quinta-feira, maio 8

It's all about money



Não existe problema em se ganhar dinheiro trabalhando e legitimamente. Em se tratando de mudanças climáticas, o problema está em se acreditar na idéia repetida ad nauseam de que aquecimento global é ruim para a economia. O aquecimento global, ao contrário, se transformou em um grande negócio. Al Gore, por exemplo, terminou o ano 2000 como vice-presidente norte-americano e um milhão de dólares em sua conta bancária. Hoje, como consultor privado, possui um patrimônio estimado em cem milhões de dólares que está prestes a aumentar e consideravelmente. O homem de Uma Verdade Incoveniente já é consultor da Google, membro do conselho de administração da Apple e o mais novo sócio da Kleiner Perkins Caufield & Byers, uma empresa de capital do Vale do Silício na Califórnia que fez uma fortuna de bilhões de dólares investindo em empresas como Netscape, Amazon e a Google.

Al Gore prometeu entregar seu "salário" para a organização que preside chamada Alliance for Climate Protection, mas o anúncio é mera dissimulação. O sistema de remuneração de "management fee" levará Gore a embolsar dezenas de milhões de dólares nesta nova atividade, sendo impossível estimar que valor receberá devido ao segredo que cerca as finanças da KP. "Uma jogada brilhante de Al Gore", descreveu Jack Tankersley do Meritage Private Equity Fund. Segundo Tankersley, a personalidade que o ex-vice-presidente norte-americano hoje possui ajudará a driblar entraves regulatórios e legais para os negócios financiados pela Kleiner Perkins Caufield & Byers. "Se alguém quiser abrir uma planta de biocombustíveis no Brasil, Gore tem toodos os contatos políticos para fazer acontecer", comentou. A maioria das pessoas que conhece Gore descreve ele como uma pessoa sincera quanto ao aquecimento global, mas o fato é que o auto-denominado ex-presidente eleito dos Estados Unidos não abriu mão de andar de avião nem tampouco de consumir uma enorme quantidade de energia em sua casa, apesar da frase final do seu filme questionar o público se não era hora de mudar o estilo de vida. Como o meteorologista Luiz Fernando Nachtigall me descreveu, Gore incendiou o circo e agora abriu a loja de extintores de incêndio.
Engana-se quem acredita também que o aquecimento global é hoje um grande negócio apenas para o mercado de energia limpa, apesar de todos desejarem uma mudança da matriz energética global em favor de tecnologias mais amigáveis ao meio-ambiente. Quem torceria pela abertura de poluidoras plantas de carvão na China exceto os próprios donos das usinas ? Prova de que aquecimento global tornou-se uma oportunidade de fazer dinheiro é que as maiores empresas de finanças de Wall Street (acima) se debruçaram sobre o tema para orientar os seus clientes sobre como faturar neste novo ambiente de negócios. Edward Kerschner, do Citigroup, passou nove meses pesquisanso para elaborar um relatório de 120 páginas inttulado "Climatic Consequences" que descreve 74 companhias e 18 países bem posicionados para lucrar. Já a UBS liberou um documento de 97 páginas chamado de "Climate Change: Beyond Whether." A Lehman Bros, a partir do trabalho dos seus analistas em Londres e Tóquio, publicou um documento de 143 páginas chamado de "The Business of Climate Change" destinado aos investidores. Outro potencial beneficiário da especulação financeira acerca das mudanças climáticas é a Chicago Mercantile Exchange (CME), a bolsa de mercados futuros que já trabalha com produtos relacionados ao clima. Somente no ano passado, a CME negociou 800 mil contratos estimados em 21 bilhões de dólares relacionados ao tempo. Dois anos antes a movimentação era de apenas 2 bilhões. As opções e futuros permitem a empresas de energia, infra-estrutura e seguradoras a garantirem hedge em potenciais perdas relacionadas às condições atmosféricas. A Bolsa Mercantil de Chicago, inclusive, lançou "contratos de furacão" a fim de permitir que o mercado possa estimar o risco destas tempestades. Também o setor imobiliário tem profundo interesse econômico nos temores do aquecimento global. David Lereah, economista-chefe da National Association of Realtors dos Estados Unidos, comenta em seu livro "All Real Estate Is Local" que é uma forte tendência a aversão a locais próximos do mar e sujeitos a tempo muito severo. "Tem muita gente deixando a Flórida e buscando a segurança de áreas montanhosas.
Se as corretoras estão orientando os seus clientes, as corporações estão lucrando. Quarenta e seis das maiores corporações do planeta divulgaram na semana passada o seu "mapa do caminho" para reduzir o impacto do aquecimento global. A iniciativa chama-se Combat Climate Change (3C), iniciativa que reúne empresas da América do Norte, Euorpa, Ásia e África. Estas grandes empresas têm demonstrado interesse especial pelo chamado mercado de créditos de carbono. Nomes respeitados do mercado financeiro como o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga se envolveram no negócio. Algumas instituições financeiras também já começaram a trabalhar com créditos de carbono. O mercado é movimentado essencialmente por empresas com passado poluidor e fundos de investimento. É o que prevê o defendido Protocolo de Kyoto. Estas empresas precisam comprar créditos de carbono para compensar as emissões de poluentes que elas já fizeram, ainda fazem e estão por fazer. Em outras palavras, pago para poluir. Grandes bancos brasileiros já lançaram fundos de investimento sob a bandeira verde e inesvtiram pesado em publicidade sobre mudanças do clima. Finalmente, imprensa e mercado publicitário têm muito ainda a ganhar com os temores em torno do aquecimento global devido ao interesse que desperta no público e a causa inegavelmente simpática de que é possível frear o aquecimento global e salvar o planeta. A mais nova campanha global, aliás com filmes belíssimos e um texto extraordinário bem escrito, é da petrolífera Chevron. Em sua peça Untapped Energy , a empresa afirma que o tema é o principal desta geração e que o grupo está buscando oferecer novas alternativas no mercado porque 'todos vivemos no mesmo planeta'. O novo emprego de Gore, assim, é apenas a ponta de um grande iceberg de dinheiro que não derrete. It's all about money.
Fonte: http://www.metsul.com/ Eugenio Hackbart

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