terça-feira, janeiro 24

HAI KAI 8


A minha janela
foi reclamada:
Ainda és minha?
Sim minha Amada!

segunda-feira, janeiro 23

"OVO PARTIDO" - RE-POSTAGEM 17 ou sem tempo e/ou preguiça e/ou inspiração



POSTADO ORIGINALMENTE EM 2010
Cardoso quando soube que Lígia estava grávida teve a certeza que o dia em que ela desse a luz seria o dia mais feliz de sua vida. Para ele até então o dia de seu casamento fora o dia mais feliz de sua vida, mas agora haveria outro melhor ainda. Sempre que ele olhava a intumescência do ventre de Lígia ele tinha essa certeza.
Ele nunca fizera alguma alusão daquele ventre com algo, mas no dia em que teve a noticia que o feto estava em uma posição que dificilmente possibilitaria um parto normal começou a velo como a um ovo. Um ovo que é partido ao meio para liberar a clara e a gema. Era uma imagem que não o agradava, mas que não saía de sua cabeça. Via aquela barriga como um ovo que era fendido com uma leve pancada de uma colher em cutelo e após era aberto por dois dedos estranhos que o separava em duas partes e deixava escorrer aquilo que um dia poderia vir a ser uma vida, não fosse a agressão sofrida.
Pensou até em análise para deixar de pensar naquilo, mas com o tempo acostumou-se. Barriga ou ovo tanto fazia: dali sairia sua filhinha e seria o dia mais feliz de sua vida.
Chegado o esperado dia, fumou uma carteira de Marlboro Lights, apesar de já ter largado do vício há mais de seis anos. - Achava que aquilo era o que um pai fresco deveria fazer para acalmar a espera -.
Passada uma hora e pouco, vieram informar que sua pequenina havia nascido. Ficou naquele momento o homem mais feliz do mundo. Gastou todos o créditos de seu celular a avisar a todos a boa nova. Até para seu irmão Pedro, com quem estava brigado a mais de dois anos ligou.
Levaram-no para ver a pequena Marta – nome que ela iria herdar da mãe dele – e chorou copiosamente com ela nos braços. Quis ver a esposa. Nesse momento descobriu que o dia mais feliz de sua vida na verdade não o seria. Ligia havia perecido na mesa de parto. Martinha havia dado muito trabalho e mesmo a maravilhosa e cara tecnologia não fora suficiente para garantir a vida da mãe, somente da filha. O dia mais feliz de sua vida, havia tornado-se um dia sombrio. Nuvens negras, não apenas metafóricas, mas de verdade cobriram o céu. Choveu muito no dia que seria o dia mais feliz da vida de Cardoso.
Passados velório, enterro e dias de muita chuva e choro, Cardoso estabeleceu-se em casa nova. Não conseguia viver embaixo do teto em que fora feliz.
Os anos passaram e Martinha foi crescendo. Cardoso com a ajuda de uma babá cuidou para que sua filha tivesse uma vida digna e feliz apesar de não ter a presença de uma mãe. A babá chegava cedo da manhã e Cardoso ia para o banco trabalhar, quando voltava entristecido para casa, ficava somente ele e a pequenina.
No dia em que ela completou seis anos deu uma festa com a presença de todos familiares e amigos. Até o irmão Pedro esteve presente.
Fim da tarde, com todos os convidados tendo ido embora, começou a limpar a casa que estava de ponta cabeça devido à bagunça da festa. Recolheu brinquedos, cinzeiros sujos, restos de docinhos e salgadinhos, copos e pratinhos. Lavou o que estava sujo e guardou tudo em seus respectivos lugares.
Após tudo pronto, dispensou a babá e sentou-se para fumar um merecido cigarro – desde o dia que Lígia morrera voltou a fumar com uma voracidade que parecia ser para compensar os seis anos sem fumo -.
O cigarro chamou uma dose de uísque. Serviu sem cerimônia. Voltou a sentar-se para mais um cigarro. Martinha que brincava com uma bola nova, recém ganha de uma tia acertou o copo ainda cheio de bebida que rolou sobre a mesa de centro molhando um jornal ainda não lido e a carteira quase cheia de cigarros. Cardoso pulou em vão tentando evitar o desastre.
A pequena Marta assustou-se com o movimento desesperado do pai e começou a chorar. Cardoso de joelhos no chão ao ver o jornal e os cigarros molhados virou-se abruptamente e gritou para sua filha calar a boca.
_ Chega!
O grito causou o efeito contrário. Assustada a menina chorou ainda mais. O jornal e os cigarros molhados, somados ao estridente choro e soluçar tirou o resto de paciência que habitava a cansada e confusa cabeça do pai. Levantou-se com um grito de “chega” e puxou a pequena pelo pulso. Com uma mão a prendia e com a outra dava violentas palmadas nas pernas e nádegas com o acompanhamento de novos “chega”.
Cansados, o pai parou de bater ao ver a pele branca maculada por manchas avermelhadas e a filha, parou de chorar ao ver os olhos vermelhos e insanos do agressor.
Pegou-a no colo e correu até o quarto da menina. Soltou-a sobre a cama e como um cego e louco mandou-a dormir. Saiu e bateu a porta. Estancou com as costas arfantes contra a porta recém fechada. Correu para a sala e jogou-se no sofá.
Chorou! Chorou talvez mais que a própria filha havia chorado, tentando buscar no fundo do cérebro ou do peito a resposta para a pergunta que lhe atormentava: Chorava porque havia batido na pequena Marta ou porque creditava a ela a morte de Lígia?
Algo estava partido! Algo estava entre eles fendido como se fosse uma casca de ovo.
Tentou em vão lembrar da barriga de Lígia, mas só veio-lhe a memória a maldita imagem de um ovo . Um ovo partido.

terça-feira, janeiro 17

PASSANDO OS DIAS


Um dia você me falou que muitos dias
É muito pouco para quem vai,
E um único dia apenas podia ser
Muitos dias para quem fica.

Mas a verdade é que para mim
Um minuto apenas longe
- Indo ou ficando – produz
O mesmo gosto de partir.

Se ao menos houvesse uma poção
Que fizesse esquecer
Ou uma noite tranqüila
Que pudesse adormecer
E não ver os dias passarem!

segunda-feira, janeiro 16

Toda a natureza


Desenhei na areia teu rosto
Vi nas estrelas teus olhos
Senti nas ondas teus movimentos
No sol todo o seu calor.

Senti na cerração teu suor
Na copa das árvores teus cabelos
Nos troncos tuas firmes pernas
Nas raízes teus doces pés.

Repousei em cumes como se fossem teus ombros
Deitei em planícies como em teu colo
Subi em montanhas feito os teus seios
Dormi em relvas como em teu púbis.

Senti no vento teu hálito
Na chuva a tua saliva
Em úmidas cavernas teu ventre
No trovejar o teu coração.

Não queiras então que eu te esqueças
Se és tu para mim toda a natureza.

terça-feira, janeiro 10

HAI KAI 7




Mesmo não crendo
na espera
minha guarda
continua na janela!