ADEMIR - 3
Ademir ficou
alguns dias preso em uma redoma de vidro. Doía um pouquinho devido às agulhas
que colocaram em sua cabeça.
Quando
começava a sentir uma sensação estranha na barriga, que depois ele veio
descobrir que era fome, era retirado de sua redoma e entregue ao seio que o
alimentava e o confortava. Com o toque dos lábios e o roçar do corpo, percebeu
que aquela pessoa que lhe dava o peito era sua protetora. Começou a ficar mais
confiante. Fora arrancado de seu mundo, mas não estava sozinho.
Depois de alguns
dias, levaram ele para o local que era a sua casa. Ele não sabia isso, mas
sentia que era assim. O novo mundo que lhe era apresentado era muito diferente
do anterior onde ele era soberano.
Ao chegar a
sua nova casa, foi tratado com muito carinho. Novamente sentiu-se um rei até
chegar os amigos do pai.
_ Então esse é
o cara? – um dedo áspero e cheirando a algo que ele não sabia que era tabaco
tocou seu queixo.
_ Mais ou
menos... – falou Rafael sem querer falar.
_ Como??
_ É cego!
Ademir, em
seus primeiros dias de vida – ainda não tinha a noção de que tinha um pai, até
porque Rafael ficara distante o tempo todo, para desespero de Maria, sua mãe -
não sabia o que era ser cego, mas ao ouvir aquela pessoa que ele ainda não
sabia ser seu pai dizer aquilo, achou que não era uma coisa boa. Em pouco tempo
ele iria aprender que as pessoas às vezes dizem coisas que ficam gravadas a ferro
e fogo na memória de uma criança, mesmo quando ela ainda não sabe o sentido das
palavras, é que a entonação de voz tem a sua própria linguagem, que alguns
sabem decifrar melhor que os outros.
_ Isso
mesmo... Meu filho que deveria ser um novo Pelé é cego! – caiu desolado no
velho sofá da sala enquanto Maria caia em prantos.
Os amigos que
vieram para comemorar o nascimento do filho de Rafael não sabiam o que fazer.
Deveriam confortar o pai decepcionado ou a mãe em prantos? Uma coisa é certa!
Ninguém estava dando a importância que Ademir esperava ter.
O pai, a mãe e
os amigos estavam tão cegos que não viram alguém que estava ali e que não os podia
ver: Ademir.
Um comentário:
Pronto, é isso. Queremos livro com a história do Ademir. Infância, adolescência, maturidade e senescência!
Amei o Adê!
E te amo também, muso!
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