terça-feira, dezembro 11


ADEMIR - 3


Ademir ficou alguns dias preso em uma redoma de vidro. Doía um pouquinho devido às agulhas que colocaram em sua cabeça.
Quando começava a sentir uma sensação estranha na barriga, que depois ele veio descobrir que era fome, era retirado de sua redoma e entregue ao seio que o alimentava e o confortava. Com o toque dos lábios e o roçar do corpo, percebeu que aquela pessoa que lhe dava o peito era sua protetora. Começou a ficar mais confiante. Fora arrancado de seu mundo, mas não estava sozinho.
Depois de alguns dias, levaram ele para o local que era a sua casa. Ele não sabia isso, mas sentia que era assim. O novo mundo que lhe era apresentado era muito diferente do anterior onde ele era soberano.
Ao chegar a sua nova casa, foi tratado com muito carinho. Novamente sentiu-se um rei até chegar os amigos do pai.
_ Então esse é o cara? – um dedo áspero e cheirando a algo que ele não sabia que era tabaco tocou seu queixo.
_ Mais ou menos... – falou Rafael sem querer falar.
_ Como??
_ É cego!
Ademir, em seus primeiros dias de vida – ainda não tinha a noção de que tinha um pai, até porque Rafael ficara distante o tempo todo, para desespero de Maria, sua mãe - não sabia o que era ser cego, mas ao ouvir aquela pessoa que ele ainda não sabia ser seu pai dizer aquilo, achou que não era uma coisa boa. Em pouco tempo ele iria aprender que as pessoas às vezes dizem coisas que ficam gravadas a ferro e fogo na memória de uma criança, mesmo quando ela ainda não sabe o sentido das palavras, é que a entonação de voz tem a sua própria linguagem, que alguns sabem decifrar melhor que os outros. 
_ Isso mesmo... Meu filho que deveria ser um novo Pelé é cego! – caiu desolado no velho sofá da sala enquanto Maria caia em prantos.
Os amigos que vieram para comemorar o nascimento do filho de Rafael não sabiam o que fazer. Deveriam confortar o pai decepcionado ou a mãe em prantos? Uma coisa é certa! Ninguém estava dando a importância que Ademir esperava ter.
O pai, a mãe e os amigos estavam tão cegos que não viram alguém que estava ali e que não os podia ver: Ademir.

Um comentário:

Bárbara disse...

Pronto, é isso. Queremos livro com a história do Ademir. Infância, adolescência, maturidade e senescência!
Amei o Adê!
E te amo também, muso!