, mesmo sabendo que eu não sabia mentir.

quarta-feira, março 24

Transformação


Seixos rolados pela correnteza
Moldados pelas coisas do tempo
Não são nada comparados
As vidas moldadas
Pelas coisas da vida
E das gentes.

terça-feira, março 23

O QUE SÃO CALORIAS?

O QUE SÃO CALORIAS? "Calorias são pequenos vermes, inescrupulosos, que vivem nos guarda-roupas e que, durante a noite, ficam costurando e apertando as roupas das pessoas".
Não sei quem foi o maluco que inventou essa, mas é legal.

sexta-feira, março 19

FELIZ ANIVERSÁRIO - 2


Saiu meio tonto pela ação da fumaça dos cigarros e deu de cara com Rafael.
_Fala chefia! Já “rumei” duas das boas aqui pra nós! – e empurrou uma morena em sua direção. Ela o enlaçou pela cintura mostrando seu sorriso forçado, careado e libidinoso.
_Vou só tomar uma cerveja sozinho por enquanto.
_Deixa de frescura doutor, aqui todo mundo é igual. Como dizia aquela ministra: relaxa e gosa! – falou Rafael puxando uma falsa loira para dançar um bolero muito mal tocado pela banda da casa.
Sentou-se num canto e ficou a observar aquele ambiente estranho para ele.
Várias mulheres o olhavam e ele fugia o olhar até que tudo ficou totalmente escuro. Ele pensou que havia faltado a luz. Mas umas luzes coloridas começaram a pipocar sobre um pequeno e baixo palco e surgiu uma deusa em forma de mulher. O bolero calou e rompeu outra música. A deusa em forma de mulher e vestida de biquíni começou a dançar e todos ficaram como que hipnotizados.
Ela foi perfeita. A cada movimento da música, ela fazia movimentos com o corpo que faziam excitar e relaxar certas partes de seu corpo e ir a loucura.
A música parou e ele percebeu que ela estava sem o biquíni. Foi algo tão surpreendente que ele nem concatenava direito. Nem percebera que durante a música e a dança a deusa ia tirando as poucas peças de roupas que a cobria.
Seu olhar estava preso no rosto dela. Aquele rosto o lembrava de Vera, seu primeiro amor. Amor platônico era verdade. Mas um amor que ele nunca esqueceu.
O show terminou e a dublê de “Vera” junto. A cerveja acabou. Veio um garçom e lhe serviu outra.
_Por favor! – perguntou -. Quem é essa mulher que se apresentou?
_A Soráia? Essa do strip é a Soráia! Por que? Quer ela? Eu chamo!
_Sim! Por favor! – pediu sem saber o que estava dizendo. O garçom foi em direção à copa e entrou na mesma porta que a dançarina entrou.
A strip-Soráia-vera tanto faz, veio em um vestido curto e vermelho completado por uma sandália alta preta.
_Oi! Sou Soráia... – foi logo sentando-se ao lado dele -. Colou seu corpo ao dele e sentiu um tremido. Acostumada com todo tipo de homem nem ligou.
_Oi!... – Ficou sem saber o que dizer.
_Paga uma dose pra mim amor? – ele maquinalmente disse algo que parecia ser sim e o mesmo garçom serviu um pequeno cálice de algo que parecia ser Martine.
_Teu nome? – perguntou ela ao ver que ele nada falava.
_André! – balbuciou timidamente.
_Soráia. – repetiu fazendo de conta que estava gostando do drinque que entornava.
_Vera!... Teu nome é Vera! – cuspiu sem pensar.
_Não!... Soráia! – largou a taça na mesa olhando-o.
_Quer que eu seja Vera? Posso ser!
Ele secou o copo de cerveja e ficou olhando para o outro lado.
_Amor!... Diga o que “tu quer” e eu serei! – falou ela colando mais o corpo no dele.
Ele ficou quieto por um tempo olhando para o outro lado. Por fim teve coragem e fitou-a nos olhos.
_Tu é a Vera!
Soráia ficou muda por um tempo. Tempo suficiente para correr pelo seu passado. Tempo em que era adolescente e namorava os meninos mais espertos e desdenhava os mais quietos. Como por exemplo, o André, que ela sempre soube que era apaixonado por ela mas que não tinha pai rico, nem um futuro promissor e muito menos era ousado a ponto de seduzir a menina em seu sonho juvenil.
_Sim! Sou quem você quiser, ou o que você quiser! Basta pagar!
Ele pensou em tomar mais uma, mas apenas perguntou:
_Você não é a Vera que eu sempre amei?
_Meu nome é Soráia! – os olhos dela afirmavam que era mentira.
_Ok!...Desculpa então – os olhos dele afirmavam que era mentira.
Ele tomou mais umas duas cervejas. Procurou Rafael e soube que o moleque havia saído com uma das meninas. Uma tal Soráia...
Pagou a conta. Soube que foi roubado mas não ligou. No caminho de casa parou em um boteco e comeu um dog e tomou mais duas.
Deixou o carro não sabe se por querer ou por efeito do trago. Foi a pé e no caminho para casa foi abordado por uma menina de uns quinze anos que queria trocar um “boquete” por cinco pilas para comprar uma pedra. Bêbado como estava aceitou. Foi para um canto escuro e quando olhou para baixo e viu a menina de joelhos lembrou de suas filhas e da esposa.
Não se permitiu a tal crime e deu os cinco pilas mesmo sem o ‘serviço”,
Pensou em chegar em casa. Tomar um banho. E dormir para esperar a esposa voltar no outro dia, juntamente com suas queridas filhas.
Abriu a porta. A luz já estava acesa.
Sua esposa estava sentada no sofá da sala.
Olhou o relógio na parede. Quase seis da manhã.
_Bom dia André! Seus amigos e familiares cansaram de te esperar para a sua festa surpresa e foram embora!
_hã!...
_Fique agora com o sofá da sala...Uma boa noite!

FELIZ ANIVERSÁRIO - 1


Acordou. Seria mais um dia como todos os outros dias. Mas neste dia era o dia de receber abraços, beijos e sinceros e hipócritas parabéns. Era seu aniversário. Trinta e seis anos bem – ou mal – vividos.
Barbeou-se e pôs a roupa de trabalho.
Como fazia sempre, fez o café.
Só que hoje, Tereza o beijaria de forma diferente. Era seu trigésimo sexto aniversário. Não ligava muito para a data, mas sabia que os familiares e amigos não esqueciam.
O leite ferveu, a cafeteira deu o sinal que o café estava pronto. Foi ao quarto acordar a mulher como sempre fazia.
_Aaamoorrr! Acorda!
Tereza abriu preguiçosamente os olhos e disse: Hum...
Ela pulou da cama e correu para o chuveiro. Ele ficou parado feito bobo de pau pensando: Puta que pariu...Ela nem lembrou...
Voltou à cozinha e ficou tomando vagarosamente seu café. Ouviu a mulher chamar as duas filhas e a bagunça delas para vestirem-se para irem a escola.
Tereza chegou na cozinha vestida para o trabalho junto com as duas pequenas.
_Tomem logo o café ou vão chegar atrasadas a escola. Foi tudo o que ela falou.
Tereza serviu sua xícara e sentou-se no outro extremo da mesa.
Sem dúvida ela nem lembra do meu aniversário pensou ele. E de fato ela só tinha atenção para as meninas, até que tocou o telefone...
_Alô! – Ela atendeu. Ele não ouvia o que dizia a outra voz mas somente a da esposa a falar: Sim! Ta bem! Ahã!.
Tereza largou o telefone e olhou para ele.
_Amor... Vou ter de ir a BH. É um contrato importante que temos de fechar.
_Tudo bem! Respondeu ele mentindo.
_Vou agora de manhã e volto amanhã, lá pelas seis da tarde...
_Tudo bem! Respondeu ele mentindo.
_Tudo bem?... Tu e as meninas vão ficar bem?
_Tudo bem! Respondeu ele mentindo.
_Se bem que a mamãe queria ficar com elas hoje... Se tu não se importar...
_Tudo bem! Respondeu ele mentindo.
_Então ficamos assim! Eu deixo as meninas na escola e a mamãe pega elas no final da aula. Amanhã quando eu chegar a gente vai na Pizzaria do Pandollo que tu gosta e depois pegamos elas e voltamos pra casa!
_Tudo bem! Respondeu ele mentindo.
As meninas ficaram prontas, tomaram o desjejum e foram com Tereza para a escola. Ele ficou parado uns bons dois minutos sem saber se deixava à lágrima que teimava em cair de seus olhos ou ia atrás da esposa e a enchia de caroços.
O tempo passou. A lágrima não veio e a raiva também passou ao ver a hora no relógio de parede. Era hora de ir para o trabalho. Foi.
Chegando no escritório foi surpreendido por todos os colegas ao abrir a porta...
_Parabéns a você...Nesta data querida... – todos cantavam entusiasmados.
Só ele não estava feliz! Era seu aniversário. Um dia que ele não dava muito interesse, mas o que o magoava era a esposa e as filhas não terem lembrado!
Ao meio dia, foi a uma churrascaria com os mais chegados que faziam questão de comemorar seu aniversário.
Ganhou alguns poucos, mas sinceros presentes e muitos abraços.
Voltou para o turno da tarde e quando o expediente terminou, sentiu-se só.
A esposa amada havia viajado a negócios sem ao menos lembrar de seu aniversário. As filhas estavam com a vó e nem sequer um telefonema.
Tão logo seu carro ganhou a rua viu Rafael, o rapaz que fazia o serviço de banco. Rafael ao ver o carro do colega acenou. Ele parou e ofereceu carona.
_Entra aí cara! – Rafael estranhou mas entrou.
_Diz onde mora que eu te levo pra casa.
_Ta brincando é? Ir pra casa? Eu vou é pra Taise!
_Ta! Diz onde ela mora que eu deixo-te lá.
_Onde mora? – falou o caroneiro espantado -. Em que mundo tu moras? Taise é o cabaré que o pessoal vai!
_Cabaré? Aonde o pessoal vai? – Uma idéia que ele nunca pensou ter passou por sua cabeça.
_Ué!...Parece louco! O pessoal sempre vai na sexta de pagamento na Taise! – no resto do caminho, Rafael explicou que todos do escritório iam no dia do pagamento para o cabaré da Taise. Era como uma obrigação.
_Até o Almeida?
_O Almeida? Ele que nunca falta.
_Ué! Nunca me falaram nada! – falou surpreso e ressentido.
_Claro né chefia! Tu é o cara tipo certinho! Quem iria te convidar?
_Então fazem coisas sem que eu saiba? Quer dizer: os meus amigos...
_Dãããããããã...
Ele ficou surpreso e P... da vida. O que eles pensavam que ele era?
_E o pessoal ta lá hoje?
_Lógico né chefia!
Ele pediu para dizer onde era, que ele iria não só leva-lo lá mas iria, curtir com o pessoal na tal Taise. Fora esquecido pelos seus em seu aniversário e não queria deixar aquela data em branco.
Parou o carro em um local que nunca pararia não fosse o abandono que estava sentindo. Tirou a gravata e o paletó a pedido do moleque. Achou estranho ser apalpado a procura de armas por um gigante com cara de bandido que logo ficou com cara de amigo ao dizer: Pode entrar doutor!
Custou um pouco a acostumar os olhos com a pouca luminosidade. O som era alto e a música não era a sua preferida, mas já a conhecia de ouvir de carros que passavam em frente ao seu prédio. – será que não a conhecia de ouvir no MP10 de suas filhas? – e o que ele viu não foi nada muito diferente dos bares de beira de estrada quando ele ia a praia.
Olhar de neófito. Logo viu que havia algo diferente. Havia um ar de sedução e sexualidade no ar.
Viu que estava em meio à prostituição e isso era algo que ele sempre condenou. A garganta secou. Viu no fundo uma janelinha onde havia um letreiro sofrivelmente escrito “copa”. Foi até lá e pediu uma cerveja. Pediu cerveja porque não viu no “menu” escrito a giz na parede refri. – Viu escrito coca, mas ficou com medo de não ser o refrigerante e sim a outra...-.


continua

quinta-feira, março 18

Matador de aluguel


Necessito urgente dos serviços de um matador de aluguel
Estou com cinco vencidos e não consigo acabar com eles.

quarta-feira, março 17

Continho Miudinho 4


Ele ia descendo as escadas quando a encontrou. Beijou-a suavemente.
_Por que isso agora de querer beijar-me? - perguntou ela confusa.
Ele baixou a cabeça e continuou a descida pensando:
_Será que ela não percebe que eu sempre a quero beijar?

terça-feira, março 16

Chuva Miudinha


A chuva caiu miudinha
E você toda molhadinha
Me faz um aceno e eu fui
_Acho que tu ainda és minha.

O sol finalmente então chegou
E todo o teu corpo secou
Eu fui da mesma forma
_Pois o meu amor não acabou.

sábado, março 13

Pequenas Crônicas de Pequenas Pessoas de Pequenas Cidades - 13


Quando eles eram mais jovens, dividiam os times entre os com camisas e os sem camisas.
Hoje a divisão é semelhante. De um lado os com cabelo e do outro os sem cabelo.



Qualquer semelhança com qualquer coisa ou pessoa é meramente qualquer coisa.)

sexta-feira, março 12

Na Janela


Fico parado na janela
Com a perna engessada
Ao contrário de mim
A cidade não está parada;

Mas não sinto o glamour
De um personagem
De “Janela Indiscreta”
Sinto-me apenas como:
Um solitário, imóvel e
Sonâmbulo pateta.

quinta-feira, março 11

O pente fino


Está no ar o site www.opentefino.com.br.
O Blog do jornalista Gravataiense Rodrigo Becker.
O site é direcionado a política e economia, principalmente da cidade.

quarta-feira, março 10

Maria Gadú e Kelly Key


Maria Gadú, que surgiu na mídia – junto com sua bela música - como se fosse mágica e não existisse “jabá”, gravou Kelly Key e todo mundo achou bonitinho, ousado, criativo blá blá blá...
A verdade é que o hit não era de todo ruim. Já era bonitinho na voz de Kelly Key – que eu acho que deveria ter gravado “Tribalistas” no lugar de Marisa Monte -. No Clip então não pode haver comparação alguma, o da Kelly Key vai ser sempre melhor. É lógico!
O mesmo aconteceu quando Paula Toller gravou Claudinho e Buchecha, Caetano gravou Peninha e por aí vai...
O que eu percebo é que as pessoas têm vergonha de admitir que gostam de algo que é considerado ruim por outras pessoas que também tem medo de admitir que gostam de algo que outros consideram ruim, ou pelo menos dizem que é ruim.
É tipo aquela manjada desculpa: Eu tava “zapeando” e parei para dar uma olhadinha!
Ah ta! Sei... Para de ser hipócrita e admite que sintonizou o programa que tu querias ver e pronto. Ninguém vai deixar de ser seu amigo por causa disso, quem sabe até tu não vais encontrar mais assunto para as noites de sexta.

terça-feira, março 2

Abandono


Olha que casa abandonada
As vidraças todas quebradas
O que era jardim hoje é mato
Não tem nem um cão a guardar.

As janelas todas escancaradas
Na varanda, a cadeira quebrada
Está só, isso se vê, é um fato;
Ali ninguém deve então habitar.

Pequenos roedores habitam o sótão
Fugindo dos vagabundos gatos
E as poeiras longevas estão
Sobre a mesa em vazios pratos.

Quando chove surgem às goteiras
Seu teto em vão nada pode abrigar
Sofrem as eiras e sofrem as beiras
Quem imagina que ali inda possa eu morar.

segunda-feira, março 1

O solitário homem do farol


A solitária ilha
Não está só
Tem cravado em si o farol
Que nunca está só.

O solitário farol
Não está só
Tem como amálgama à ilha
E como companhia
O homem do farol.

É natal e na cidade as pessoas se reúnem
Ficam juntas, porque não suportam estarem sós.

O solitário homem do farol
Não está só
Tem sua ilha e o farol.

Abrirá sua única garrafa e
Brindará o sucesso de seu afazer
Abrirá um de seus inúmeros livros e
Terá uma solitária e boa leitura, e
Estará bem e muito feliz
Tem aquilo que precisa
E por isso não está só.

Já na populosa cidade
Muitas pessoas reunidas
Que não suportam estarem sós
Não estarão bem, estarão tristes,
Porque vivem juntas suas tristes solidões.