ADEMIR - 2
As mãos
plastificadas o depositaram sobre dois macios, suados e fartos seios.
Aquele mundo
só seu ficou para trás. Ele soube naquele instante que não haveria volta. Teria
de encontrar o seu porto seguro e, sem dúvida seria ali naqueles seios macios,
suados e fartos que ele iria se proteger. Estava sedento e foi deles que ele se
fartou. Sentiu-se seguro.
Algum cheiro
ou simplesmente o contato de seus lábios com aqueles seios o fez perceber que
não estava só naquele mundo novo. Aquele ser que o alimentava e o segurava com
tanto carinho era o mesmo ser que lhe deu abrigo até o momento em que fora
arrancado de seu mundo. Sim! Sentiu-se seguro.
Mas logo foi
retirado de sua segurança e foi exposto a várias mãos estranhas. Elas não
tinham o intento de o machucar e ele percebia que não eram para fazer-lhe mal.
Os donos das mãos estranhas estavam certificando-se se estava tudo bem com ele.
Mas não
estava!
Em uma sala
ali próximo, um homem, alto, negro e forte apesar de manco, estava entre a
preocupação e a felicidade. O homem era
Rafael. Vinte e dois anos, motorista e ex-jogador de futebol.
Foi um dia uma
grande revelação do esporte, pronto para despontar, não fosse uma entrada
severa que recebera numa final da segunda divisão que lhe estragou o joelho
para sempre.
Depois de
muitos meses em tratamento, Rafael ouviu do médico a frase que quase acabou com
sua vida...
_Infelizmente
o senhor não poderá mais jogar futebol!
O seu grande
sonho de conquistas que ele acalentava desde menino estava acabado. Não seria
um novo Pelé. Depois de meses de angustias começou uma “carreira” de motorista
de taxi. Mas agora tudo podia mudar. Se ele não podia ser o novo Pelé, o seu
filho, recém, nascido o seria.
Rafael já se
via nos campos treinando o filho para ser o grande “rei da bola”. O que ele não
foi, seu filho seria!
O médico que comandou o parto veio falar com
Rafael e disse-lhe para esperar um momento! O médico respondeu ao afoito pai que
sem dúvida era um menino, mas, devia aguardar mais uns minutinhos antes de ver
o filho. Rafael não era marinheiro de primeira viagem, já tinha duas filhas e
sabia que aquilo não era normal, mas o médico lhe garantiu que não era nada
para se preocupar...
Rafael não se
conteve em ficar ali parado. Desceu correndo pelas escadas e foi ter com seus
amigos e parentes que o aguardavam em frente ao hospital.
_Um menino! Um
menino! Um novo Pelé! Um novo Pelé! – gritava o orgulhoso pai.
Os amigos o
abraçaram e o levaram para um boteco ali em frente para beber em homenagem ao
novo Pelé.
Várias
cervejas foram abertas em homenagem ao grande craque que havia surgido. Rafael
tinha a certeza que seu filho seria uma grande estrela do futebol.
_É um
brasileiro... E brasileiro é boleiro! – bradava Rafael – Deixa o basquete prôs
gringos. Deixa a ginástica prôs russos, nós brasileiros somos do país do
futebol.
Cida a
cunhada, apareceu no boteco e chamou Rafael. Rafael não deu nem bola. Cida
chamou novamente e Rafael foi ter com ela.
_O Doutor quer falar contigo...
_O que foi
cunhada?...
_Não sei
Rafael!... É melhor ir lá falar com ele!...
Rafael tentou
pagar as bebidas, mas os amigos fizeram questão de pagar em homenagem ao grande
craque que veio ao mundo.
Poucos minutos
após, retornou um triste Rafael dizendo:
É cego!... Meu
filho é cego!
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