quarta-feira, setembro 30

Pequenas Crônicas de Pequenas Pessoas de Pequenas Cidades - 9


Ele é o cara!
Vai a todas as festas com seu cabelinho alinhado e roupas da moda. Dança todos os ritmos e agrada a todos.
Gasta logo de saída seus poucos “pilas” e fica filando um gole aqui e outro ali.
Quando ninguém mais agüenta dar golinhos ele faz a proposta:
_Me paga uma que amanhã te pago uma lá no...
E as pessoas pagam mesmo sabendo que é mentira, afinal de contas ele é o cara!


(Qualquer semelhança com qualquer coisa ou pessoa é meramente qualquer coisa.)

terça-feira, setembro 29

ESPERANDO A CHUVA


"A gente olha pro horizonte, vê que o céu está ficando escuro, as nuvens estão carregadas, logo um clarão no céu, é o primeiro relâmpago anunciando que a chuva vai ser daquelas. Olhamos para cima, vemos o forro todo manchada pela última chuva.
_Será que vai ser uma chuva forte? Será prolongada ou uma simples chuva de verão?
Não sabemos como vai ser, por isso pegamos uma panela e colocamos estrategicamente abaixo da mancha no teto. Se chover aqui dentro não molha o chão!
E começa a chuva. E logo começa a goteira, não há motivos para preocupação, se encher esta temos outras panelas e além do mais, sempre haverá a possibilidade de jogarmos a água fora e usarmos a mesma panela com o mesmo fim até que a chuva passe.
E assim fazemos: Vamos trocando de panelas, esvaziando umas enquanto outras vão ficando cheias até o momento que não conseguimos mais acompanhar o ritmo da chuva. Logo o chão está todo molhado, temos de suspender os tapetes do chão, arrastar os móveis para um canto...
Tão logo passa a chuva tomamos novamente a decisão de consertarmos o telhado para que aquilo nunca mais aconteça.
É mais ou menos assim que a questão da segurança publica é encarada no Brasil! Se é que ela é encarada, no mínimo se dá uma espiadinha nela por uma frestinha.
Nada ou pouco se fez para conter o avanço do narcotráfico e a escalada da violência, mas depois de assistirmos estarrecidos casos como o do menino João Hélio, aparecem de todos os lados “autoridades” indignadas e prontas para resolver o problema da goteira quando deveriam ao menos ter tentando fazer algo antes de começar a cair o primeiro pingo."

Fiz este comentário aqui no blog em 13 de fevereiro de 2007. Estamos em 2009 e nada ou quase nada mudou - para melhor é claro! para pior... -.
Mas o motivo pelo qual eu o postei novamente não é o narcotráfico mas, porque ele servir direitinho para o que está acontecendo no momento no RS.
As cidades e os desabrigados pelas chuvas- não os desta semana, mas das chuvas anteriores- ainda estão esperando o dinheiro disponibilizado pelo governo federal.
O dinheiro não veio ainda, simplesmente porque o desgoverno do estado do RS, o desgoverno da piromaniaca Yeda, não mandou o relatório - ou cronograma, sei lá o nome certo - informando onde e como irá utilizar o dinheiro.
Se fosse para comprar uma casa ou dividir entre os amigos, já tinham dado um jeito.
É... vamos esperar a próxima chuva com as nossas panelas em punho!

sexta-feira, setembro 25

Já tenho saudade...


Já tenho um cigarro, só falta teu fogo
Já tenho um prato, só falta teu gosto
Já tenho meus dentes, só falta tua carne
Já tenho um espelho, só falta seu rosto.

Já tenho um nariz, só falta teu cheiro
Já tenho uma música, só falta teu ouvido.

Já tenho uma cama, só falta teu sono
Já tenho minhas dúvidas, só falta teu nexo
Já tenho um abraço, só falta teu beijo
Já tenho fome, só falta teu sexo.

Já tenho um ombro, só falta teu choro
Já tenho um caminho , só faltam teus pés.

Já tenho uma tinteiro, só falta tua rima
Já tenho uma sede, só falta teu seio
Já tenho uma boca, só falta tua língua
Já tenho um vazio, só falta tu no meio.

Já tenho saudade, já tenho saudade.

terça-feira, setembro 22

Asas


Nas asas desse pensamento
Cruzo todo esse mar de sentimentos
Voando por sobre as bravas ondas
Que vão e voltam como lembranças.

As asas batem a todo o momento
Tentando deslocar como os ventos
O que não quero mais, para bem longe
Para ficar inatingível, como no esquecimento.

Ah! essa ave chamada amor...
Se atira sem medo para o primeiro vôo
Como uma águia do alto do rochedo.

Não fosse a certeza que iria voar
Assim como ela, o amor não iria se jogar
Nos braços desta sedutora cruel
Que tem nos olhos a cor do céu.

sexta-feira, setembro 18

THEDA BARA


“Beije-me sua tola”...
Diva de beleza exótica
De sedas transparentes
E fantasias de sonhos eróticos.

Com seus olhos pintados de negro
Mulher tigre, Morte àrabe
Vampira criada ao pé da esfinge
Serpente do Nilo, Carmem

Madame misteriosa, Cleópatra, Salomé
Dançariana, Julieta, Princesa do silêncio
Luz a sul de Buda, bela russa, Mulher.

“Beije-me sua tola”...
com suas palavras mudas
Dona de beleza rara
Minha Theda Bara

Mão no fogo


José Serra, governador de São Paulo, junto com outros lideres tucanos assinaram um manifesto colocando a mão no fogo pela governadora do RS, "Piroyeda Crusius". Isso vai acabar dando num monte de mãos queimadas.
Veja o texto : "A direção nacional do PSDB, os governadores eleitos pelo PSDB e os líderes partidários vêm reiterar o enorme respeito que têm pela governadora Yeda Crusius e por toda a sua longa trajetória política, construída com competência e respeito a princípios éticos. Estamos seguros de que a governadora saberá responder a cada uma das acusações que lhe são imputadas por seus opositores no Estado. Lamentamos ainda que a radicalização do quadro político no RS esteja colocando em segundo plano a importante obra administrativa do Governo Estadual, que vem buscando, com extrema seriedade, o equilíbrio das contas públicas e o resgate da credibilidade interna e externa do Estado. Com este documento tornamos pública nossa total solidariedade à governadora Yeda Crusius, ao PSDB do RS e aos nossos aliados". Assinam o documento: José Serra - Governador de São Paulo Aécio Neves - Governador de Minas Gerais Teotônio Vilela Filho - Governador de Alagoas José de Anchieta Junior - Governador de Roraima Sérgio Guerra - Senador, presidente do PSDB Arthur Virgílio - Senador José Aníbal - Deputado Federal

quinta-feira, setembro 17

Teu beijo e nossa mocidade


Não! Não me entregarei à saudade
Pois a frente há inúmeros caminhos
Há portas que fecham para outras se escancararem
Tanto quanto flores que secam para outras “florarem”.

Não! Não me entregarei à saudade
Pois me surge sempre um novo encontro
Há a partida, para ser querida a espera e a chegada.
E se não quiser voltar, sempre há outra estrada.

Não! Não me entregarei à saudade
Por isso trago sempre vivo a lembrança
De teu beijo e da nossa mocidade.

terça-feira, setembro 15

Pequena Helena e os cães


É uma noite de quinta, fria e chuvosa. Helena com seus pezinhos encharcados de menina de 8 anos para em frente a um restaurante. O chinelinho velho de número menor não é o suficiente para aquecer aqueles dedinhos que estão brancos e enrugados de tanto frio. Da mesma forma, a fina camiseta e a calça de jeans puída nada conseguem contra o intenso frio.
Lá dentro deve estar bem quentinho! É o que chama a atenção da pequena Helena, mas não só a temperatura a hipnotiza, a tv de “sabe lá quantas polegadas” e a comida que ela vê sobre as mesas a atraem tanto quanto o calor que ela imagina existir lá dentro.
Hoje ela já foi corrida de mais de uma dezena de bares e restaurantes. Os garçons, em sua maioria, são indiferentes ao frio e a fome. Tem alguns que ficam penalizados mas nada podem fazer, existem ordens a serem cumpridas, e não deixar pedintes “importunar” os clientes é uma delas.
Mas parece que desta vez a pequena Helena está com um pouquinho de sorte! O garçom não lhe ofereceu nada de comer e nem deixou ela ir nas mesas pedir um “troquinho” mas, pelo menos, deixou ela entrar um pouco e ficar ali perto da porta de entrada onde não pegava vento e dava para ela ver tv.
Ela prende o olhar e a atenção na tv. Já faz muito tempo que a velha tv que o pai comprara num brique estava estragada. Ela já nem sabe há quanto tempo não vê tv, o que dirá ver o pai! Pelo menos com o desaparecimento do pai, pararam as visitas noturnas que apavoravam a pequena Helena.
Na tv, um programa que parece não interessar aos demais lhe chamam a atenção – mais para espantar aquele cheirinho de comida quente que vem das mesas e da cozinha - e ela descobre que existe um lugar em que as pessoas tem os olhos puxadinhos e que se chama China e haverá uma festa. Ela não sabe bem que festa será essa, mas, fica sabendo pela bonita apresentadora que irá pessoas de todos os paises para disputarem um monte de jogos.
Depois de mostrar lugares bonitos e outros nem tanto, a apresentadora começa a falar dos hábitos alimentares daquelas pessoas de olhos estranhos. A pequena descobre que naquele lugar que ela não sabe onde é mas se chama China, as pessoas comem cães. Nunca ela havia imaginado algo semelhante. Ela já havia comido galinha, vaca e até porco, mas cães!?!... Sabia que as pessoas comiam rãs, faisões –que ela não tinha a mínima noção do que era – e até lesmas com uns nomes engraçados, mas cães!?!...
O programa mostra os cães sendo preparados e também as pessoas os comendo com cara de que estão adorando. Como nunca alguém havia lhe dito aquilo, ela não se contém...
_ Tio...Tio...
Um senhor com cara de poucos amigos a encara.
_ ”Quié?”
_ O senhor sabe me dizer como eu faço para ir para esse lugar que se chama China? – a pergunta não esperada faz o homem sorrir.
_ E pra que tu quer ir pra China minha filha?
_ É que lá em casa a gente só tem o Bolinha e a mamãe não vai deixar a gente comer ele, ainda mais que ele é tão pequeninho pra “nóis tudo”!

segunda-feira, setembro 14

Não se fala mais nisso

Sei que devo ter dito, pelo menos umas duas vezes: Você nunca encontrará um amor igual ao meu!
Não sei se falei isso com convicção ou se falei apenas porque achei que era uma boa frase de efeito para aquele momento, ou até quem sabe - mesmo achando que não era verdade – disse porque achava que poderia demover a pessoa que me escutava.
Apenas sei que quando falei que amava, amava de verdade! Pois não sou capaz de dizer que amo se não amo realmente de verdade. Aliás, amar só pode ser de verdade senão não pode ser chamado de amor.
Mas quando falei, mesmo não sabendo se tinha a certeza da afirmação da frase, estava falando a verdade, pois amor é impar. Não existe amor igual!
Meus amores não podem ser igualados ao de um Lancelot, um Gilliat, um Romeu, um Bentinho ou ao de um João, Pedro, José ou quem quer que seja.
Amor não se compara e nem se mensura.
Nem mesmo o amor, incondicional e eterno pela pessoa que mais amo, no caso o amor por minha Elena, não a com “H” como a de Tróia, mas com “E” como é minha mãe, pode ser comparado com o amor que senti pela mãe de meu filho ou pelo amor as namoradas que tive. Nem meus amores platônicos podem ser comparados com os amores rápidos de poucas horas em uma noite de fim de semana.
Sim! É possível amar em um único final de semana por poucas horas, em uma única noite. Já fiz isso! Quem não fez?
Amor não se mede por tempo ou intensidade. Às vezes amamos mais alguém em uma única noite que outras pessoas por muitos meses ou anos.
Amor não tem regras. Ama-se e isso é amor.
Não confundir amor com sexo. Podemos fazer sexo da forma mais maravilhosa do mundo sem amar e, amar sem nunca fazermos sexo. A diferença é que o sexo a gente pode acabar esquecendo ou lembrando lá uma vez que outra, mas o amor não. O amor à gente nunca esquece.
Pode-se até deixar de amar uma pessoa, mas, esquecer que amou, isso não!
Podemos até não perdoar a pessoa que um dia nos amou, mas nunca vamos pensar em perdoar o amor, porque o amor não tem culpa e, sem culpa não existe a necessidade do perdão.
Amor é entrega. Amar é dar aquilo que de melhor nós temos para a pessoa amada.
Podemos até dar o amor para a pessoa errada, mas o amor nunca é errado. Podemos nos enganar, mas o amor nunca se engana. O amor é maior que o amante. Por isso o amante não controla o amor. É sempre o contrário.
A razão até pode impedir uma união ou uma volta, mas a razão não apaga o amor. Como diz o poeta Abel Silva: “Se o pensamento foge dela, o coração a busca aflito”.
Amor se dá e amor se recebe, mas, não dá para dizer qual é o maior amor, se aquele ofertado ou o recebido. Amor é amor e não se fala mais nisso.

sexta-feira, setembro 11

Xote dos Poetas



Surrupiado do www.bardobulga.blogspot.com

Acessos ao Blog

Clique na imagem para ampliar
Por duas vezes parei de postar no blog mas, quando eu percebia que mesmo estando vários dias sem atualiza-lo ele continuava a ser visitado eu acabava voltando a ativa. Me sentia mal em saber que pessoas vinham até aqui e não encontravam nada novo.
A imagem acima - do site que controla o numero de acessos ao blog -, me deixa não só vaidoso, como também não me deixa ficar muito tempo sem postar.

Só em 2009 já foram 2.800 visitantes e 4.160 visitas.
Só me resta continuar com o blog agradecer a vocês que me acompanham

quinta-feira, setembro 10

Favela


Foi construindo-se a favela
Como uma grande quimera
E dia atrás do outro como novela
Foi crescendo a favela.

E misturando gente bela
No interior da favela
Com um monte de banguela
Foi povoando-se a favela.

E para enrolar o eleitor da favela
Veio um político com sua trela
Dizendo resolver nossas mazelas
E defender os direitos da favela.

Também veio morar na favela
Quem conseguia fugir de uma cela
E com o poder de parabela
Foi comandando a favela.

Assim criamos nossa favela
Um sonho meu, teu e dela.
Mas estamos destruindo a favela
Como o fogo que consome a vela

quarta-feira, setembro 9

Espetáculo de Chuva


Tava muito quente de fato
E caiu como uma luva
Esse espetáculo de chuva.

Vem pra rua, sai desta alcova
Vem se molhar, vem corra
Abandona essa modorra.

Misture nas poças da rua
A bela imagem sua
Que corre suada e nua.
Com a imagem da branca lua.

sexta-feira, setembro 4

Vazio e Sozinho



Ilustração:Mari Lopes,1999
"Homem Lendo o Jornal", 2m X 1m50
Têmpera acrílica sobre tela
Acervo da TV Cultura-SP, Brasil

O despertador o tirou de um sono cansado e conturbado na mesma hora de todos os dias. Pulou da cama como sempre fazia. A cabeça e o corpo não queriam acordar, mas era um movimento maquinal que já estava acostumado. Correu para o banheiro. Fez a barba ainda sob a água do banho e percebeu que estava cansado para o dia que o aguardava. Ainda com espuma no corpo percebeu que fazia aquilo há muitos anos a fio sem perceber que o fazia.
Tomou uma decisão que nunca havia pensado que um dia a faria. Secou-se e colocou uma roupa que não era a que normalmente colocava após o banho. Viu-se no espelho e quase achou que não era ele. Camiseta de malha branca, calça jeans e tênis.
Ligou para o escritório e disse que não iria trabalhar naquele dia. Teve medo – e não fez – de dizer que iria tirar o dia de folga. Ele, logo ele que era o patrão tinha medo de faltar ao dia de trabalho.
Para Luciana, a competente e fiel secretária disse que estava doente. Não precisou o mal que o acometia, disse apenas que não estava bem e, a competente, e fiel Luciana não perguntou nada. Não quis saber o que ele sentia, apenas ouviu suas palavras como uma ordem e pronto.
Tentou ver TV, mas nada o interessou. Saiu para a rua a pé. Aquilo era algo inusitado para ele. Sair sem o carro e sem o motorista...
Bernardo, o motorista, estranhou, mas não ponderou nada, afinal ele era pago para fazer o que o patrão mandava e não perguntar o porque das ordens do patrão. Ganhou um dia de folga. Adorou. Era dia de jogo do Grêmio e ele poderia ir para casa assistir o jogo ou encontrar-se com os amigos que não tinham nada para fazer como ele naquele dia.
Para onde vou? Foi a primeira coisa que o patrão de folga pensou. Nunca havia tido um dia de folga no meio da semana. Caminhou e descobriu uma padaria a duas esquinas de seu prédio. Nunca havia visto aquele estabelecimento, mas pelo letreiro comido pelo tempo como um nariz de uma esfinge, afirmou-lhe que ela estava ali à vida toda.
Entrou. Havia uma pequena fila. Algumas pessoas ele percebeu que eram muito conhecidas das atendentes, pois elas as tratavam pelo nome.
Quando chegou sua vez, uma menina que devia ter a idade de sua filha que ele não via há mais de duas semanas o chamou de “tu” com um sorriso encantador que ele achou até promiscuo. Como alguém que não o conhecia o tratava como se fossem amigos?
Não soube o que pedir. Tentou lembrar o que se pedia em uma padaria quando se tem fome.
A “promiscua” atendente vendo o seu embaraço perguntou se ele queria pão. Estou com fome!, foi o que saiu de seus lábios. Como ele não falou mais nada ela perguntou se ele queria um sanduíche de mortadela e queijo e uma taça de café. Aceitou.
Sentou em uma cadeira de plástico branco em frente a uma mesa de plástico branco. Acharam estranho não haver toalha, apenas um porta guardanapos com propagandas de um refrigerante e um paliteiro de qualidade duvidosa.
O inusitado desjejum foi servido pela mesma atendente. Foram colocados a sua frente o sanduíche, uma xícara de café e um açucareiro. Ele só usava adoçante, mas ficou em dúvida se não seria grosseiro pedir para trocar. Adoçou o café e o provou.
Aprovou! Deu uma pequena mordiscada no pão com queijo e mortadela. Mortadela... Até que não era ruim. O pessoal da fabrica deve adorar a mortadela que é servida no café no turno da noite. Parece ser até melhor que presunto...
Saiu sem saber para onde ir. Parou em frente a uma banca de jornal. Não havia lido nenhum periódico aquela manhã. Não sabia de nada que estava acontecendo no mundo das finanças e da política. Comprou o jornal que sempre lia. Sentou-se em um banco na primeira praça que encontrou. - Nem sabia que havia aquela praça ali tão perto.
Seus olhos correram por todas as páginas, mas não leram nada. Por mais que tentasse sua cabeça não acompanhava seus olhos. Lia as palavras, mas não consegui coloca-las em uma ordem lógica. Folheou o jornal sem prestar atenção em nada até parar em uma página com vários desenhos bobinhos que ele nunca olhava.
Leu as tirinhas de uns tais de Laerte, Iotti e Maurício e deu gargalhadas que estavam represadas desde a infância. Entendeu – ou achou que entendeu – o porque seus funcionários liam aquilo e riam. Ficou com vergonha, não por ter entendido, mas por estar lendo aquilo.
Deixou o jornal no banco e saiu a caminhar sem rumo pelas ruas da cidade. Passou por ruas que ele sempre passava com seu blindado e viu o que ele nunca via. Casas lotéricas com suas filas intermináveis, pequenos bares com pastéis e croquetes em meio a balas e chocolates baratos, brechós com roupas de todos os tipos e gostos, salões de barbeiros com conversas animadas, lojas de roupas, livrarias, farmácias, óticas, sapatarias até encontrar uma nova – pelo menos para ele – praça.
Escolheu um banco e sentou. Nos brinquedos do playground a meninada fazia a festa enquanto babás, mães e tias liam romances surrados ou conversavam animadamente.
Lembrou da filha. Tudo o que ela pedia ganhava, mas não lembrava de ver sua filha com a mesma alegria que havia estampada na cara daquelas crianças. Eram apenas gangorras, balanços e escorregadores e não a Disney, a Europa ou um carro novo que ele dera a filha, e mesmo assim elas estavam em êxtase.
Depois de muito tempo a barriga o lembrou que era a hora do almoço. No trabalho a hora de comer era após a reunião ter terminado ou algum negócio ter sido consumado. “A fome vem só após a obrigação” aprenderam com seu pai.
Viu que muita gente comia algo comprado em uma “carrocinha” no meio da praça, mas teve medo. - Vai lá saber o que eles estão comendo!
Do outro lado da rua tinha um restaurante chamado “Saigon”. Era movimentado. Devia ser boa a comida. Dirigiu-se para o tal “Saigon” e pediu o prato do dia, não porque era o que ele queria, mas porque ouviu o pedido do senhor que ele achou “bem apessoado” que estava a sua frente na fila.
Arroz, feijão, massa com molho de carne, batata frita, um bife estranho, alface, tomate, pepino e repolho. O cheiro era bom.
O senhor “bem apessoado” sentou em uma mesa dois lugares com uma toalha de plástico transparente não muito nova.
Com licença, ele pediu e o tal senhor não falou nada que o proibisse. Ele sentou.
Depois de umas boas garfadas na comida que ele achou deliciosa, ele puxou assunto sobre o tempo... Será que chove?. Seu “bem apessoado” companheiro de mesa só respondeu algo com os ombros que ele não entendeu. Resolveu terminar a refeição em silêncio.
Após o almoço voltou para a praça e ficou a observar as crianças nos brinquedos e a fumar um cigarro atrás do outro até perceber que não havia recebido nenhuma ligação. Tateou os bolsos e percebeu que havia esquecido o celular. Ficou a principio preocupado, mas com o tempo achou bom o esquecimento. Não estava com vontade de receber ligação de ninguém mesmo, pois seriam só preocupações referentes ao trabalho e hoje, ele decidira que não iria trabalhar.
Olhou para o outro lado da rua e viu um cinema. Era um dos últimos que existia fora dos shopings. Não leu nem o título do filme. Comprou o maior pacote de pipocas que havia e assistiu ao filme como assistia em sua época de guri lá no interior.
Após o filme vagou pelos sebos a rever velhos quadrinhos e foi a uma exposição itinerante de fotografias em um ônibus na praça central. Saiu comprou um picolé e vagou pelas ruas que ele só conhecia de nome ou de dentro de seu carro blindado.
Parou em frente a uma banca de jornal e comprou de um impulso uma revistinha da Mônica e riu novamente como criança sentado em um banco de um ponto de ônibus entre um maluco e um vendedor de DVDs piratas.
A luz natural começou a rarear e as públicas junto com os letreiros das lojas o fizeram perceber que estava anoitecendo. Não sabia muito bem onde estava e passou a perguntar onde estava. Um menino que vendia balas explicou aquele senhor perdido onde era o endereço que ele queria encontrar. Não havia vendido muito, pois a concorrência era grande, mas a gorjeta daquele “perdido” valeu a pena.
Chegou de volta ao seu apartamento. Estava tudo escuro. Não acendeu a luz. Tirou a roupa pouco usual ali na sala mesmo. Foi para o banheiro tomar um banho e chorou junto com o chuveiro ao perceber que de nada adiantava ter “tudo” se estava vazio e sozinho.

quinta-feira, setembro 3


Chave-ei meu coração
“Masmorre-ei” este impulsivo
Me devolvi a madrugada

Deixei o louco no peito cativo.